Artes/cultura
16/04/2019 às 12:00•3 min de leitura
Você já deve ter assistido a algum filme — ou ouvido sobre casos — em que um cardume de piranhas nervosas ataca um cidadão azarado e reduz o pobre coitado a um mero esqueleto em questão de minutos, certo? Apesar de esse tipo de história ter rendido aos peixes uma reputação e tanto, será que eles realmente gostam de petiscar a carne humana e de devorar uma pessoa inteira tão depressa? Existem controvérsias...
De acordo com Karl Smallwood, do portal Today I Found Out, a verdade é que as piranhas não sentem o menor interesse pelos humanos, e existem incontáveis registros de sujeitos — corajosos — que se meteram em águas infestadas pelos peixes “assassinos” sem levar um mordisco sequer.
Elas não têm um sorriso muito simpático...
Aliás, segundo Karl, para provar que esses animais são inofensivos, um especialista em peixes tropicais chamado Herbert Axelrod inclusive entrou em uma piscina repleta de piranhas-vermelhas, consideradas as mais perigosas, usando apenas um calção de banho e segurando um pedaço sangrento de carne diante do corpo com um gancho. Os bichos, educados, comeram a carninha oferecida e deixaram a “carnona” de Axelrod completamente intacta.
Embora as piranhas sejam conhecidas pelo seu comportamento extremamente agressivo e pelo apetite voraz — especialmente pela terna carne de presas desavisadas —, elas são incrivelmente tímidas e omnívoras, o que significa que elas comem qualquer coisa.
As piranhas não têm frescura na hora de comer
Na realidade, em vez de atacar, as piranhas, mesmo as dos tipos mais carnívoros, preferem se alimentar da carcaça de animais mortos — em vez de correr o risco de serem contra-atacadas pelas presas. E quando elas buscam uma presa viva para devorar, geralmente vão atrás de vermes, insetos e peixinhos pequenos.
Ademais, as piranhas não formam cardumes para atacar outros bichos, mas sim para se proteger de outros predadores. Elas estão bem longe do topo da cadeia alimentar e são presas comuns de outros animais, entre eles, jacarés, aves, botos, outros peixes e, evidentemente, os humanos.
Além da demonstração corajosa realizada por Herbert Axelrod que descrevemos anteriormente, estudos apontaram que as piranhas demonstram sentir nervosismo e medo quando se encontram sozinhas e inclusive tendem a se esconder na presença de humanos. Em grupo, elas ficam menos tímidas, mas, mesmo assim, se comportam como um cardume de peixes qualquer — e tendem a guardar distância sempre que possível.
Elas também vão para os nossos pratos
Entretanto, é importante lembrar que as piranhas contam com dentinhos afiados como agulhas, corpos musculosos e ágeis, uma das mordidas mais poderosas entre os peixes (relativa ao tamanho corporal) e estão incrivelmente bem adaptadas para rasgar a pele e inclusive cortar através de ossos — como os dos dedos humanos, por exemplo.
Com relação aos ataques a pessoas, como eles normalmente ocorrem em regiões rurais e isoladas, os incidentes raramente são devidamente documentados, portanto é quase impossível estimar quantos ocorrem anualmente. Meu pai mesmo levou um mordisco no pé em uma ocasião — por sorte, o ferimento não foi grave! —, e nós nunca comunicamos o caso. E quando os episódios são relatados, muitas vezes os envolvidos exageram nos detalhes.
Por via das dúvidas, eu manteria distância!
A estimativa é de que ocorram centenas de ataques contra humanos por ano, mas eles costumam ser como o que o meu pai sofreu, ou seja, uma mordida isolada — arrancando um pedacinho de carne, no máximo. E, quase sempre, os incidentes não estão relacionados com a obtenção de alimento, mas sim como forma de alerta, para afugentar quem se aproxima demais do território onde ocorre o acasalamento ou onde as fêmeas depositam seus ovos.
Incidentes maiores são extremamente raros e geralmente ocorrem em circunstâncias bem específicas. A maioria acontece durante os períodos de estiagem, quando a disponibilidade de alimentos é menor e as piranhas se tornam mais agressivas. Mas, considerando que esses peixes comem praticamente de tudo, é bem difícil que eles fiquem muito famintos. O normal é que, quando um cadáver humano aparece com mordidas de piranha, a pessoa já estivesse morta.
Agora que já explicamos o comportamento das piranhas e a raridade dos incidentes envolvendo humanos, vamos supor que se dão as condições perfeitas para um ataque sanguinário! A estiagem foi braba, os peixes estão presos em um pequeno lago há semanas e excepcionalmente esfomeados. Então, um sujeito todo ensanguentado chega cambaleando, tropeça e cai de cara na água. O que aconteceria?
Ooops... aquela ali no meio está olhando para você!
Pois, dependendo do grau de fome das piranhas, a estimativa é de que seriam necessários entre 300 e 500 peixes para devorar um ser humano completamente, até os ossos, em cerca de 5 minutos. Entretanto, se os animais não estiverem muito, muito famintos mesmo, é bem provável que eles simplesmente prefiram ignorar o cara coberto de sangue — e só se interessem por seu corpinho depois que ele estiver bem morto.
Um dos responsáveis por espalhar o “boato” de que os peixes são ávidos devoradores de pessoas foi ninguém menos do que o presidente norte-americano Theodore Roosevelt. Ele fez uma expedição no Brasil em 1913, e passou algum tempo explorando as florestas do nosso país. Pois, em uma de suas andanças, Roosevelt assistiu a um macabro espetáculo: um grupo de pescadores empurrou uma vaca (viva) dentro de um rio infestado de piranhas.
Olha o Roosevelt ali, em uma de suas expedições!
O cardume estraçalhou o corpo do animal bem diante dos olhos horrorizados de Roosevelt, e ele descreveu o evento detalhadamente em seu — popular — livro “Through the Brazilian Wilderness” (Nas Selvas do Brasil). O que o presidente não sabia é que os pescadores, marotos, haviam bloqueado durante várias semanas a parte do rio onde as piranhas se encontravam, deixando as coitadas morrendo de fome!