Artes/cultura
01/11/2016 às 08:35•3 min de leitura
Você ouviu falar a respeito da complicada situação política que se instalou na Coreia do Sul nas últimas semanas? Basicamente, vieram à tona informações de que a presidente do país, Park Geun-hye, é fortemente influenciada por uma amiga muito próxima, uma mulher chamada Choi Soon-sil — que também é xamã e líder de uma seita um tanto quanto estranha.
Milhares de sul-coreanos saíram às ruas para protestar e pedir o impeachment da presidente
O problema é que, aparentemente, a influência de Choi não se limita a simplesmente aconselhar Park como amiga e confidente. De acordo com a imprensa sul-coreana, a presidente se transformou em um verdadeiro fantoche nas mãos da líder religiosa — que não só ditaria quais cores de roupa Park deve usar e evitar, como teria acesso a documentos confidenciais do governo e inclusive teria reescrito discursos da política.
Como se fosse pouco, também circulam acusações de que Choi seria responsável por decidir quais setores da economia do país Park deveria pressionar para conseguir doações em dinheiro para instituições suspeitas apoiadas pela seita. Assim, milhares de sul-coreanos foram às ruas no fim de semana para protestar e pedir que a presidente resigne ao cargo. Como resposta, a líder do Governo demitiu vários de seus principais assessores.
Park Geun-hye foi a primeira mulher eleita no país e está no cargo desde 2012
O mais curioso é que, apesar dos rumores de corrupção envolvendo a gestão de Park, o que mais incomoda a população sul-coreana é a bizarra influência que a xamã exerce sobre a presidente e o papel da família de Choi nessa confusão toda. Afinal, foi o pai da líder religiosa, um homem que dizia ser o Buda do Futuro, quem fundou a seita — a “Igreja da Vida Eterna” —, e Park se encontra sob sua influência desde a morte de sua mãe, em meados dos anos 70.
Na verdade, esse tipo de culto — xamanístico e até meio “Rasputinesco”, como dizem alguns meios de comunicação — é considerado relativamente popular na Coreia do Sul. Contudo, o preocupante aqui é o fato de a presidente do país (aparentemente) estar completamente à mercê de uma (possível) charlatã.
Sinistro: xamãs sul-coreanos rezam diante de uma cabeça de porco espetada em um tridente
Por sua parte, Park tentou se defender alegando que, ao contrário de outros políticos sul-coreanos, ela não possui ligações com familiares próximos e, portanto, não se sentia tentada a cometer atos de corrupção para favorecê-los. Só que, segundo a imprensa, quem fez com que a presidente se afastasse da família foi Choi, e é ela quem está tirando proveito da situação.
De modo (bem) geral, é mais ou menos isso o que está acontecendo na Coreia do Sul. Entretanto, a internet sendo a internet, é óbvio que não demorou até que uma porção de rumores malucos e teorias da conspiração pra lá de sinistras — envolvendo rituais e até as mortes de inocentes — relacionadas com essa barafunda toda se espalhassem por fóruns de discussão mundo afora. Vamos a eles...
Pouco depois de toda a confusão envolvendo a relação entre Park e Choi, começou a circular uma história muito bizarra envolvendo uma tal Sociedade Secreta das Oito Deusas. Mais precisamente, tudo parece indicar que toda a discussão teve início após a divulgação da publicação que você pode ver a seguir:
Texto que parece ter associado o rebuliço envolvendo a presidente com uma sociedade secreta
O texto acima é meio sem pé nem cabeça, e fala a respeito de um boato — que surgiu há dois ou três anos e guardaria relação com o programa Alienígenas do Passado (!!!) — de que a presidente sul-coreana seria controlada pela Sociedade Secreta das Oito Deusas, supostamente formada pelas oito bilionárias mais poderosas do país, uma delas, evidentemente, seria Choi Soon-sil.
Ainda segundo o texto, seriam as dirigentes dessa seita quem comandariam o governo da Coreia do Sul, e as informações sobre a conexão da presidente com a sociedade secreta vazaram depois de um computador e vários tablets — contendo “provas” — terem sido roubados.
Mais imagens dos protestos
As evidências revelariam que as mulheres, além de arquitetar os pronunciamentos de Park, são responsáveis por comandar o Tesouro Nacional, propor reformas nos impostos, controlar articulações diplomáticas, eleger secretários e ministros etc. Ademais, as oito deusas teriam mandado diversos políticos (homens) para a prisão, e eles também, revoltados com a situação, estariam vazando informações sobre a sociedade secreta.
Outra história maluca que foi associada ao escândalo na Coreia do Sul envolvendo a presidente e a xamã foi que o acidente com a balsa que matou quase 300 estudantes sul-coreanos em abril de 2014. De acordo com os conspiradores de plantão, o naufrágio da embarcação teria sido armado para que ocorresse um sacrifício de sangue em massa — e foi planejado de forma que as mortes acontecessem de forma lenta e dolorosa.
Escândalo e teorias da conspiração
Segundo se apurou na época do acidente, o pai dos donos da companhia responsável pela balsa,Yoo Byung Eun, chegou a ser investigado nos anos 90 em conexão a um suicídio em massa de 32 membros da Igreja Evangélica Batista da Coreia, da qual Yoo era um dos líderes. O patriarca chegou a ser preso por fraude, e as investigações focaram em descobrir se a empresa de transporte servia de fachada para a obtenção de fundos ilegais para os negócios da família.
Na realidade, o escândalo deflagrado na Coreia do Sul tem todos os ingredientes para a criação de uma bela teoria da conspiração: seitas religiosas, controle mental, brigas pelo poder. Então, o que parece que aconteceu é que começaram a costurar uma porção de casos e rumores para tornar a história mais sinistra e interessante. No entanto, filtrando os detalhes, fica claro que, apesar de a situação da presidente ser crítica, não há nada de sobrenatural no caso.