Estilo de vida
21/02/2018 às 02:00•3 min de leitura
Sabe aquelas peruconas enormes que eram usadas pelos nobres europeus entre os séculos 17 e 18? Você alguma vez se perguntou como é que um acessório tão espalhafatoso pôde se tornar tão popular? De acordo com Lucas Reilly do site Mental_Floss, basicamente, a culpa foi de dois reis supervaidosos, da falta de higiene e de uma terrível doença venérea.
As tais peruconas eram chamadas “perucas empoadas” e, segundo Lucas, seu surgimento está associado à sífilis. Conforme explicou, no final do século 16, a doença havia se tornado a pior epidemia a tocar o terror na Europa desde a peste negra, e os hospitais estavam transbordando com pacientes infectados.
O problema é que na época ainda não existiam antibióticos, que são os medicamentos utilizados para tratar a sífilis. Portanto, os doentes sofriam com os sintomas — que incluem erupções cutâneas, lesões na pele, cegueira, demência, paralisia e perda de cabelo. Contudo, a moda de então era a de ter madeixas longas, que eram um símbolo de status social. E, acredite, a calvície era o tipo de coisa que podia acabar com a reputação de qualquer um.
Assim, a epidemia acabou por levar à popularização das perucas, já que os acessórios não só ajudavam a esconder a falta de cabelo, como permitiam que as pessoas que sofriam de sífilis pudessem cobrir as lesões na pele.
No início, as perucas eram produzidas com crina de cavalo, pelos de cabra ou cabelos humanos mesmo. E, para “tapear” os cheirinhos desagradáveis — não se esqueça de que a higiene não era lá essas coisas! —, elas costumavam ser empoadas com talco aromatizado com lavanda ou odores cítricos. Mas elas não eram montadas com penteados muito pomposos não!
As perucas só passaram a ter uma aparência mais elaborada em meados do século 17, quando Louis XIV, o Rei da França na época, começou a ficar careca. De acordo com Lucas, o monarca, temeroso de que a cabeleira minguada afetasse o seu prestígio, contratou nada menos do que 48 peruqueiros para ajudá-lo a camuflar o problema.
Alguns anos depois, foi a vez de Carlos II da Inglaterra — primo de Louis XIV — se render ao uso de perucas para esconder os fios grisalhos, e não demorou até que os integrantes da corte e outros aristocratas começassem a copiar os dois reis. Com isso, além de a moda de usar perucas se tornar uma febre na Europa, os acessórios começaram a ficar cada vez mais caros — e eles logo se transformaram em sinônimos de riqueza.
De acordo com Lucas, na Inglaterra, por exemplo, uma peruca podia custar cerca de 25 shillings na época — ou o equivalente ao salário de uma semana inteira de trabalho de um londrino comum. No entanto, com o aumento da demanda (e da escalada do luxo), era possível encontrar exemplares ao exorbitante custo de 800 shillings!
Carlos II faleceu em 1685, e Louis XIV em 1715, mas a moda das perucas não morreu com os monarcas. Segundo Lucas, o acessório ainda continuou em voga por um bom tempo — graças aos piolhos. Eca!
Naquela época, não faltavam piolhentos na Europa. Como remover as lêndeas era um processo doloroso e lento, era mais fácil raspar os cabelos e usar perucas no lugar. Assim, os piolhos passaram a infestar as perucas, que eram enviadas aos peruqueiros para que eles fervessem as cabeleiras e dessem um jeito no problema.
O acessório começou a cair em desuso no final do século 18, graças à Revolução Francesa — que acabou com vários costumes dos nobres de então. Na Inglaterra, as perucas começaram a ser aposentadas na mesma época, depois de William Pitt, o primeiro-ministro da Grã Bretanha, decretar um aumento do imposto sobre o pó usado para perfumar as peças.
Com isso, as tradicionais perucas empoadas foram desaparecendo. Atualmente elas ainda são usadas no Reino Unido — assim como na República da Irlanda e em alguns países da Commonwealth — por advogados e juízes, assim como durante cerimônias especiais e reuniões do parlamento.
*Publicado em 21/7/2015