Ciência
17/05/2021 às 11:00•5 min de leitura
Na noite do último domingo, 16 de maio, aconteceu a 69ª edição do concurso de Miss Universo. A representante brasileira, Júlia Gama, foi muito bem em todos os desfiles e respondeu com destreza a uma pergunta sobre saúde mental na disputa pelo Top 5.
Mesmo assim, Júlia terminou a noite na segunda colocação, atrás da mexicana Andrea Meza, que foi coroada Miss Universo pela vencedora da edição de 2019, a sul-africana Zozibini Tunzi — em 2020, não houve concurso, por conta da pandemia.
A Miss Brasil, Júlia Gama, é gaúcha e tem 27 anos (Imagem: @missuniverse/Twitter)
A mexicana Andrea Meza ficou com a coroa (@missuniverse/Twitter)
A "medalha de prata" da brasileira, considerada favorita ao título, junto às misses do Peru e do Mexico, levantou algumas questões sobre os critérios do concurso. Afinal, se beleza é uma coisa tão subjetiva, como os juízes definem aquela que será considerada a mulher mais bonita do mundo?
Concursos de beleza existiam há décadas, nos Estados Unidos, mas a primeira edição do Miss Universo foi organizada pela fábrica de maiôs Catalina, em 1952 — para mostrar as belas moças em seus produtos, é claro.
Acontece que a vencedora do Miss America do ano anterior se recusou a posar para fotos em trajes de banho, estimulando a fábrica a romper o contrato de patrocínio e criar seu próprio concurso — dessa vez, com mulheres de todo o mundo.
A competição aconteceu em Long Beach, na Califórnia, e a vencedora foi a finlandesa Armi Kuusela, que tinha apenas 17 anos, na época. Armi ganhou um carro, um contrato com os estúdios de cinema Universal e foi chamada para participar das Olimpíadas de 1952, que foram disputadas na capital de seu país, Helsinki.
Finlandesa Armi Kuusela foi coroada a primeira Miss Universo, em 1952 (Imagem: Messy Nessy Chic/Reprodução)
Nas 69 edições que se seguiram, depois de 1952, muita coisa mudou no concurso. A fábrica de maiôs criou uma entidade independente, a Miss Universe Organization, que continua organizando as cerimônias até hoje.
Entre 1996 e 2015, a organização e a marca "Miss Universe" pertenciam ao empresário e ex-presente americano Donald Trump — as vencedoras ficavam morando em Nova York, num apartamento no Trump Place, durante seu reinado. Desde as polêmicas de Trump, incluindo acusações de abuso sexual e um caso extra-conjugal com uma vencedora, os direitos sobre a organização do concurso foram vendidos à agência de talentos WMG.
As transmissões na TV começaram em 1955, seguindo diversos formatos. As partes de entrevistas e respostas de perguntas surgiram nos anos 60, como forma de mostrar que o Miss Universo não fala apenas de beleza. Mais ou menos nessa época começaram os desfiles em trajes típicos, para que as moças valorizem as culturas de seus países.
Desfiles de trajes típicos e perguntas começaram nos anos 1960 (Imagem: Insider/Reprodução)
Atualmente, a Miss Universe Organization abraça mais esse lado "além da beleza" no concurso. O portal oficial afirma que o propósito do Miss Universo é "celebrar mulheres de todas as culturas e históricos, e empoderá-las a realizar seus objetivos através de experiências que criem auto-confiança e oportunidades para o sucesso".
Além da coroa e da faixa, a Miss Universo ganha um contrato para viver por um ano em Nova York e trabalhar nas iniciativas da organização — que incluem campanhas com os patrocinadores, além de diversas atividades filantrópicas, com instituições associadas. O prêmio em dinheiro ou o salário do contrato não são divulgados.
Antes de eleger a vencedora, as misses de todos os países passam por vários eventos — a programação completa dura cerca de duas semanas, mas já chegou a levar um mês entre os anos 1970 e 1990. Isso inclui desfiles diversos, incluindo trajes típicos e roupas de banho, além de rodadas de entrevista, onde a candidata deve demonstrar simpatia e inteligência. Tudo isso conta pontos para definir as semifinalistas.
