Ciência
20/12/2018 às 04:00•2 min de leitura
Está sentindo o cheiro de treta? Então saca só: neurocientistas publicaram um estudo relacionando o fundamentalismo religioso com áreas danificadas do cérebro. Segundo esses pesquisadores, áreas relacionadas ao planejamento, quando lesionadas, poderiam explicar como algumas pessoas se tornam extremistas em suas crenças religiosas, ignorando completamente a possibilidade de novas ideias.
Quem comandou esse estudo foi o neurologista Jordan Grafman, da Universidade Northwestern, dos EUA. Grafman teve como base uma pesquisa do final da década de 1960, que analisou os impactos sofridos por militares norte-americanos na Guerra do Vietnã. Aproximadamente 2 mil soldados com traumatismo craniano tiveram suas vidas acompanhadas nos anos seguintes para saber como essas lesões os impactariam.
Em 2016, Grafman identificou que áreas da região frontal e do lóbulo temporal do cérebro são responsáveis por minimizar o significado das experiências místicas das pessoas. Agora, com base em 119 relatórios de veteranos da Guerra do Vietnã com lesões cerebrais e de outros 30 sem lesões, o neurologista conseguiu traçar paralelos entre os danos e o fundamentalismo religioso.
Soldados feridos na Guerra do Vietnã fizeram parte de estudo sobre impactos de danos cerebrais
Recentemente, os veteranos que começaram a ser analisados no final dos anos 60 responderam a questionários que incluíam perguntas sobre suas crenças religiosas e as finalidades delas em suas vidas. Eles também foram analisados do ponto de vista da flexibilidade cognitiva e também do índice de inteligência pessoal.
Com base nesses relatórios, Jordan Grafmam comparou as respostas com análises de tomografias computadorizadas dos veteranos que apresentaram maior lesão cerebral durante a guerra, principalmente daqueles que as tiveram no córtex pré-frontal dorsolateral, conhecido por desempenhar um papel importante em experiências espirituais, resolução de problemas e gerenciamento de ideias.
O neurologista notou uma maior incidência de pessoas com baixa flexibilidade cognitiva e com alta religiosidade, sugerindo que essas áreas cerebrais podem desempenhar um papel importante na escolha de nossas crenças – inclusive na não aceitação de outras vertentes religiosas.
Danos no córtex pré-frontal pode resultar em déficit cognitivo e fundamentalismo religioso
Outros estudos do córtex pré-frontal, mais especificamente no núcleo ventromedial, já haviam mostrado que lesões nessa área podem tornar as pessoas mais suscetíveis a publicidades enganosas. Isso poderia indicar que um córtex pré-frontal saudável nos torna seres mais céticos em relação a tudo.
Os neurocientistas dessa nova pesquisa ressaltam que não devemos encarar a fé como o resultado de um dano cerebral, já que ela é construída em todo o cérebro e requer uma série de fatores neurológicos que não se limitam a uma só área. A publicação diz apenas que lesões nessa região deixam os indivíduos menos suscetíveis a acreditar em outras crenças que não sejam aquelas que eles possuem.
Outro detalhe é que o estudo foi feito apenas com ex-militares masculinos dos EUA que, além das lesões físicas, também carregam traumas psicológicos da guerra. Mesmo assim, as áreas do cérebro que foram analisadas e danificadas são aquelas que poderiam influenciar em suas crenças religiosas, mas é difícil dizer que todas as pessoas com traumas semelhantes compartilham do mesmo fundamentalismo religioso.
Estudo foi feito apenas com um grupo específico de pessoas
*Publicado em 8/5/2017