Mais 10 casos inacreditavelmente insanos de histeria em massa

08/06/2018 às 13:368 min de leitura

Se você acompanhou e gostou da nossa lista de dez casos de histerias coletivas e ficou com um gostinho de quero mais, não precisa ficar histérico. Abaixo você vai conhecer mais alguns casos desse complexo fenômeno sociopsicológico.

Mas, antes de começarmos, vamos recapitular o que é histeria coletiva, também conhecida como histeria epidêmica ou doença psicogênica de massa: trata-se de um distúrbio que afeta um grupo de pessoas que passa a apresentar sintomas, perturbações ou reações semelhantes, de forma solidária a qualquer fato, imaginário ou exagerado.

Na lista abaixo, conheça outros casos bizarros desse fenômeno intrigante e contagiante que desafia a medicina sobre uma resposta conclusiva. A causa exata dessa patologia permanece um mistério.

1. O caso das freiras que miavam

Fonte da imagem: Juaned

Durante a Idade Média, um caso desconcertante de histeria em massa ocorreu em um convento na França. O incidente começou com uma freira miando como um gato e, pouco tempo depois, o resto do convento. O grupo de mulheres se reunia para miarem juntas por várias horas em períodos específicos durante o dia.

Os incessantes berros deixaram os moradores na vizinhança perplexos e enfurecidos. As freiras só pararam de miar sob ameaça de serem chicoteadas, depois que soldados foram enviados para o convento.

Um outro caso semelhante também ocorreu em um convento na Alemanha, quando uma freira começou a morder suas companheiras. Posteriormente, desencadeou-se uma epidemia sangrenta que se espalhou para outros conventos distantes. O comportamento bizarro das freiras poderia ser atribuído à intensa crença naquele período no sobrenatural. Além disso, por terem a sua vida religiosa em total clausura e sob rígidas regras, eram pessoas vulneráveis a episódios de histeria.

2. O Grande Medo

Fonte da imagem: ListVerse

No início da Revolução Francesa, um pânico geral atingiu os camponeses, depois de terem ouvido rumores de um suposto plano aristocrata de usar bandidos para saquear suas aldeias e campos. A paranoia fez com que os habitantes vissem perigo em qualquer coisa, e até mesmo animais dos rebanhos foram confundidos com bandidos.

Para se protegerem, os moradores formaram milícias armadas, realizando patrulhas por conta própria e que só agravou o problema. As próprias milícias eram frequentemente confundidas com bandidos ao realizarem caminhadas próximas de aldeias vizinhas. Se isso por si só não bastasse, alguns grupos armados ainda incendiavam casas e campos pertencentes à nobreza local.

Somente quando ficou claro que não havia nenhuma conspiração aristocrática que os camponeses se acalmaram. Porém, essa reação deixou a classe dominante com tanto medo dos camponeses que eles apressadamente promulgaram uma série de reformas para acalmá-los. Com efeito, o caso batizado de “Grande Medo” tornou-se o catalisador que aboliu a antiga ordem social da França – um acontecimento que mais tarde refletiu em todo o mundo.

3. O ataque alienígena de 2002, na Índia

Fonte da imagem: Troll.me

Apenas um ano após a histeria do homem-macaco assassino ou “Man of Delhi”, um outro ser misterioso entrou em cena, também na Índia. Conhecido como o "muhnochwa", ou  “face scratcher” (arranhador de rosto), o ser supostamente originou-se no norte do estado indiano de Uttar Pradesh.

Suas vítimas apresentavam sinais de arranhões, às vezes profundos, e queimaduras. Na maioria das vezes o rosto era o mais atingido, porém, outras partes expostas do corpo, como braços e pernas, apresentavam as mesmas marcas. A criatura também foi acusada da morte de meia dúzia de pessoas.

Os moradores ficaram revoltados com a polícia, acusando-a de não proteger a população. Por conta disso, os cidadãos formaram grupos de vigilância com o objetivo de capturar a besta. A agitação se tornou tão difundida que o governo nacional teve que intervir e enviar agentes para investigar o caso.

