Artes/cultura
21/05/2013 às 07:09•3 min de leitura
No dia 8 de maio, uma das mais respeitadas fabricantes de automóveis do mundo completou 50 anos de existência. A ocasião foi celebrada de uma forma bastante coerente com o legado do visionário Ferruccio Lamborghini: de forma espalhafatosa e excêntrica. Partindo de Milão (Itália), um comboio de 350 Lamborghinis de várias décadas viajou para a Lombardia e, posteriormente, para Úmbria.
Após diversas paradas, a procissão — com quatro quilômetros de extensão — acabou por encontrar as portas da fábrica/museu em Sant’Agata Bolognese, na província de Bolonha. Caso todos os motores fumegantes do local fossem somados, haveria um total de 190 mil cavalos de potência (HP) ocupando o enorme pátio e as regiões adjacentes.
Fonte da imagem: Reprodução/Lamborguini
A peregrinação sagrada e fumarenta encontrava, então, a Meca da Lamborghini, onde se realizou um evento que tomou três dias inteiros. Ao final das celebrações, Walter De Silva, cabeça do Volkswagen Design Group, apareceu em um modelo excêntrico e único, um tributo, com estilo propositadamente semelhante ao do Egoita.
Tratava-se de uma carcaça futurista, para um único ocupante, com um total de 600 cavalos de potência — uma homenagem, com certeza, bastante coerente ao passado do “Raging Bull”. Conforme disse um sujeito no início das festividades, o mantra da Lamborghini bem poderia ser colocado como: “Olhe para o que os outros não estão fazendo com os seus produtos e então tente aperfeiçoar o seu”. O mote vem de longa data, é verdade.
Ferruccio Lamborghini era conhecido na década de 1950 como um sujeito impetuoso, inteligente e também como um líder nato. Ao retornar da Segunda Guerra Mundial com um respeitável conhecimento de mecânica, ele percebeu que poderia fazer algum dinheiro na lucrativa indústria de tratores.
Fonte da imagem: Divulgação/Lamborghini
Mas, embora o marco zero da Lamborghini tenha ocorrido com veículos enormes que dificilmente passavam de 30 quilômetros por hora, Ferruccio logo percebeu que um nicho incrivelmente atraente se descortinava entre o exótico mercado de carros esportivos.
É claro que a fortuna amealhada durante os anos na indústria de tratores serviria perfeitamente para que Ferruccio ensaiasse seus primeiros passos entre os esportivos de alta performance. De fato, foi de sua própria coleção de Ferraris e Maseratis que surgiram os germes do futuro império.
E foi naquele momento que se consolidava também o mantra da Lamborghini. Originalidade? Não exatamente. A ideia era fazer muito do que outros já faziam... Só que de forma aperfeiçoada. Ao desmantelar sua coleção particular, Ferruccio percebeu que havia vários pontos passíveis de melhoria.
Fonte da imagem: Reprodução/Lamborghini
Inicialmente, entretanto, a ideia foi menos extravagante do que oportunista. Lamborghini queria atuar como fornecedor de peças para outros fabricantes, mas não demoraria muito tempo para que ele mudasse de ideia.
Há pelo menos duas lendas sobre a entrada da Lamborghini no glamouroso mercado de automóveis de alta performance. A primeira diz que o estopim foi uma disputa Ferrari e Lamborghini para ver quem construía o melhor carro.
Fonte da imagem: Reprodução/Lamborghini
A segunda, entretanto, é mais coerente com a personalidade de Ferruccio Lamborghini. Conta-se que o sujeito andava realmente incomodado com os problemas apresentados por suas Ferraris. Dessa forma, em determinada manhã, Ferruccio percebeu que talvez não houvesse diferenças assim tão grandes entre seus tratores e um supercarro — salvo algumas “pequenas” questões relacionadas à velocidade, amortecimento, aerodinâmica...
O que Ferruccio Lamborghini descobriu ao desmantelar sua coleção particular de Ferraris foi que, fim ao cabo, não havia uma diferença tão grande assim entre seus tratores e os carros mais excêntricos que eram então produzidos. Após estabelecer sua fábrica em 1963, a lenda então passou a ser construída — tendo como pontapé inicial o protótipo, hoje célebre, 350 GTV.
Fonte da imagem: Reprodução/Lamborghini
Posteriormente, uma parceria com a empresa de design Carrozzeria Touring gerou os igualmente notórios 350 GT e 400 GT — cujo desempenho entre os consumidores surpreendeu mesmo o poderoso tino comercial de Ferruccio.
Entretanto, problemas com a própria indústria de tratores acabaram forçando o visionário Lamborghini a vender mais da metade da sua empresa — época em que, apesar disso, surgiram os notórios modelos Countach e Diablo.
Fonte da imagem: Reprodução/Lamborghini
Após passar por várias mãos — entre elas as de investidores do setor açucareiro, os quais não propriamente entendiam de carros —, a Lamborghini acabou nas mãos da Volkswagen, salva, entre outros, pelo neto do fundador da Porsche.
Fonte da imagem: Reprodução/Lamborghini
Ferdinand Piëch havia visitado a Lamborghini em seus primeiros anos como engenheiro mecânico e, ao perceber que o assento estava vago, não se fez de rogado: recomendou a aquisição aos alemães. Posteriormente, uma aproximação entre a Lamborghini e a Audi — então uma subsidiária da Volkswagen — acabaria por desembocar na célebre Gallardo. E a história do “Touro Indomável” continua.