Ciência
12/09/2022 às 13:00•2 min de leitura
No fim do século XIX, quando ainda faltavam décadas para a Guerra Civil norte-americana acontecer, muitas pessoas nos Estados Unidos já debatiam o que deveria acontecer no país caso a população negra se tornasse livre e a escravidão fosse abolida. Então, um grupo de homens brancos decidiu criar a Sociedade Americana de Colonização (ACS).
A ACS surgiu meio século antes da abolição da escravidão realmente acontecer em território americano, mas já contava com nomes ilustres na época. Entre eles estavam o então presidente dos EUA, James Madison (1809-1817), o ex-presidente Thomas Jefferson (1801-1809) e os futuros presidentes James Monroe (1817-1825) e Andrew Jackson (1829-1837). O que esse grupo não sabia, no entanto, é que seriam responsáveis pela criação de um novo país na África.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Dentro da ACS, os integrantes possuíam opiniões divergentes a respeito da escravidão. Embora alguns deles fossem abolicionistas e desejavam que a população negra pudesse construir uma vida melhor na África, outros simplesmente não acreditavam na abolição e pensavam que pessoas negras livres não deveriam continuar vivendo nos Estados Unidos.
Na visão dos proprietários de escravos da época, o crescente número de negros libertos poderia fomentar rebeliões entre os ainda escravizados. Portanto, uma das opções era até mesmo oferecer alforria com a condição de que os recém-libertos aceitassem se mudar para a África.
Por isso, a ACS chegou a um acordo sobre um projeto de colonização na África, que estabeleceria naquele local um lar para os libertos e diminuiria o número de pessoas negras livres nos EUA. A ideia ganhou popularidade e até mesmo grande parcela da população negra parecida apoiar um retorno à África.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Ao mesmo tempo do surgimento da ACS, a Coroa Britânica já havia criado uma colônia na Costa Oeste da África, Serra Leoa, para receber ex-escravizados — inclusive muitos que fugiram dos EUA para o Canadá. Com isso, o projeto da ACS ganhou grande popularidade em 1818 e representantes foram enviados à África com a missão de encontrar terras para uma nova colônia.
A primeira missão, executada em 1820, teve grande fracasso — muitos dos enviados morreram de malária em uma região na costa de Serra Leoa. Em 1821, no entanto, uma faixa de terra de 58 km de comprimento por 5 km de largura foi comprara de líderes locais na região costeira de Cabo Mensurado. A operação total custou cerca de US$ 300.
Os primeiros moradores vindos dos EUA chegaram em abril de 1822. Apesar de ser uma colônia criada para abrigar americanos negros, quem administrava tudo no começo eram representantes brancos da ACS. Em 1824, o local recebeu o nome de Libéria, e sua capital foi batizada de Monróvia — uma homenagem ao presidente americano James Monroe.
Novas aquisições de terras ampliaram o território da colônia no futuro, fazendo com que mais de 13 mil norte-americanos fossem transferidos para a região nas décadas seguintes. A colônia declarou independência da ACS em 1847, tornando-se a segunda república negra do mundo, depois do Haiti. Por fim, as relações diplomáticas com os EUA só foram estabelecidas em 1862, em meio à Guerra Civil.