O número de semifinalistas varia conforme a edição — na última, foram 21 misses —, mas a lista é anunciada no evento final, que é o que vemos na televisão. A partir daí, elas passam por outros desfiles e chegam à rodada de perguntas e respostas, onde os jurados quem será a Miss Universo daquele ano. O júri também varia, mas costuma ter celebridades e ex-misses.
Nas edições mais recentes, além de responder às perguntas (com temas cada vez mais complexos), as misses precisam fazer pronunciamentos sobre temas sorteados. Assim, a brasileira Júlia Gama falou sobre saúde mental e vencedora Andrea Meza falou sobre os padrões de beleza da sociedade.
Miss Universo 2018, Catriona Gray, respondendo à pergunta do apresentador Steve Harvey (Imagem: MissNews/Reprodução)
Pegando o gancho do pronunciamento da vencedora, uma das críticas ao concurso Miss Universo é que ele perpetua padrões de beleza: mulheres geralmente brancas, loiras e magras. Isso não deixa de ser verdade, mas a organização do concurso tem buscado participação de mulheres diferentes, ao longo do tempo.
Em 1959, a japonesa Akiko Kojima foi a primeira asiática a ser coroada Miss Universo, mas foram necessárias quase duas décadas depois disso para que uma negra vencesse o concurso: a pioneira foi Janelle Comissiong, de Trinidad e Tobago, em 1977. Em 2019, a sul-africana Zozibini Tunzi foi a primeira mulher negra a ganhar usando um cabelo afro.
Já os corpos continuam sendo bastante magros, no padrão das modelos, embora o concurso esteja começando a "abrir a mente" nesse aspecto. Na edição de 2016, por exemplo, a Miss Canada, Siera Bearchell, exibia curvas que fogem um pouco desse padrão esguio. Siera chegou ao top 10, mas, infelizmente, recebeu muitos comentários maldosos na internet, a chamando de "gorda".
A Miss Canada 2016, Siera Bearchell, recebeu comentários maldosos por seu corpo curvilíneo (Imagem: Quem/Reprodução)
Desde 2012, o Miss Universo também passou a aceitar mulheres trans. A primeira a ganhar sua etapa nacional e ir para a grande competição foi Ângela Ponce (Espanha).
Para terminar esse verdadeiro dossiê sobre o concurso de beleza mais famoso do universo, vamos falar sobre os países que mais venceram o concurso — e onde o Brasil se encontra nesse ranking.
A Venezuela é conhecida por seu bom desempenho no Miss Universo, com sete campeãs: 1979, 1981, 1986, 1996, 2008, 2009 (primeira vez que uma Miss passou a coroa para uma compatriota) e 2013.
Contudo, os Estados Unidos são o país mais vitorioso, pois têm uma coroa a mais, totalizando oito. A última vitória foi de Olivia Culpo, em 2012. Já a primeira tem tudo a ver com a situação do Brasil no Miss Universo: um ótimo segundo colocado.
Isso porque, na edição de 1954, a baiana Martha Rocha era absolutamente favorita ao título, com seu carisma e seu sorriso. Contudo, a coroa acabou na cabeça da americana Miriam Stevenson, que ganhou o primeiro título de seu país. Não se sabe qual foi o critério adotado na decisão, mas a mídia brasileira — indignada com o resultado — criou uma história de que ela teria sido desclassificada por ter "duas polegadas" (5 cm) a mais no quadril — o que não era verdade, mas virou lenda urbana no país.
Martha Rocha (à direita) foi a primeira Miss Brasil e nossa primeira vice no Miss Universo (Imagem: Extra/Reprodução)
Desde então, outras cinco Miss Brasil bateram na trave — como Júlia Gama, em 2021 — e mais de 30 passaram para as semifinais — o nosso país vai bem no Miss Universo!
Mesmo assim, apenas duas brasileiras trouxeram a coroa para cá: a gaúcha Ieda Maria Vargas, em 1963, e a baiana Martha Vasconcellos, em 1968. Já é um jejum de 50 anos!
Ieda Maria Vargas (1963) e Martha Vasconcellos (1968) são as duas brasileiras que ganharam o Miss Universo (Imagem: Zine Cultural/Reprodução)