Ciência
02/12/2024 às 21:00•2 min de leituraAtualizado em 02/12/2024 às 21:00
Como consequência do aquecimento global, o permafrost siberiano está derretendo e revelando um tesouro em materiais biológicos e fósseis. Depois de restos de mamutes, bisões, cavalos e muitas aves pré-históricas, emergiu do gelo um mamífero icônico: o filhote de um gato-dente-de-sabre (Homotherium latidens) incrivelmente bem preservado.
Escavado em 2020 na margem gelada do Rio Badyarikha, na Sibéria russa, por garimpeiros em busca de presas de mamute, o gatinho-dente-de-sabre é o primeiro fóssil já descoberto desse felino que viveu há 37 mil anos, no final do Pleistoceno, período popularmente conhecido como Idade do Gelo.
Embora fosse apenas um bebê com três semanas de vida quando morreu, o filhote está fornecendo uma visão real de como a espécie, que não tem análogos na fauna moderna, realmente se parecia.
Assim que estava completamente livre da geleira, a múmia foi cuidadosamente transportada para a Academia Russa de Ciências em Moscou, onde os cientistas se encantaram com a possibilidade estudar um espécime tão raro.
Apesar de jovem, o animalzinho já apresentava uma grossa camada de "pelo curto, grosso, macio e marrom escuro", mais longo nas costas e no pescoço do que nas pernas, além de tufos de pelo perto da boca, como a barbicha de alguns gatos. Para se deslocar na neve, o bicho já possuía "almofadas" quase intactas na parte inferior das patas, chamadas de feijões
A maior curiosidade foi, naturalmente, observar os dentes do felino, retratado nos filmes como salientes e expostos fora da boca. Embora no gatinho, os temíveis dentes pontiagudos ainda não estivessem totalmente desenvolvidos, foi possível observar que o lábio superior do H. latidens "excede o do filhote de leão mais de duas vezes", o que sugere que os dentões desses gatos ficavam cobertos.
A múmia de Hemotherium não é importante apenas pela sua anatomia agora revelada, mas também porque representa uma visão inédita da história evolutiva do grupo taxonômico dos felinos, explica à CNN o paleontólogo Jack Tseng, que não esteve envolvido na descoberta, e estuda a anatomia de mamíferos extintos.
Segundo o especialista, o estudo de DNA de antigos fósseis do gato-dente-de-sabre revelaram que o gênero se separou de outros felinos antigos há cerca de 18 milhões de anos. Por isso, o filhote "representa uma parte daquela árvore genealógica que remonta quase à origem da família dos felinos".
Falando à emissora americana, o primeiro autor do estudo, AV Lopatina, da Academia Russa de Ciências, explicou que o próximo passo é extrair DNA da múmia para entender detalhadamente a espécie, bem como o esqueleto, músculos e pelos.
O estudo foi publicado na revista Scientific Reports.