Estilo de vida
05/02/2014 às 10:17•2 min de leitura
A corrida contra o tempo para aproveitar um órgão recém-doado em um processo de transplante é algo bastante delicado. Existem algumas formas de preservá-lo melhor por algum tempo, mas não muito. Então, como manter um órgão vivo, fora do corpo, por um período mais prolongado e sem que isso o prejudique?
De acordo com um artigo do Al Jazeera America, um novo equipamento médico está fazendo esse trabalho com louvor. Basicamente como uma pequena UTI portátil, o sistema de cuidados de órgãos (OCS) se tornou um grande aliado para os especialistas em transplante e, claro, para os pacientes.
Fonte da imagem: Reprodução/Al Jazeera America
Por exemplo, no caso de um transplante de pulmão — como o que foi divulgado no artigo —, o aparelho mantém o órgão com sangue circulando e oxigenação regular. Ou seja, o pulmão do doador continua, de certa forma, “respirando” dentro do recipiente do sistema.
O que é especialmente interessante sobre o procedimento é que ele também pode ser usado para melhorar pulmões doados que têm algumas imperfeições, aplicando antibióticos e nutrientes que ajudam na recuperação e vitalidade. É como renovar um órgão levemente prejudicado. Com isso, é possível aproveitar mais pulmões doados, aumentando o número de transplantes e vidas salvas.
Comparação do pulmão doado, à esquerda, e do pulmão doente Fonte da imagem: Reprodução/Al Jazeera America
A equipe do site Al Jazeera America foi até o Instituto do Coração e Pulmão do Hospital St. Joseph Medical Center, em Phoenix, nos Estados Unidos, para conferir a utilização do equipamento. Eles puderam observar como o OCS manteve os pulmões de um doador respirando mecanicamente após a sua remoção do corpo.
Segundo Shini Somara, que fez a visita ao hospital, o OCS parece superar vários obstáculos enfrentados pelos métodos convencionais de transplantes. Primeiro porque os pulmões imperfeitos podem ser recondicionados através de medicamentos, aumentando a lista de dadores (como já foi dito anteriormente).
Além disso, essa “revitalização” também poderia ajudar em um segundo problema: a demanda muito maior que a oferta — uma das principais razões pelas quais a receptora de um pulmão, Victoria, concordou em ser entrevistada pela equipe, a fim de ilustrar a necessidade desesperada de doação de órgãos e encorajar mais pessoas a se inscreverem como doadoras.
Fonte da imagem: Reprodução/Al Jazeera America
Shini acompanhou todo o processo de transplante de Victoria, desde a chegada do órgão do doador até a recuperação pós-cirúrgica da mulher. Confira abaixo o relato da jornalista da equipe sobre o transplante e o uso do OCS:
O som dos pulmões em respiração mecânica era surreal, e nós seguimos estes órgãos até a sala de operações. Uma vez que os cirurgiões estavam prontos para fazer a troca, eles colocaram os velhos pulmões de Victoria do lado do novo pulmão. A diferença era como noite e dia. Os velhos pulmões eram pequenos, frágeis e cheios de depósitos de carbono negro, enquanto o seu novo pulmão era grande, rosa e fofo.
Eventualmente, ambos os pulmões foram transplantados e era hora de permitir totalmente o fluxo de sangue através desse órgão e do coração. Nesta fase, os câmeras e eu fomos autorizados a chegar um pouco mais perto. Foi quando eu testemunhei algo milagroso: o coração de Victoria estremeceu quando a onda de sangue irrigou o novo par de pulmões.
Os médicos correram para a ação, alcançando um instrumento elétrico que regula os batimentos cardíacos de Victoria. Mas o coração dela voltou a funcionar naturalmente, sem intervenção.