Artes/cultura
26/07/2016 às 10:31•2 min de leitura
Parece consensual que todo mundo deixa escapar um palavrão de vez em quando. Até sem querer. Aliás, na maioria das vezes é sem querer. Mas e quem tem a Síndrome de Tourette? Fala mesmo mais palavrão que as outras pessoas?
Você sabia que palavrões também são Ciência? Clique aqui para responder a uma pesquisa sobre esse tema!
Muitos pesquisadores que se dedicaram a estudar afasias (perda da fala que pode ser causada por diversas razões) notam que seus pacientes podem manter a capacidade de falar palavrões mesmo quando perdem a capacidade de formar frases ou de repetir palavras.
Nosso cérebro tem uma estrutura conhecida como “gânglios de base”, que os pesquisadores acreditam ser mais antiga em termos evolutivos. Esses gânglios estão ligados à emoção (a coisa é um pouco mais complicada do que isso!), mas também ao controle de alguns movimentos. Problemas nesses gânglios, portanto, podem causar vários tipos de espasmos musculares.
Como os gânglios da base estão ligados também ao controle de movimentos (o mal de Parkinson, por exemplo, também é causado por uma degeneração nesse setor), o mais comum é que portadores desta síndrome apresentem movimentos involuntários, tossidas, fungadas, piscadas, movimentação facial descontrolada (fazendo “caretas”) e até mesmo a repetição de palavras ou sílabas. Apenas uma minoria manifesta o tique falando palavrões (ou fazendo gestos obscenos).
Uma pessoa com a Síndrome de Tourette tem dificuldade em controlar um estímulo intenso (como uma coceira, por exemplo), porque há um conflito entre o controle e a força desse impulso indesejado. É como se fosse um conflito entre o “acelerador” e o “freio” que controlam os movimentos musculares. Esse é um sintoma muito parecido com o que deflagra o TOC (transtorno obsessivo compulsivo), que aparece junto em 50% dos casos, e a pessoa não faz de propósito.
Uma vez que o transtorno está ligado a uma área cerebral que é comum a todos os seres humanos, ele não é suscetível à diferença linguística. Isso significa que portadores dessa síndrome vão usar os palavrões que são mais comuns nas suas culturas. São relatados “put@”, “mierda”, “cono”, “joder”, “maricón” para pacientes falantes de espanhol; “sukebe” (sem vergonha), “chin chin” (c@ralho), “chikuso” (filho da put@), “bakatara” (idiota), “dobusu” (feio) e kusobaba (velha nojenta) para falantes de japonês e os sinais de “fod#r” e “merd@” em Língua Americana de Sinais.
Como movimentos musculares involuntários também aparecem, um dos tratamentos possíveis, quando o espasmo se apresenta em regiões pequenas e localizadas, é a aplicação da toxina botulínica (que “freia” um pouco os movimentos). Há, ainda, o tratamento farmacológico (com remédios), normalmente indicado junto com tratamento psicossocial, porque muitas vezes as pessoas com a síndrome sofrem preconceito e discriminação na escola e na família.
Falar muitos palavrões não é sintoma de transtorno psiquiátrico, a não ser que venha acompanhado de outros sintomas e que tenha uma persistência no cotidiano da pessoa. Em média, é necessário que os sintomas aconteçam pelo menos três vezes por dia por pelo menos um ano, sem interrupções maiores que três meses, para que seja considerado um distúrbio. Faixa etária também conta: esse transtorno se manifesta mais em crianças, mas pode aparecer até os 18 anos.
Se você não tem a Síndrome de Tourette mas fala muito palavrão, clique aqui para responder a uma pesquisa e ajude a Ciência a entender como são os palavrões no Brasil!
*****
Matéria escrita por Marina Legroski, professora de Linguística e Língua Portuguesa da Universidade Estadual de Ponta Grossa