Cratera gigante no Saara revela segredos do deserto

28/11/2024 às 12:002 min de leituraAtualizado em 28/11/2024 às 12:00

O deserto do Saara, tão vasto quanto misterioso, guarda um segredo que só os olhos vindos do espaço conseguem captar: um enorme “olho” esculpido na terra pelo impacto de um meteoro há milhões de anos. Localizada no norte do Chade, a Estrutura de Aorounga é uma cratera de 12,6 km de diâmetro que, com seus anéis circulares, parece mesmo estar nos encarando. Ao seu redor, as dunas de areia movem-se incansavelmente, ajudando cientistas a entender os movimentos das paisagens desérticas.

Capturada em uma impressionante imagem de 2013 feita por astronautas, a cratera é uma das mais antigas da Terra. Suas marcas contam histórias de destruição em massa, enquanto as dunas ao redor mostram como a força do vento molda o deserto de forma contínua.

Um olho esculpido pelo caos

A estrutura de Aorounga, com cerca de 12 quilômetros de diâmetro, é o rastro deixado por um asteroide devastador que atingiu a Terra com força suficiente para destruir cidades. (Fonte: Reprodução/Nasa/Estação Espacial Internacional)
A estrutura de Aorounga, com cerca de 12 quilômetros de diâmetro, é o rastro deixado por um asteroide devastador que atingiu a Terra com força suficiente para destruir cidades. (Fonte: Reprodução/Nasa/Estação Espacial Internacional)

A Estrutura de Aorounga se formou há cerca de 345 milhões de anos, após o impacto de um meteoro de aproximadamente 600 metros de diâmetro. Apelidado de “assassino de cidades”, esse tipo de meteoro seria capaz de causar destruição catastrófica, possivelmente afetando até o clima global. Seus dois anéis concêntricos lembram um olho: o “pupilo” central, com um pequeno monte no meio, e as bordas externas que parecem uma pálpebra.

Com o tempo, a erosão apagou algumas de suas características, mas o formato continua impressionante. Além disso, linhas escuras atravessam os anéis da cratera, que, segundo o Serviço Geológico dos EUA, são formações chamadas yardangs — maciços de rocha desgastados pelo vento, que se erguem como esculturas naturais no deserto.

A curiosidade dos cientistas vai além da cratera principal. Imagens de radar capturadas na década de 1990 revelaram outras estruturas semelhantes próximas a Aorounga, levantando a hipótese de que ela faz parte de uma cadeia de crateras criada por fragmentos menores do mesmo meteoro.

Dunas que nunca param

A foto de 2013 (abaixo) ajudou os pesquisadores a monitorar o movimento das dunas de barchan, comparando suas posições com uma imagem de satélite de 2003 (acima). (Fonte: Reprodução/NASA/Estação Espacial Internacional/Google Earth)
A foto de 2013 (abaixo) ajudou os pesquisadores a monitorar o movimento das dunas de barchan, comparando suas posições com uma imagem de satélite de 2003 (acima). (Fonte: Reprodução/NASA/Estação Espacial Internacional/Google Earth)

As dunas ao redor do “olho” também são um espetáculo à parte. Conhecidas como dunas barcânicas, elas têm formato de meia-lua e se movem de acordo com a direção dos ventos. Um estudo comparando imagens de satélite revelou que, entre 2003 e 2013, algumas dessas dunas viajaram mais de 400 metros!

Curiosamente, as menores são as que mais se deslocam, enquanto as maiores permanecem mais estáveis. Isso ocorre porque as menores são mais vulneráveis às forças do vento. Segundo a NASA, algumas dunas pequenas podem até se desfazer completamente em menos de uma década.

Estudar esses movimentos ajuda cientistas a prever o impacto das dunas em áreas habitadas, estradas e terras agrícolas. Afinal, as dunas não são só bonitas — elas podem se transformar em problemas bem práticos para as populações locais. Combinando mistério e ciência, a Estrutura de Aorounga e suas dunas são um lembrete de que o deserto está longe de ser uma paisagem estática. Ele é dinâmico, sempre em movimento, e guarda histórias que só a paciência dos pesquisadores pode desvendar.

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