Ciência
10/11/2024 às 15:00•3 min de leituraAtualizado em 10/11/2024 às 15:00
Enquanto o explorador francês René-Robert Cavelier, mais conhecido como Sieur de La Salle, sonhava em estabelecer um posto avançado no Novo Mundo, a realidade que aguardava sua expedição era mais sombria do que ele poderia imaginar. Em 1684, La Salle partiu da França com o objetivo ambicioso de colonizar a foz do rio Mississippi, uma localização estratégica para desafiar o poderio espanhol e inglês. Porém, ele não esperava o que vinha pela frente.
Os problemas começaram desde o início: disputas internas, doenças e o roubo de um dos navios por corsários espanhóis deixaram a expedição enfraquecida. Pior ainda, La Salle, confiando em mapas imprecisos e com instrumentos quebrados, errou o destino e acabou desembarcando não no Mississippi, mas na Baía de Matagorda, no atual Texas. Esse erro selaria o destino de toda a colônia.
Ao perceber que estavam longe do objetivo, La Salle decidiu estabelecer um posto temporário e chamou o local de Fort St. Louis. Construir o assentamento foi uma tarefa árdua: com poucos recursos e contando apenas com madeira de um dos navios naufragados, a construção foi lenta e cobrou vidas. Cerca de trinta homens morreram logo no início.
Além das perdas humanas, a colônia enfrentava problemas de suprimentos, e os colonos sobreviviam principalmente de caça e pesca, com dificuldades extremas para se adaptar ao novo ambiente. As tentativas de plantar trigo e feijão falharam, e a caça ao bisão, apesar de crucial, também era perigosa. Alguns colonos foram pisoteados, outros adoeceram ou morreram de fome e exaustão.
As tensões com os indígenas locais, especialmente os Karankawas, só pioraram a situação. O experiente explorador tentou replicar a diplomacia que havia usado com outras tribos no Canadá, mas a interação dessa vez foi um desastre. Após um incidente em que alguns franceses “recuperaram” bens do naufrágio que os Karankawas haviam recolhido, a hostilidade tomou conta da relação.
Os franceses eram frequentemente emboscados, e La Salle tentou atacar os nativos para acabar com os conflitos, mas as ações só aumentaram o ódio entre eles. O comandante, cada vez mais cercado por inimigos externos e desentendimentos com seus próprios homens, via seus planos de colonização se despedaçarem.
Desesperado, em 1687, La Salle decidiu abandonar Fort St. Louis e marchar até o rio Mississippi na esperança de encontrar socorro. Ele partiu com seus homens mais fortes, mas a jornada acabou em traição: alguns de seus homens se rebelaram, e o próprio La Salle foi assassinado.
Sua morte não trouxe apenas o fim do líder da expedição, mas também o golpe final na colônia. Os Karankawas, percebendo o enfraquecimento dos colonos e a desordem que os assolava, atacaram o assentamento e mataram os poucos sobreviventes restantes. Crianças foram poupadas e adotadas pelos Karankawas, mas o resto dos colonos que La Salle havia deixado foram mortos.
Meses após o massacre, soldados espanhóis, informados sobre a presença francesa, chegaram ao local onde ficava Fort St. Louis e encontraram um cenário de destruição. Dos quase 300 colonos que deixaram a França, sobraram apenas alguns sobreviventes espalhados, sendo que poucos conseguiram retornar à Europa.
Com o local abandonado, os espanhóis incendiaram os prédios restantes e enterraram os canhões, garantindo que a presença francesa não deixasse vestígios.
Apesar do fracasso trágico, a tentativa de colonização de La Salle marcou o Texas. Esse breve período de ocupação francesa instigou os espanhóis a mapear o território e estabelecer bases permanentes, como missões e presídios.
A influência francesa, mesmo breve e desastrosa, contribuiu para a complexa história colonial da região. Em sua busca malfadada por glória e território, La Salle acabou deixando um legado de sonhos desfeitos e vidas perdidas, mas também ajudou, ainda que indiretamente, a definir o futuro do Texas.