Estilo de vida
20/11/2019 às 06:30•3 min de leitura
1 – Basicamente, a Apropriação Cultural é uma maneira de descrever quando uma pessoa de uma cultura hegemônica adota aspectos de uma cultura que não é a sua e os usa sem referência ou relação com aquela cultura “emprestada”;
2 – Contudo, a definição de Apropriação Cultural vai muito além de simplesmente adotar aspectos de outra cultura. Ela se caracteriza quando membros de uma cultura dominante incorporam elementos de outra cujos integrantes sofreram opressão sistemática daquele mesmo grupo dominante;
Fonte: New York Apparel
3 – Esses elementos podem ser acessórios, trajes típicos, música, dança, símbolos e crenças religiosas, idioma e expressões linguísticas, conhecimento tradicional, arte, culinária etc. que são adotados sem permissão por uma cultura dominante que explorou ou oprimiu o grupo minoritário — por meio da colonização, do genocídio, da escravidão — ou por quem não entende o significado cultural do elemento incorporado;
4 – A Apropriação Cultural não deve ser confundida com o intercâmbio cultural, que acontece quando pessoas de culturas diferentes compartilham aspectos de sua cultura, porque aqui o elemento de dominação não existe;
Fonte: Odyssey
5 – Ela também não deve ser confundida com a assimilação cultural, que ocorre quando um grupo marginalizado se vê obrigado a incorporar aspectos da cultura dominante para poder sobreviver;
6 – Daí, por um lado temos quem leve a definição de Apropriação Cultural a ferro e fogo. Há pessoas que alegam, por exemplo, que algumas obras de Beethoven não deveriam ser tocadas no piano porque elas foram compostas para violino ou, ainda, que os brasileiros deveriam parar de usar o Facebook e até jeans simplesmente porque eles foram desenvolvidos nos EUA. Pera lá, também não é bem assim!
Fonte: Obsev
7 – Por outro lado, temos quem se sente perplexo com a discussão e acredita que não deveríamos dar tanta importância ao tema. Também outro extremo;
8 – Um exemplo clássico de Apropriação Cultural foi o que aconteceu nos EUA nos anos 50, quando os músicos brancos “tomaram emprestado” estilos musicais dos negros. O problema é que, como a comunidade afrodescendente sofria forte opressão por parte da branca, as gravadoras preferiram ter artistas brancos interpretando as canções originalmente compostas por negros;
Fonte: Lipstick Alley
9 – Assim, formas musicais como o rock’n’roll, por exemplo, acabaram sendo associadas a músicos brancos, embora elas tenham sido desenvolvidas a partir de estilos musicais criados pelos negros. E isso teve graves consequências financeiras também, já que muitos dos artistas negros que ajudaram a pavimentar o sucesso do rock jamais receberam um único centavo por sua contribuição;
Identities.Mic
10 – Mais exemplos de Apropriação Cultural seriam quando uma pessoa branca decide usar um turbante na cabeça, dreads ou trancinhas nos cabelos e é vista como estilosa, enquanto um negro que decide usar esses mesmos elementos seria discriminado ou percebido de forma pejorativa pelos brancos;
11 – E a discussão não se limita a negros x brancos. Madonna, por exemplo, fez um tremendo sucesso quando lançou a música Vogue e a icônica dança que virou febre pelo mundo, embora esse estilo tenha, na verdade, surgido em alguns setores da comunidade gay latina e negra dos EUA;
Fonte: Daily Motion
12 – Katy Perry também foi criticada por se apresentar vestida de gueixa em 2013, especialmente porque ela se vestiu dessa forma para cantar a música Unconditional, que fala a respeito de uma mulher que promete amar seu homem sem se importar com as consequências;
13 – Até Beyoncé foi alvo de acusações quando apareceu em um clipe da banda britânica Coldplay vestindo trajes tradicionais da cultura indiana — quando uma artista da Índia que também faz uma pontinha no vídeo podia ter sido escolhida para as cenas e recebido mais destaque;
14 – Mas calma! O fato de você usar acessórios ou incorporar elementos que pertencem a outra cultura não faz de você uma má pessoa nem um transgressor;
15 – O problema acontece quando expressões culturais — como a música, a arte e a própria moda — de um grupo minoritário são adotadas por um grupo dominante e passam a ser associadas a ele;
Fonte: ET Online
16 – Então, esse grupo passa a ser considerado criativo, inovador e artístico, enquanto os criadores originais deixam de receber o crédito que merecem — sem falar que os elementos adotados pela cultura dominante reforçam ou se transformam em estereótipos negativos da cultura minoritária;
17 – Portanto, a Apropriação Cultural intensifica o desequilíbrio que ainda existe entre os grupos que estão no poder e os que, ao longo da História, foram marginalizados;
Fonte: Bustle
18 – Na verdade, é justamente isso que a discussão em torno da Apropriação Cultural faz: chamar a atenção para as múltiplas formas que a cultura adota em nosso cotidiano, mesmo quando ela é influenciada por questões sociopolíticas desconhecidas por quem as perpetua;
19 – Não há problema nenhum em fazermos uso de elementos de outras culturas que admiramos ou queremos homenagear, mesmo quando não sabemos exatamente a razão de acharmos aquilo bonito. Mas isso não significa que tentar entender essas transformações seja inútil; pelo contrário: estudar os casos de Apropriação Cultural nos ajuda a conhecer ainda mais os diferentes grupos e suas relações;
Fonte: For Harriet
20 – Ou seja, antes de incorporar algum aspecto que pertence a outra cultura, se informe a respeito de seu significado e de todos os desafios que os integrantes dessa cultura tiveram e ainda têm que enfrentar na nossa sociedade. Não é uma obrigação, mas pode ajudar você a compreender melhor o lugar de todos nós no mundo e, até, por que não, ajudar você a descobrir elementos ainda mais legais daquela cultura e os incorporar à sua vida com mais conhecimento.
*Publicado em 03/05/2016