Antes da investigação, havia teorias bizarras sobre as origens do muhnochwa. Uma delas era a de que a polícia acreditava que o muhnochwa era um tipo de drone usado por agentes paquistaneses para espionar as pessoas. No entanto, os cientistas que investigaram o caso explicaram que o temido muhnochwa não era nada mais do que um fenômeno natural, conhecido como relâmpagos globulares ou ball lightning, que ocorre muitas vezes durante longos períodos de seca e pode queimar ao entrar em contato com a pele humana. 

4. O tumulto dos caçadores de cabeças

Fonte da imagem: ListVerse

Em algumas áreas remotas da Malásia e Indonésia surgiram boatos de que o governo havia sancionado caçadores de recompensa para procurar cabeças que seriam usadas como pilares para novos edifícios ou pontes. O pânico atingia o seu auge sempre que uma nova estrutura ia sendo construída nas proximidades.

O Primeiro Ministro da Indonésia, Soetan Sjahrir, contou como tais rumores paralisaram sua aldeia em Banda, em 1937. As ruas ficavam vazias, com as pessoas se entrincheirando em casa até as 19h. Histórias de sons e visões estranhas só aumentavam a paranoia; alguns contadores de histórias compartilhavam seus supostos encontros e escapadas dos caçadores de recompensas.

Outro susto ocorreu em 1979 em outra ilha, desta vez em Bornéu. Os moradores se tornaram paranoicos após rumores de que o governo estava raptando pessoas com a finalidade de fortalecer uma ponte nas proximidades. Um toque de recolher foi imposto, as escolas locais fecharam e patrulhas foram formadas. Para especialistas que analisaram os casos, os rumores de “caçadores de cabeças” é essencialmente um medo que reflete uma relação ideológica desconfortável entre tribos e seu governo, ocorrendo de tempos em tempos.

5. A epidemia de contorções de Louisiana em 1939

Fonte da imagem: ListVerse

Durante a primavera de 1939, uma escola em Louisiana registrou um enorme caso de  contorções entre estudantes do sexo feminino. A epidemia começou depois que uma garota experimentou espasmos incontroláveis em sua perna direita, durante a dança anual do baile da escola.

Os ataques de espasmos da menina pioraram consideravelmente durante as semanas seguintes e, menos de um mês depois, suas amigas e colegas de classe também começaram a ter espasmos episódicos. O tumulto piorou quando os pais dos alunos, desesperados com a situação, levaram seus filhos para longe da escola; o que culminou em boatos de que se tratava de uma doença contagiosa. Demorou uma semana para que as coisas finalmente se acalmassem.

O que teria causado o ataque de contorções? Foi alguma coisa na água? No ar? Para os pesquisadores que estudaram o caso, tudo não passou de uma tentativa de uma menina apaixonada de chamar a atenção. A paciente zero, chamada Helen, era uma dançarina ruim e estava constantemente preocupada em perder o namorado para uma caloura mais hábil na dança.

Eles concluíram que o subconsciente de Helen resolveu o problema, produzindo uma contração dolorosa na perna e que também lhe permitiu ser dispensada de tão odiada aula de dança. Basicamente o cérebro de Helen matou dois coelhos com uma cajadada só!

6. O assustador caso do “beijo do inseto”, de 1899

Fonte da imagem: ListVerse

Apesar de seu apelido romântico, originalmente “Kissing Bug” (ou beijo do inseto, em tradução livre), ele não era nada disso. Na verdade, o termo foi cunhado por um repórter sem escrúpulos, e a história – ou hoax – conseguiu alcançar notoriedade nacional nos Estados Unidos em 1899.

James McElhone, um repórter do Washington Post, soltou a imaginação para explicar um caso estranho de pessoas que apareciam com marcas em volta da boca, atribuindo a causa a um tipo de inseto. Ele escreveu uma história sensacional sobre como as vítimas tinham sido "fracamente envenenadas" e como os insetos poderiam iniciar uma nova praga.

