Como a música altera a nossa percepção do tempo

24/08/2018 às 04:002 min de leitura

O tempo já é naturalmente algo complicado de se definir. Normalmente, nós nos contentamos em aceitá-lo com um entendimento vago qualquer — “O tempo é o tempo, oras!” —, mantendo o controle dele na medida do possível. Bem, mas mesmo a passagem do tempo, à qual normalmente nos ligamos, é algo um tanto mais flutuante do que se poderia imaginar. Que o diga quem já teve apenas cinco minutos para concluir algo urgente.

Bem, nessa equação, ao que parece, se pode facilmente jogar mais um elemento: a música. Conforme elucidou o compositor Jonathan Berger em artigo à Nautilus, a música pode alterar dramaticamente a forma como percebemos o correr do tempo — chegando mesmo a “roubar” a nossa noção relativa a essa passagem, como colocou Berger.

Tempo objetivo e tempo subjetivo

É possível, a princípio, dividir o tempo em duas categorias: objetivo e subjetivo. O primeiro, conforme se pode imaginar, é aquele registrado pelo relógio — aquele compartilhado com outras pessoas e registrado apesar da sua percepção particular... O que faz com que algumas pessoas percam provas seletivas, empregos e namoros, basicamente.

Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Já o subjetivo, conforme coloca Berger, é aquele baseado no ritmo muito próprio de cada corpo, de cada cérebro. O compositor se refere a ele também como originado de “metrônomos fisiológicos”. É justamente daí que nasce a noção por trás de tiradas populares como “O tempo passa rápido quando a gente se diverte”. Mas a música parece levar as coisas a uma terceira modalidade exclusiva do tempo.

É melhor não dirigir ouvindo a “Cavalgada das Valquírias”

“Esse outro tempo cria um mundo temporal paralelo no qual nós ficamos propensos a nos perder”, diz Berger. Basicamente, quando estamos ouvindo uma música, o nosso córtex pré-frontal “introspectivo” é temporariamente desligado — e é mais ou menos por aí que se vai ao ambíguo estado Zen, ou algo que o valha.

Conforme reforça o pesquisador, a música tende a infundir o próprio tempo no nosso bioritmo, levando consigo, é claro, a percepção temporal. Como exemplo, é mencionada a “Cavalgada das Valquírias”, do compositor alemão Richard Wagner. Ao que parece, dirigir enquanto se ouve ao andamento acelerado da composição pode fazer com que você queira pilotar mais rápido, a fim de acompanhá-la.

E o limite de quatro minutos?

E há ainda alguns dados adicionais igualmente interessantes. Por exemplo, músicas calmas em um bar tendem a fazer com que as pessoas bebam mais. Mas há também um exemplo curioso de como a tecnologia, mesmo em um estágio bastante embrionário, pode moldar a forma como a mente humana detecta e tolera a passagem do tempo — particularmente, em uma peça musical.

Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Conforme lembra Berger, quando Thomas Edison inventou o seu cilindro para gravações de áudio em 1877, havia um limite físico incontornável: quatro minutos. Bem, acontece que esse tempo ficou de tal forma arraigado que até hoje as músicas populares tendem a orbitar em torno dos famigerados quatro minutos — para total estupefação de parte dos aficionados por música clássica, vale dizer.

*Publicado originalmente em 04/02/2014.

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