Artes/cultura
05/04/2019 às 05:00•3 min de leitura
Certamente você já ouviu alguém dizer que teve uma experiência sinestésica, sendo capaz de sentir o gosto de alguma cor ou ver o som de alguma música. Em um primeiro momento, estranhamos essa mistura bizarra de sentidos, principalmente se ela nunca aconteceu conosco, mas, apesar do espanto, ela existe.
Para início de conversa, você precisa entender que sinestesia é uma espécie de função pouco usada (mas existente) do cérebro, que liga sentidos de maneiras incomuns. Por isso uma pessoa pode vir a sentir o gosto de uma sinfonia ou a escutar uma cor de parede, por exemplo.
“É quase como se houvesse alguma conexão excessiva, ou uma conexão anormal entre as áreas sensoriais que são normalmente separadas”, explicou Dr. Oliver Sacks à American Public Media.
Cada pessoa experimenta a sinestesia de uma maneira diferente, e o mesmo vale para a frequência – pode ser uma vez na vida ou bem mais do que isso. Geralmente, a sinestesia ocorre em dois tipos: projetivo ou associativo. O projetivo é aquele que parece tangível, quando a pessoa passa a ver alguma coisa depois de ter outro sentido, além da visão, estimulado. Já o associativo envolve questões como estado de espírito, emoções e memórias.
As formas mais comuns de experiências de sinestesia são do tipo cor-grafema, que é quando números e letras fazem a pessoa ver cores; cromostesia, que é quando os sons despertam a visão de cores; sinestesia de sequência espacial, que é quando o senso numérico da pessoa se alinha com o senso que ela tem do ambiente no qual está inserida; e a sinestesia do formulário do número, que faz com que a pessoa relacione informações gerais de forma numérica.
Alguns estudos sugerem que a sinestesia é um fenômeno hereditário, capaz de pular algumas gerações. Outros, porém, dizem que as experiências sinestésicas são automáticas. Já um estudo feito em 2015 defende a ideia de que há um espectro cada vez maior de possíveis causas para isso.
Só para você ter ideia, uma pesquisa realizada em 2013 sugere que interações entre o sistema nervoso central e o sistema imunológico durante o início da vida desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da sinestesia.
Já a chamada “hipótese neonatal” acredita que experiências sinestésicas podem surgir no início da infância, quando a criança está desenvolvendo suas habilidades motoras e sensoriais. Para alguns especialistas, as associações sinestésicas feitas na infância podem, inclusive, interferir no aprendizado de novas associações entre formas e cores.
Segundo Sean Day, presidente da Associação Americana de Sinestesia, essas relações entre sentidos podem ser causadas por diferenças anatômicas no cérebro, que acabam afetando a nossa percepção sensorial de vez em quando.
O que muda, em termos neurológicos, é a formação da bainha de mielina, que é uma das responsáveis pela condução de impulsos através dos neurônios. Uma vez que esse sistema esteja diferente do padrão, nossa percepção sensorial pode ser alterada.
Estima-se que cerca de 4% das pessoas já viveram algum tipo de experiência sinestésica, mas, como as pesquisas sobre o tema ainda são insuficientes, não podemos nos ater a esse número como totalmente correto. Na verdade, não se sabe exatamente quantas pessoas experimentaram o fenômeno nem qual é a frequência mais comum.
Entre artistas que já relataram a vivência do fenômeno estão Wassily Kandinsky, que dizia ver o lado colorido das músicas; Vincent Van Gogh e David Hockney. Eles, de certa forma, usaram suas percepções diferenciadas para produzir seus trabalhos. Entre músicos, temos relatos de sinestesia de Tori Amos, Jean Sibelius, Eddie Van Halen, Itzhak Perlman e Leonard Bernstein.
Pharrell Williams teve uma experiência sinestésica quando, mais jovem, ouviu pela primeira a banda Earth, Wind & Fire. Para ele, as músicas tinham cor azul e borgonha. Quem também já explicou o que sentiu foi Carol Crane, que pesquisa o fenômeno e diz conseguir sentir o som de violão em seus tornozelos.
Já Sean Day tem uma sensação forte de azul quando come carne; mas quando come lula, consegue ver uma espuma laranja brilhante, que sempre fica a uns 4 metros de distância.
Ainda que o fenômeno possa parecer até um pouco assustador para quem nunca o vivenciou, a verdade é que a maioria das pessoas que têm experiências sinestésicas frequentemente não gostaria de não vivenciar isso – para elas, essa é a sua forma natural de ver o mundo. Simon Baron-Cohen, que pesquisa sinestesia pela Universidade de Cambridge, explica que essas pessoas sentiriam como se tivessem perdido um sentido caso não vivenciassem mais isso.
Atualmente, pesquisas sobre sinestesia buscam encontrar relações entre o fenômeno e o desenvolvimento de alguns tipos de traços de personalidade e de habilidades. O que se sabe, por enquanto, é que pessoas sinestésicas conseguem absorver melhor novos conteúdos, têm melhor compreensão verbal, são mais abertas a novas experiências, costumam pensar “fora da caixa” e têm um belo imaginário criativo. E você, já vivenciou isso alguma vez?
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