Artes/cultura
03/09/2014 às 07:34•4 min de leitura
Quem é que não tem algum tipo de medo ou já se amedrontou diante de alguma situação? Barulhos estranhos dentro de casa, pessoas desconhecidas nos seguindo na rua, animais bravos, filmes de terror e muitos outros motivos são o suficiente para fazer o coração disparar, as mãos suarem, a respiração acelerar e os músculos se contraírem.
Muitas pessoas gostam de sentir medo. A excitação que vem com ele pode ser até agradável para alguns, como é o caso das pessoas que amam filmes de terror ou brinquedos de parque de diversão. Porém, na maioria dos casos, o medo não é muito bem-vindo. Mas você sabe o motivo pelo qual o sentimos? Sabe o que causa essa reação tão intensa?
O medo é uma reação involuntária causada quando passamos por algum estímulo estressante. O cérebro libera substâncias químicas que causam o disparo do coração, a respiração rápida, a contração do músculo, entre outras coisas. Tudo isso também é conhecido como reação de luta ou fuga.
O estímulo para que isso aconteça pode ser causado por várias coisas: uma barata, um revólver na cabeça, um teatro cheio de pessoas esperando por um discurso seu, o baque da porta diante do sopro do vento, entre outras inúmeras causas. O cérebro é acionado involuntariamente, ninguém tem controle sobre isso.
Existem dois caminhos para a reação do medo: o caminho baixo, que é rápido e confuso, e a estrada, que leva mais tempo e entrega uma interpretação mais precisa dos estímulos. A ideia principal do caminho baixo é não se arriscar. Vamos dar um exemplo da porta batendo para que todos entendam melhor esse processo.
Se a porta da frente da sua casa bate de repente, pode ser o vento ou um ladrão. O caminho baixo nos leva primeiramente a acreditar que é um ladrão, pois é mais fácil nos preparamos para o pior do que acreditarmos que é o vento e nos vermos diante do revólver de um bandido.
A porta batendo é o estímulo e o cérebro envia esses dados para o tálamo. Esse, por sua vez, não sabe se os sinais são perigosos ou não, mas, uma vez que podem ser, ele manda a informação para a amígdala. Ela recebe os impulsos neurais e age para proteger você, dizendo ao hipotálamo para iniciar a reação de luta ou fuga.
O caminho da estrada é mais complexo. Aqui, são consideradas todas as opções. Por exemplo: a porta batendo é um ladrão ou é o vento? Os olhos e os ouvidos mandam essa informação para o tálamo, que manda tudo para o córtex sensorial. Lá, os dados são interpretados, criando um significado.
Depois de determinado um resultado, tudo é enviado para o hipocampo, que estabelece um contexto. Ele cria perguntas como: “Eu já senti esse estímulo antes? O que isso significou? Existem outras coisas acontecendo que dão pistas sobre ser um ladrão ou vento?”. Todos os dados são transmitidos e analisados, determinando o que realmente pode ser.
Então, tudo isso é enviado para a amígdala, que, por sua vez, diz ao hipotálamo se deve ou não desligar a reação de luta ou fuga. A estrada leva mais tempo que o caminho baixo e é por isso que temos mais momentos de terror antes de nos acalmarmos quando o medo é ativado através dela.
Para ativar essas reações, o hipotálamo liga dois sistemas: o nervoso simpático e o adrenal-cortical. O primeiro utiliza as vias nervosas para iniciar as reações do corpo e o segundo usa a corrente sanguínea. Combinando os dois, sentimos aquela vontade de sair correndo ou de enfrentarmos o perigo em busca da sobrevivência.
Quando o sistema nervoso simpático é ativado, o corpo acelera, fica tenso e torna-se imediatamente alerta. Se houver um ladrão na porta, você vai ter que tomar medidas rápidas. Ao mesmo tempo, o hipotálamo libera corticotropina na glândula pituitária quando o sistema adrenal-cortical é acordado, movendo-se pela corrente sanguínea.
Essa inundação de adrenalina, noradrenalina e dezenas de outros hormônios provoca mudanças no corpo, como aumento da pressão arterial, pupilas dilatadas, veias contraídas, aumento de glicose, músculos tensos, dificuldade de concentração, desligamento do sistema imunológico, entre muitos outros sintomas.
O medo está associado ao instinto de sobrevivência. Se não o sentíssemos, nós não sobreviveríamos por muito tempo. Caminharíamos no meio do trânsito, conviveríamos com pessoas infectadas por doenças contagiosas, estaríamos lado a lado com animais ferozes. Mas as pessoas aprenderam a temer no decorrer da evolução humana.
A resposta ao medo pode ter sido aperfeiçoada com a evolução, mas também há um outro lado: o medo condicionado. É ele que faz com que algumas pessoas encarem os cães como monstros, enquanto a maioria os considera parte da família. Talvez essas pessoas tenham sido mordidas quando crianças e, tempos depois, o cérebro ainda associa cachorros à ameaça.
Existem muitos tipos de medos, mas alguns são bem mais comuns. Segundo uma pesquisa realizada com adolescentes americanos em 2005, os 10 medos mais frequentes são os ataques terroristas, aranhas, mortes, erros, guerra, peso, violência/crime, estar sozinho, futuro e guerra nuclear, nessa mesma ordem.
Ainda temos o medo de falar em público, de ir ao dentista, de sentir dor, de ter câncer e de cobras. Todos esses medos são levados para a vida adulta. Mas, embora possa haver medos universais, existem aqueles específicos de indivíduo para indivíduo e até comuns entre comunidades, regiões ou mesmo culturas.
Porém, experimentar o medo vez ou outra é saudável e faz parte da vida. Mas viver com medo crônico pode ser prejudicial fisicamente e emocionalmente. Quando a pessoa passa sempre a temer alguma coisa, evitando participar de atividades diárias e não tendo interação social, então é hora de procurar ajuda médica para poder superá-lo.
Estudos mostram que ratos com amígdalas danificadas vão até os gatos sem medo algum. Porém, como a maioria de nós não está disposto a arrancá-las, é preciso explorar outras formas de superar o medo. Muitos encaram as terapias comportamentais para a extinção de qualquer tipo de receio.
A extinção do medo envolve criar uma resposta condicionada que contraria a resposta de medo condicionado. A nova memória criada pela extinção do medo tenta substituir aquela que já toma conta do consciente de cada indivíduo. Dessa forma, o medo ainda vai existir, mas a ideia de que nada vai acontecer virá como prioridade na ordem dos pensamentos.