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29/06/2017 às 06:00•2 min de leitura
Há 50 anos, ia ao ar o primeiro capítulo da novela “Anastacia, a mulher sem destino”, um dos maiores fiascos da história da Rede Globo. Confusa e distante da realidade brasileira, a trama viu seu autor ser substituído ainda no 40º capítulo e teve que apelar a um terremoto para dar fim a inúmeros personagens desnecessários, que só atrapalhavam o desenrolar da novela.
Anúncio veiculado no jornal O Globo para divulgar a novela das 20h
Baseada em um folhetim francês, a trama principal da novela, escrita por Emiliano Queiroz, girava em torno de Anastacia (interpretada por Leila Diniz), moça pobre que desconhecia as suas origens e que, a certa altura da história, descobria ser a filha mais nova do último czar russo, Nicolau II. Para que ninguém soubesse de sua verdadeira identidade, a jovem precisou se refugiar em uma remota ilha vulcânica nas Antilhas.
O enredo, desconexo e distante da realidade brasileira, não agradou o público — um feito raro entre as atrações que a TV exibia naquela época. Como se não bastasse, ainda havia o agravante de que a novela contava com mais de uma centena de personagens, o que acabava atrapalhando o desenvolvimento da história.
Leila Diniz, a protagonista da novela, ao lado do ator Mario Brasini
A trama era escrita por um estreante, o ator Emiliano Queiroz — que, após o fiasco, nunca mais assinaria uma nova produção do gênero. Sem nenhuma técnica, o autor começou a perder o controle dos rumos da história e, dia após dia, via os índices de audiência oscilarem negativamente. Na tentativa de reverter os estragos causados por seu despreparo, ele passou a criar cada vez mais novos personagens, dando uma oportunidade aos seus amigos desempregados.
Mas, apesar das mudanças, a situação continuava insustentável, e a Globo — na ocasião, com apenas 2 anos de existência — precisou tomar medidas drásticas para impedir que o que era ruim ficasse pior ainda. Para tanto, afastou Queiroz e convidou a dramaturga Janete Clair, que, na época, fazia o maior sucesso com suas radionovelas na rádio Nacional, para continuar a escrever “Anastacia”.
Janete Clair, encarregada de dar um novo rumo à trama malsucedida
Para resolver a situação caótica do folhetim, a autora idealizou um terremoto que tirou a vida de mais de 100 personagens da novela. Em seguida, a história teve um salto de 20 anos e apenas 4 personagens da primeira fase foram reaproveitados, incluindo a protagonista.
Com Janete Clair à frente dos trabalhos, “Anastacia” não chegou a ser um fenômeno de audiência, mas teve seus gastos reduzidos, e a mocinha recebeu, enfim, um desfecho mais coerente com a sua história. Nos bastidores, a autora conseguiu ganhar a confiança da alta cúpula da Globo e assegurou sua permanência na emissora, onde ficaria até o fim da sua bem-sucedida carreira.