Artes/cultura
10/10/2014 às 12:35•6 min de leitura
Há muito tempo o Marrocos desperta o fascínio dos viajantes cansados dos destinos convencionais. E não é para menos: o país fica a apenas uma hora de balsa da Espanha e, embora esteja tão pertinho da Europa, sua cultura e tradições fortemente enraizadas o tornam diferente de tudo o que nos é familiar.
E quem vai para lá pode se preparar para se surpreender com um sem fim de contrastes, pois além da cultura, os visitantes vão encontrar cidades cosmopolitas onde o moderno e o medieval vivem lado a lado, vilarejos que parecem ter parado no tempo, praias, cadeias montanhosas e o vazio arenoso formado pelo Saara. Em outras palavras, o Marrocos é, sem dúvida, um dos países mais diversificados da África.
Localizado no noroeste da África e tendo o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo ao norte, o Marrocos faz fronteira com a Argélia, Espanha e o oeste do Deserto do Saara. A Cordilheira do Atlas — com altitude média de 3,4 mil metros — separa o litoral ameno do deserto inclemente, e a chuva, imprevisível, está longe de ser suficiente para abastecer a população.
Com área total de quase 447 mil quilômetros quadrados, este pequeno país como já dissemos fica a apenas um pulinho da Espanha, que fica logo ali, atravessando o Estreito de Gibraltar. Sua população é de pouco mais de 31 milhões de habitantes (segundo o censo realizado em 2010) e composta principalmente por berberes — povos do norte da África que há milhares de anos habitam a região — e árabes, e quase 99% dela é muçulmana.
Olha o Dirham
Os idiomas mais falados no Marrocos são o árabe, o francês e dialetos berberes, e a capital se chama Rabat. O país é uma monarquia constitucional e um dos últimos três “reinos” que ainda restam na África — os outros dois são a Suazilândia e o Lesoto. Quem encabeça o governo é o Rei Mohammed VI, que está no trono desde 1999 e se diz descendente de ninguém menos do que o Profeta Maomé em pessoa! A moeda oficial de lá é o Dirham.
Os berberes vinham ocupando a região do Marrocos desde o segundo milênio antes de Cristo e, em 46 a.C., os romanos anexaram o território à Mauritânia. Contudo, por volta do século 5, quando o Império começava a ruir, os vândalos invadiram a região. Depois foi a vez dos árabes — no final do século 7 — chegarem com Islã e se unirem aos berberes para, no início do século 8, invadirem juntos a Espanha, de onde foram expulsos no século 13 (com a Reconquista culminando no século 15).
Após regressarem ao Marrocos, o território nunca se tornou completamente unificado — sendo composto por pequenos estados tribais — e os conflitos entre árabes e berberes eram constantes. A unificação finalmente ocorreu quando a Espanha e Portugal começaram suas invasões na região e, em 1660, o Marrocos se tornou um reino sob o comando da Dinastia Alauita, cujos descentes continuam no poder.
Contudo, durante os séculos 17 e 18 o Marrocos se tornou um “quartel general” para piratas que atormentavam o Mediterrâneo, o que levou a Espanha e a França a decidir colonizar o território. Assim, entre os anos de 1912 e 1956, o país era dividido em duas zonas, uma pertencente à Espanha e a outra à França. A independência foi decretada em 1956, mas Ceuta e Melilla, duas de suas cidades, continuam sob o comando espanhol até hoje.
Hamam localizado sob a Mesquita de Hassan II em Casablanca
Embora essa “pincelada” sobre a história e geografia do Marrocos pareça uma verdadeira chatice, ela é fundamental para que possamos entender melhor sua cultura, arquitetura e tradições. Mas, depois desses dados todos, que tal embarcar de uma vez nessa viagem descobrindo quais são as principais atrações do país?
Apesar de Rabat ser a capital, ela não é a cidade mais populosa — nem a mais conhecida do Marrocos. As mais famosas, sem dúvida são Casablanca, Fez e Marrakesh. A primeira, Casablanca, apesar de não ser tão exótica quanto às outras duas, se tornou o centro econômico do país, e é conhecida pela arquitetura colonial que mistura o tradicional estilo marroquino e com o art déco francês, mistura essa conhecida como “Mauresque”.
Pessoas trabalhando em um curtume
Já na cidade de Fez o ambiente é completamente diferente. Famosa por ser a mais completa cidade medieval do mundo árabe, suas ruas formam labirintos que escondem antigos souks — tradicionais mercados —, incontáveis bazares, artesãos e monumentos fabulosos. O mais extraordinário seguramente é a madraça Bou Inania, uma antiga escola secular fundada no século 14 ricamente decorada com belíssimos arabescos.