Desnecessário dizer que a história desencadeou uma série de pânicos em todo o país. Em pouco tempo após a manchete, todos os casos de ferimentos no rosto foram atribuídos ao “beijo do inseto”. Em um dos casos, uma mulher ainda descreveu o ataque como mais semelhante à mordida de um vampiro do que o de um inseto – felizmente essa história não teve muito crédito, senão seriam duas as histerias coletivas!

Nas ruas, até os mendigos se precaviam usando ataduras, enquanto alguns oportunistas reivindicavam uma suposta cura para a epidemia, necessitando apenas de ajuda financeira – nada novo, não é mesmo? Entretanto, nenhum inseto beijoqueiro real foi pego em flagrante; entomologistas, naturalmente, alegavam que a coisa toda era nada mais do que "uma epidemia de jornal”.

7. As possessões demoníacas de Loudun em 1632

Fonte da imagem: ListVerse

Um dos mais famosos casos de possessão em massa da história da França aconteceu, como você pode imaginar, em um convento de freiras. As supostas possessões em Loudun começaram em 1632. Freiras da ordem religiosa das ursulinas alegaram que seu pároco e diretor religioso, Urbain Grandier, ordenou demônios para possuí-las, a fim de torná-las mais flexíveis para suas propostas sexuais.

Os resultados dos exorcismos das freiras e, posteriormente, o julgamento de Grandier, foi tão sensacional que milhares de pessoas compareciam. O acontecimento foi tão grande que atraiu até a atenção do rei Luís XIII e do Cardeal Richelieu. Dois anos depois, Grandier foi considerado culpado de bruxaria e pacto com o demônio, sendo queimado vivo. Justiça feita, certo?

Contudo, a verdade parece ter sido outra. As possessões podem ter sido parte de um plano arquitetado com o intuito de expulsar Grandier do seu cargo na paróquia. Grandier era considerado um homem atraente, rico e com uma boa educação, além de ter boas ligações e grande importância no circulo político. E isso, era (ou é) a receita para atrair inimigos.

Entre os seus adversários estavam incluídos outros padres e bispos, que viram o caso como a oportunidade perfeita para desacreditar Grandier. O chefe das freiras, Jeanne des Anges, também aproveitou a atenção para promover sua própria carreira no convento. Mesmo o interesse real no caso tinha conotações políticas (Grandier tinha ofendido o cardeal Richelieu). Seja qual for a razão exata, a morte de Grandier não impediu as possessões de continuarem até 1637 e se tornou uma espécie de atração de circo. 

8. O pânico da gravidez fantasma

Fonte da imagem: ListVerse

Uma forma extremamente rara de histeria em massa acorreu com os pacientes de um hospital psiquiátrico de Londres, no início de 1970. Tudo começou quando uma estudante de 17 anos de idade, chamada Louise, confidenciou a seus companheiros pacientes que estava esperando um bebê.

Essa afirmação, contudo, era falsa. Antes da sua admissão, Louise tinha um histórico de comportamento de exagerada busca de atenção, além de haver tido uma vida bastante promíscua. Contudo, sua condição piorou depois que ela soube da gravidez de sua melhor amiga e posterior morte após o parto.

Essa experiência traumática, concluíram os peritos, a fez experimentar sintomas de uma gravidez (ou gravidez fantasma; psicológica) como um medo pessoal das consequências do sexo sem proteção, ou como uma forma de se identificar com seu melhor amigo falecido.

Seja qual for o caso, a personalidade incrivelmente convincente de Louise foi o suficiente para desencadear um pânico de gravidez entre o resto dos pacientes do sexo feminino. Poucos dias depois de Louise revelar sua suposta gravidez, outras pacientes (incluindo uma sem histórico de atividade sexual) ficaram com medo de também estarem grávidas. Isso tudo causou um tumulto nas enfermarias. Somente através de constante reafirmação de que eles nunca estiveram grávidas é que as mulheres finalmente se acalmaram.

