Você sabe por que as cobras mostram a língua?

12/08/2014 às 11:433 min de leitura

Se você quase entra em pânico só de pensar em uma serpente mostrando aquela linguinha bifurcada na sua frente, saiba que ela não faz isso exatamente para atacar. Existem outros motivos por trás dessa ação comumente vista nesses répteis.

Enquanto o mundo ainda não disponibilizava recursos melhores de pesquisa, muitos filósofos e outros estudiosos tinham as suas teorias sobre a linguinha assustadora das cobras. Certa vez, Aristóteles argumentou que esse formato de língua fornecia para as cobras "um prazer duplo para sabores, sendo dobrada a sua sensação gustativa".

Já o astrônomo italiano Giovanni Hodierna acreditava que a língua das serpentes servia para limpar a sujeira de suas narinas. Além deles, alguns escritores do século 17 achavam que ela servia como uma pinça para pegar moscas e outros animais. E até hoje muita gente pensa que as serpentes picam com essa língua bifurcada.

Porém, nenhuma dessas hipóteses acima é provável, segundo os especialistas. A maioria dos animais com língua a utilizam para degustação, para limpar a si próprios ou seus filhotes ou para capturar ou manipular suas presas. Alguns, incluindo os seres humanos, também a usam para fazer sons. Já as serpentes não usam a língua para qualquer uma dessas coisas.

Quem explicou melhor qual é a verdadeira função de as cobras mostrarem a língua foi Kurt Schwenk, biólogo evolucionista da Universidade de Connecticut, que tem experiência de 20 anos no assunto. Ele esclareceu sobre o assunto ao The Conversation. Confira abaixo quais foram as principais funções destacadas pelas quais as serpentes fazem isso:

Para cheirar

É isso mesmo. Cobras usam a língua para sentir a presença de algumas substâncias químicas no ar ou no solo. Mas o curioso é que a língua não tem receptores de odor ou de sabor.

Em vez disso, estes receptores ficam na região vomeronasal, ou órgão de Jacobson, que está localizado no céu da boca do animal. Assim que são recolhidas para dentro do órgão de Jacobson, as diferentes substâncias evocam diferentes sinais elétricos, que são transmitidos ao cérebro.

Antigamente, acreditava-se que a língua transmitia as substâncias diretamente ao órgão de Jacobson, porque tanto o órgão quanto os caminhos que levam a ele estão emparelhados com as pontas dela. Porém, algumas análises de raios X revelaram que a lingueta não se move no interior da boca fechada, pois ela simplesmente deposita as substâncias que foram recolhidas em tecidos sobre o assoalho da boca quando ela está fechando.

Portanto, é mais provável que esta mucosa carregue as moléculas da amostra para a entrada do órgão de Jacobson, quando a base da boca é elevada para entrar em contato com a parte de cima na sequência de um movimento da língua.

O argumento para isso é reforçado porque lagartixas e lagartos não têm línguas profundamente bifurcadas, mas ainda assim carregam substâncias para seus órgãos vomeronasais.

Cheirando em três dimensões

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Por ser bifurcada, a língua de uma cobra pode coletar informações químicas de dois lugares diferentes ao mesmo tempo. Quando elas espalham as pontas da língua de forma extensiva, a distância pode ser duas vezes maior que sua cabeça. E isso é importante porque lhes permite detectar níveis de cada substância no ambiente, dando um senso de direção.

Em outras palavras, as serpentes usam suas línguas bifurcadas para ajudar a sentir o cheiro em três dimensões, da mesma forma que as corujas usam os ouvidos para detectar sons em três dimensões.

Tanto as cobras quanto as corujas usam circuitos neurais semelhantes para comparar a intensidade do sinal emitido por cada parte do corpo e determinar de que direção um cheiro ou um som está vindo. Os humanos fazem isso com a sua audição também, mas não de forma tão eficaz.

Essa capacidade torna possível para as cobras seguir rastros deixados por suas presas ou parceiros em potencial. Na década de 1930, o biólogo alemão Herman Kahmann removeu experimentalmente a parte bifurcada de línguas de cobras e descobriu que elas ainda poderiam responder ao cheiro, mas haviam perdido a capacidade de seguir trilhas por odores. Estes resultados foram refinados e confirmados durante a década de 1970.

Farejando sexo

Como elas não são bobas nem nada, obviamente as cobras também utilizam a língua para “farejar” um parceiro em potencial. Na década de 1980, o biólogo Neil Ford, da Universidade do Texas, observava como as cobras do sexo masculino usavam a língua quando estavam seguindo trilhas de feromônios deixadas por fêmeas.

Em uma experiência, ele descobriu que, se as duas pontas da língua da cobra masculina encostavam o solo dentro da largura da trilha, ela continuava seguindo em frente. No entanto, quando a língua tocava um pouco para fora da trilha, a cobra virava a cabeça e voltava para a trilha de feromônio.

Chuck Smith, outro pesquisador da Faculdade de Wofford, encontrou evidências de que as cobras do sexo masculino do tipo Copperheads têm línguas mais profundamente bifurcadas do que as fêmeas, o que, presumivelmente, aumenta a sua capacidade de encontrar companheiras. As serpentes também utilizam as suas línguas para rastrear presas e perceber o perigo de predadores.

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