Ciência
01/09/2017 às 03:00•2 min de leitura
Você já deve ter ouvido falar de pessoas que consomem a própria urina como forma de terapia. Esses indivíduos são adeptos da urinoterapia, e a ingestão é realizada para fins medicinais e cosméticos. Essa prática não é nada nova, já que existem registros sobre o uso do xixi para os mais diversos fins desde a época dos faraós e da Roma Antiga. Porém, o que a ciência tem a dizer sobre isso?
Andrew Tarantola, do site Gizmodo, escreveu um interessante artigo sobre a urinoterapia e as razões pelas quais as pessoas deveriam parar de beber o próprio xixi, inclusive quando que se trata de uma situação extrema — de vida ou morte. Como você sabe, os rins, assim como o fígado, funcionam como filtros do nosso organismo.
Primeiro, o sangue passa pelo fígado, onde, basicamente, todo tipo de resíduo — como células mortas, toxinas e outros detritos — é eliminado. Depois, ele atravessa os rins, onde o excesso de substâncias tóxicas (como anticorpos, ureia, creatinina e proteínas) derivadas dos processos metabólicos é filtrado, e o resultado é encaminhado para a bexiga, de onde é eliminado através do xixi, cuja composição é 95% de água e 5% de metabólitos, aproximadamente.
Segundo Tarantola, a urina pode ser descrita, portanto, como um mecanismo secundário para a eliminação do que não é mais necessário para o organismo. Além disso, não se esqueça que o nosso corpo serve de lar para cerca de 100 trilhões de bactérias, e estudos recentes apontaram que existem colônias que são “inquilinas” permanentes do trato urinário. Então, podemos assumir que pelo menos parte dessa turminha pegue carona com a urina.
Sendo assim, por que existem pessoas que insistem em dizer que beber xixi faz bem? Na verdade, conforme mencionamos logo no início da matéria, essa prática existe há muito tempo, e há registros em escrituras hindus incentivando o consumo da urina como “remédio” para todos os males imagináveis, incluindo para tratar o câncer.
Tarantola menciona em seu artigo que a urinoterapia também aparece em textos médicos dos antigos egípcios e da China Antiga, chegando ao Ocidente graças aos romanos. Com relação ao Oriente, na China, por exemplo, ainda existem cerca de 3 milhões de pessoas adeptas fiéis à terapia, enquanto no Ocidente a prática ganhou um bom time de seguidores graças ao apoio de especialistas de renome em medicina alternativa e — como não? — de celebridades.
Atualmente, as promessas são de que o uso da urina — seja por meio de ingestão, gargarejos, cremes ou na forma de colírio — pode servir de tônico e curar de resfriados a câncer e até livrar o organismo do HIV. E, conforme explica Tarantola, o que não faltam são livros defendendo os efeitos milagrosos da terapia.
Apesar de existirem defensores engajados do consumo de xixi — dos quais alguns argumentam que existe uma conspiração para não propagar as maravilhas dessa terapia por não haver lucro substancial envolvido nela —, a verdade é que faltam pesquisas sistemáticas que apoiem os supostos benefícios de consumir a própria urina.
Aliás, segundo Tarantola, os estudos que existem sobre a urinoterapia sugerem que ela faz mal para a saúde. A American Cancer Society, por exemplo, afirma que não há evidências de que o xixi ajude a estimular o sistema imunológico e seja benéfico para os pacientes.
Além disso, o pessoal da British Dietetic Association desencoraja o consumo de urina mesmo em situações extremas, se possível — imagine que você se perde em algum local inóspito e não encontra água! —, já que o sódio presente na urina pode acelerar o quadro de desidratação. E mais: a prática pode ser prejudicial, pois, cada vez que o xixi sai e volta a ser filtrado pelo organismo, ele vai ficando mais concentrado, podendo provocar mais danos que benefícios.
*Publicado em 23/10/2014