Além disso, as ruelas da medina de Fès el-Bali — ou Cidade Antiga de Fez — são um exemplo perfeito do choque entre o velho e o novo, já que não é raro cruzar com pessoas puxando seus burros ou mulas (que ainda são os principais meios de transporte de muita gente) enquanto conversam ao celular. Outros locais que merecem uma visita são a Universidade e Mesquita Kairaouine, o Palácio Glaoui e o Riad (palacete) Fez. Confira algumas imagens a seguir:
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Músicos na praça Djemaa el-Fna
Por último, Marrakesh sem dúvida é o principal centro turístico do Marrocos e, uma vez lá, aproveite para visitar a Mesquita de Koutoubia, um edifício do século 12 cujos minaretes são visíveis a quilômetros de distância e se tornou símbolo da cidade. Outro ponto turístico famoso são as Tumbas Saadies, que datam dos séculos 16 e 17 e só foram descobertas no começo do século 20.
Galeria 2
A madraça Ali Ben Youssef — do século 14 — faz parte da lista da UNESCO de Patrimônios Mundiais, portanto, merece uma visita, assim como o Palácio El Bahia (olha que nome mais pitoresco!) e o Palácio El Badi, que são belos exemplos da arquitetura marroquina. E depois de explorar todos esses locais e a medina (ou centro histórico) fundada no século 11, termine a visita na Djemaa el-Fna, uma grande praça de Marrakesh onde todas as noites ocorre o maior agito e se reúnem acrobatas, músicos e contadores de histórias.
O Toubkal
Não pense que as atrações do Marrocos terminam em Marrakesh! Se você nutre curiosidade por edifícios religiosos, a Mesquita de Tin Mal (também na lista da UNESCO), construída no século 12 no Alto Atlas merece uma visita. Outra estrutura de tirar o fôlego é a famosa Porta de Bab Oudaïa localizada em Rabat, considerada como a mais bela porta medieval do mundo mouro.
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E você se lembra de que os antigos romanos perambularam pelo Marrocos no passado? Um vestígio de sua passagem são as ruínas da antiga cidade de Volubilis, localizada no norte do país. Outra atração famosa é Kasbah de Télouet, uma fortaleza construída entre os séculos 19 e 20 que se situa no Alto Atlas e hoje se encontra parcialmente destruída.
Galeria 3
Para os aventureiros, além de passeios de camelo pelas dunas do deserto — que podem ser feitos a partir de Merzouga, Zagora e M’Hamid —, uma boa pedida é fazer uma visita as Gargantas do Todra, que conta com cânions com paredes que chegam a 200 metros de altura. Você também pode fazer trilhas pela Cordilheira do Atlas, e visitar o maciço de Toubkal ou visitar vales mais isolados.
Moussem de Imilchil
O que não faltam no Marrocos são festivais — sejam eles nacionais ou regionais — para todos os gostos. Além de festividades religiosas, como o Ramadã, por exemplo, caso você visite o país em agosto, aproveite para incluir na sua lista de destinos a pitoresca cidadezinha de Asilah. Além de oferecer as melhores praias da costa norte do Marrocos, lá todos os anos ocorre um festival cultural nessa época do ano que reúne músicos e outros artistas.
Contudo, um dos festivais mais famosos do país é o Moussem que ocorre no vilarejo de Imilchil todos anos em setembro. Tradicionalmente, durante essa festividade — que dura três dias —, tribos de várias localidades da região se reúnem em Imilchil para que as mulheres procurem e escolham maridos e, se tudo correr como o esperado, participem de um casamento coletivo ao final do festival.
Apesar de muitas cidades do Marrocos parecem exóticas para os visitantes, não há motivos para se preocupar na hora de comer. Além da tradicional carne de carneiro, graças à sua proximidade ao mar, muitos restaurantes contam com peixes e frutos do mar no cardápio. Mas se você prefere as aves, experimente a pastilla, uma famosa torta feita com frango ou carne de pombo.
Entretanto, o prato mais famoso é — evidentemente — o couscous. De origem berbere, trata-se de uma comida preparada com semolina servida com vários legumes e carne de carneiro, ave ou, ocasionalmente, peixes. Já as sobremesas consistem basicamente de frutas suculentas e tâmaras, ou seja, nada que vá deixar você se sentindo muito culpado depois das refeições.