Artes/cultura
30/01/2013 às 11:04•3 min de leitura
(Fonte da imagem: Reprodução/Smithsonian.com)
Imagine a Sibéria: uma gigantesca região da Rússia com mais de 10 milhões de quilômetros quadrados que, durante a maior parte do ano, permanece coberta de gelo e neve. Até hoje, essa área continua sendo um dos territórios mais ermos do planeta e, de acordo com um artigo publicado pelo site Smithsonian.com, foi nessa região que, em 1978, um helicóptero descobriu por acaso uma família vivendo completamente isolada do mundo exterior.
O helicóptero servia a um grupo de geólogos, e originalmente tentava encontrar um local de pouso seguro para que a equipe pudesse explorar uma reserva de minério de ferro. Mas, depois da descoberta do pequeno agrupamento humano, os pesquisadores decidiram mudar o foco de sua exploração.
(Fonte da imagem: Reprodução/Smithsonian.com)
Segundo os relatos, a família vivia em uma cabana de madeira, e o primeiro integrante a aparecer foi um senhor idoso vestido com roupas feitas de fibras e cobertas de remendos. O homem se apresentou descalço e com uma enorme barba, e apesar de se mostrar muito assustado e apreensivo durante as “apresentações”, convidou os geólogos para entrar na casa que, surpreendentemente, abrigava outras quatro pessoas.
Aos poucos, e no decorrer de inúmeras visitas ao local, os pesquisadores foram descobrindo a história da família. O idoso se chamava Karp Lykov, e pertencia a uma seita fundamentalista da igreja ortodoxa russa que foi perseguida durante muitos anos. Os seguidores mantinham os mesmos preceitos desde o século 17 e, quando os bolcheviques tomaram o poder, começaram a se refugiar na Sibéria para fugir da perseguição.
Assim, para escapar dos comunistas, que na década de 30 começaram a atacar abertamente todas as religiões instaladas na Rússia, Karp reuniu sua família — na época, a esposa, duas filhas e um filho —, os poucos pertences que tinham e algumas sementes, e se tornaram reclusos nas florestas da Sibéria. Karp teve outros dois filhos depois de se mudar para a área, e essas duas crianças jamais haviam tido qualquer contato com outro ser humano.
(Fonte da imagem: Reprodução/Smithsonian.com )
As crianças da família Lykov só aprenderam aquilo que os pais lhes ensinavam, e sabiam da presença de outras pessoas vivendo apertadas em grandes cidades, assim como da existência de outros países além da Rússia. Mas seus únicos materiais de leitura e fontes de informação eram alguns livros de orações, uma antiga bíblia e a memória de seus pais.
A região na qual a família se instalou — no meio da taiga — era de difícil acesso, e o último agrupamento humano avistado pelos pesquisadores ficava a mais de 250 quilômetros do local. As roupas e os calçados eram produzidos a partir de fibras naturais encontradas nos bosques, que eram tecidos em um antigo tear que a família possuía. Os poucos utensílios de cozinha foram se perdendo com o tempo, sendo substituídos por objetos feitos com casca de árvores.
Cozinhar foi se tornando gradualmente impossível pela falta de utensílios adequados assim que os integrantes da família passaram a se alimentar basicamente de uma mistura de batatas com alguns grãos e sementes de cânhamo. Além dessa espécie de purê, durante os poucos meses sem neve eles colhiam frutas silvestres e alguns frutos secos, e caçavam alguns poucos animais para obter carne e peles.
Entretanto, a fome era um problema constante, e a mãe da família acabou morrendo de inanição durante um dos muitos períodos durante os quais os Lykov tiveram que enfrentar sem comida.
(Fonte da imagem: Reprodução/Smithsonian.com )
As novidades trazidas pelos pesquisadores causaram muito espanto aos Lykov, que não acreditavam que o homem havia pisado na Lua e passaram inadvertidos pela Segunda Guerra Mundial. Entretanto, eles haviam percebido a presença de estranhas estrelas que cruzavam o céu mais rapidamente — os satélites! — e o que mais os surpreendeu foi uma embalagem plástica que, conforme descreveu Karp, era de um vidro que se enrugava.
Depois de muitas visitas, os geólogos conseguiram convencer a família a visitar seu acampamento. Nas raras ocasiões em que eles estiveram por lá, se entregaram ao irresistível poder de um objeto fantástico: a televisão. Segundo os pesquisadores, como assistir à TV era considerado um pecado, a família rezava mais tarde — ou até durante os programas — para pedir perdão pela grave transgressão.
(Fonte da imagem: Reprodução/Smithsonian.com)
Depois de tantos anos de isolamento, os filhos conversavam em um idioma distorcido pelo tempo, totalmente inteligível. Eles nunca haviam visto pão em suas vidas, e o único integrante que podia ser compreendido era o velho Karp. O primeiro “presente” que aceitaram foi um pouco de sal e, mais tarde, os Lykov começaram a incorporar algumas comodidades cedidas pelos geólogos, como talheres, sementes, papel e caneta e até uma lanterna elétrica.
Infelizmente, em 1981, pouco depois de serem descobertos pelos pesquisadores russos, três integrantes da família faleceram — dois de insuficiência renal, possivelmente devido à pobre dieta, e o terceiro de pneumonia, provavelmente causada pela exposição aos novos amigos. Ainda resta um dos integrantes da família vivo: uma das filhas, que apesar de estar com mais de 70 anos de idade, continua vivendo no mesmo lugar, de onde se recusa a sair.