9. O medo da Coca-Cola contaminada, de 1999

Fonte da imagem: ListVerse

A ameaça mais séria ao virtual monopólio da Coca-Cola na Europa começou em junho de 1999, quando mais de 100 estudantes na Bélgica teriam adoecido depois de degustar a bebida. Em uma investigação preliminar, foi determinada a proibição da venda do produto em vários países europeus, causando prejuízos na ordem de 200 milhões de dólares à Coca-Cola.

Embora o exame dos lotes contaminados tenha mostrado contaminação (dióxido de carbono e fenol foram encontrados), dois cientistas belgas especularam que os contaminantes presentes estavam em quantidades insuficientes para causar danos reais; para eles, o incidente foi principalmente "um caso de histeria em massa ", impulsionada, em parte, por casos anteriores, como o da doença da vaca louca e produtos de origem animal contaminados com dioxinas.

A investigação organizada pelo Alto Conselho de Higiene da Bélgica (semelhante à nossa ANVISA), em março de 2000, corroborou essas alegações e afirmou que a maioria das vítimas sofreu uma "doença psicogênica de massa".

10. A coceira “Bin Laden”

Fonte da imagem: ListVerse

Em um período que vai de outubro de 2001 a junho de 2002, milhares de estudantes, principalmente do período elementar, estavam sendo atingidos por uma erupção cutânea que aparecia sem causa conhecida. A erupção poderia durar de algumas horas até duas semanas e, em seguida, desaparecer tão misteriosamente como surgiu. Sob o impacto dos recentes ataques de 11 de setembro às torres gêmeas do World Trade Center e do medo de ataques com antraz, era este um caso de sucesso de bioterrorismo?

A resposta para essa pergunta: sim e não. Enquanto erupções cutâneas sempre são endêmica nas escolas, os temores de um ataque bioterrorista fez os estudantes prestarem mais atenção à sua pele; e também levou enfermeiras das escolas a informarem um maior número de casos do que o habitual.

Funcionários dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças também observaram que alguns alunos deliberadamente esfregaram lixas na pele, em uma tentativa de ficar em casa para não irem à escola. O caso ganhou até um termo, o "Bin Laden Itch" (ou coceira do Bin Laden) – embora, em última instância, inexistente – e foi um enorme sucesso em provocar uma histeria em massa.

Bônus: A histeria do abuso infantil na creche

Fonte da imagem: ListVerse

Nos idos dos anos 1980-90, um caso provocou furor das pessoas por conta de uma denúncia fantasiosa e que ganhou destaque devido ao abuso da mídia em propagar boatos, contribuindo com a histeria em massa. Trabalhadores de uma creche, no condado de Kern, Califórnia, foram acusados de realizar rituais satânicos e outros abusos com as crianças.

Entre as fantásticas afirmações está a de que as crianças eram forçadas a assistir cenas de execuções ao vivo, estupro, tortura e todo tipo de material com conteúdo violento. Nenhuma evidência de tais atos foi encontrada e é desnecessário dizer que praticamente todos os acusados foram posteriormente absolvidos – porém não antes de passar um bom tempo na cadeia e terem suas vidas essencialmente arruinadas.

E qual foi a causa dessa histeria, em primeiro lugar? A resposta pôde ser encontrada nos próprios pais. Como se tornou mais comum para ambos, marido e mulher, trabalharem fora de casa, eles tinham que confiar os seus filhos para a creche – isso gerou um acúmulo de ansiedade e culpa.

Os funcionários que trabalham nas creches, de fato, tornaram-se os bodes expiatórios perfeitos para os pais, “ajudando-os” a ignorar suas próprias falhas. Acrescente a isso os falsos testemunhos, vergonhosamente coagindo as crianças a reforçarem as denúncias, e aí está: a receita perfeita para o equivalente a “caça às bruxas medieval” em pleno século 20.

*Publicado originalmente em 20/03/2014.

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