Ciência
15/03/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 15/03/2024 às 14:57
Se observarmos de perto um caranguejo-ferradura, essencialmente estaremos olhando para uma criatura de milhões de anos que nos mostra um pouco sobre o passado do nosso planeta. Animais como eles, celacantos e ornitorrincos são o que Charles Darwin batizou de "fósseis vivos", espécies que ainda existem e que mostram muito poucas diferenças físicas em relação aos seus ancestrais.
Contudo, outra criatura parece ter ganhado recentemente o título de rei dos fósseis vivos: o gar, um antigo peixe com nadadeiras raiadas e que evoluiu mais lentamente do que qualquer outra espécie de vertebrados. Inclusive, um novo estudo publicado na revista Evolution descobriu que eles têm a taxa de evolução mais lenta entre todos os vertebrados com mandíbula — apresentando um genoma que muda muito mais lentamente do que outros animais.
Ao todo, existem sete espécies conhecidas de gars. Esses peixes podem ser encontrados na América do Norte e vivem tanto em águas doces, salgadas e salobras, mas principalmente em estuários. Eles têm corpos em formato de dardos e um bico longo que funciona como uma pinça. Além disso, os gars também põem ovos de cor verde que são altamente tóxicos para qualquer predador que almeja comê-los.
Todas as sete espécies vivas desse peixe são quase idênticas aos primeiros fósseis de gars conhecidos, o que explica o fato de serem "fósseis vivos" tão proeminentes. Esses espécimes datam de cerca de 150 milhões de anos atrás, no período Jurássico. Já há 100 milhões de anos, uma das duas principais linhagens vivas desses animais começou a aparecer nos nossos registros fósseis.
Em um novo estudo, cientistas analisaram um conjunto de 1.105 regiões codificadoras do DNA de uma amostra de 471 espécies de vertebrados com mandíbulas. Então, eles descobriram que o DNA dos gars evoluiu consistentemente até três vezes mais devagar do que qualquer outro grupo importante de vertebrados.
Para entender mais sobre esses peixes, os pesquisadores analisaram um processo chamado hibridização, onde duas espécies diferentes produzem descendentes viáveis que têm a capacidade de se reproduzir quando chegam na fase adulta. Algumas espécies de gar conseguem se reproduzir entre si e seus descendentes permanecem férteis ao atingir a maturidade sexual — algo não muito comum na natureza.
De acordo com o estudo, os gars têm a divisão parental identificada mais antiga entre todos os animais, plantas e fungos que podem produzir descendentes capazes de sobreviver e se reproduzir. Os recordistas anteriores eram duas espécies de samambaias. Nesse caso, o ancestral comum dos gars é cerca de 60 milhões de anos mais velho que o ancestral comum de ambas as samambaias.
Para os investigadores, isso só é possível porque esses peixes possuem um aparato de reparo de DNA incomumente forte. Sendo assim, eles conseguem corrigir mutações somáticas e germinativas antes da concepção de seus filhotes, garantindo a saúde da prole.