Países Baixos e Ilhas Scilly descobriram que estavam em guerra há 300 anos

22/01/2024 às 13:003 min de leitura

Disputas de território e de poder caracterizam o crescimento e transformação da civilização humana, e isso aconteceu, em sua maioria, por meio de guerras. Ao longo da história, houve milhares de conflitos, dos mais sangrentos, como a Segunda Guerra Mundial, até os com poucas baixas, como a Guerra Anglo-Zanzibari.

Não é considerado comum guerras que durem metade de um século ou mais. A Guerra dos Cem Anos, travada principalmente entre a Inglaterra e França, de 1337 a 1453, apesar de ter durado 116 anos, não foi um conflito contínuo. A guerra testemunhou vários períodos de trégua e negociação pelas causas que a motivaram, como reivindicações de território, disputas sucessórias, economia e comércio; conflitos feudais e rivalidades nobres.

O único conflito que durou mais que um século foi a Guerra dos 300 anos travada entre os Países Baixos e as Ilhas Scilly. O mais engraçado, porém, é que nenhum dos oponentes sabiam que estavam em guerra.

O rei falido

Rei Carlos I da Inglaterra. (Fonte: GettyImages/Reprodução)Rei Carlos I da Inglaterra. (Fonte: GettyImages/Reprodução)

Em 1642, o rei Carlos I da Inglaterra estava praticamente falido, cercado pela corrupção, desmascarado em seu nepotismo e desesperado para manter o fino véu que cobria a possibilidade de ele não ser um líder infalível. Só que isso já era óbvio tanto para os aristocratas quanto para o povo inglês. Naquele momento da história, o Parlamento não tinha um poder tangível, era apenas um conjunto de nobres que ofereciam conselhos ao rei e o ajudavam a cobrar impostos. Só que a Vossa Alteza precisava do seu selo de aprovação para colocar os impostos em movimento, ou seja, em tempos de dificuldades financeiras, ela teve que ouvir o Parlamento.

E era exatamente o que Carlos não aceitava mais, enxergando isso como uma violação de seu "direito divino". Por esse motivo, ele se viu na autoridade de destituir o Parlamento, em março de 1629. Por 11 anos, Carlos governou a Inglaterra sem essa assembleia, o que não era inédito, mas, sem acesso ao poder de atração financeira que ela oferecia, a capacidade de Carlos de adquirir fundos era limitada.

Para tentar sair do buraco, o rei decidiu aumentar o imposto sobre a navegação, o movimento mais ofensivo que poderia ter feito, resultando em uma forte reação e oposição popular, provando que havia um apoio crescente contra o controle soberano dele. Em meio a isso, Carlos também estendeu suas altas políticas e práticas anglicanas para Escócia, desagradando os puritanos e causando um conflito religioso que exacerbou as tensões sociais existentes.

Em 1649, para derrubar o rei, o Parlamento estabeleceu a República Inglesa, sob a liderança de Oliver Cromwell, que recusou o título de rei e se dominou Lorde Protetor. Com isso, os britânicos foram divididos em duas forças: os realistas, que apoiavam a monarquia britânica de Carlos I; e os parlamentares, que lutavam por um governo democrático sob a liderança de Cromwell.

A guerra sem armas

Oliver Cromwell. (Fonte: GettyImages/Reprodução)Oliver Cromwell. (Fonte: GettyImages/Reprodução)

Não muito diferente de hoje, quando forças externas ajudam o lado que apoiam, outros países entram em cena. Nesse caso, os holandeses decidiram se juntar ao conflito do lado dos parlamentares após identificá-los como prováveis vencedores. Os monarquistas, antigo aliado dos holandeses, consideraram essa decisão uma traição e começaram a punir os holandeses invadindo rotas marítimas ao longo do Canal da Mancha.

Em 1651, porém, as forças monárquicas sofriam com o resultado de uma série de batalhas bem-sucedidas vencidas por Cromwell, que havia empurrado seu exército de volta para a Cornualha, enquanto a marinha monarquista foi obrigada a fugir para as pequenas Ilhas Scilly, uma vez que foram basicamente expulsos da Inglaterra continental.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Em 30 de março do mesmo ano, os holandeses, ao enxergarem uma oportunidade de recuperar algumas de suas perdas causadas pelos ataques monárquicos, enviaram uma frota de doze navios de guerra para Scilly, exigindo reparações. Ao não receber nenhuma resposta satisfatória dos monarquistas, o almirante holandês Maarten Tromp declarou guerra às Ilhas Scilly.

Três meses depois, Cromwell e seu batalhão, sob o comando do almirante Robert Blake, forçou a frota monarquista a se render, e as Ilhas Scilly voltaram ao controle parlamentar. A frota holandesa foi embora, mas esqueceu de declarar o fim da guerra.

Selando a paz

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Em 1985, Roy Duncan, um historiador local de Scilly, escreveu à embaixada holandesa em Londres para saber sobre a alegação de que havia uma guerra que durava 335 anos entre os Países Baixos e as Ilhas. Revirando os documentos, a embaixada descobriu toda a história, e Duncan, preocupado com a possibilidade de uma nova ameaça, escreveu ao embaixador holandês Rein Huydecoper para que visitasse Scilly e assinasse um tratado de paz.

Em 17 de abril de 1986, o tratado foi assinado, pondo fim à guerra entre as Ilhas Scilly e o Reino dos Países Baixos e, consequentemente, à ideia de que a Holanda poderia ter atacado as Ilhas a qualquer momento devido a um descuido histórico.

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