Artes/cultura
28/06/2017 às 06:09•3 min de leitura
Apesar de o coma não ser uma condição especialmente rara, todo mundo sabe que ela é bastante grave e que, de modo geral, os pacientes que se encontram nesse estado estão passando por problemas de saúde bem sérios, como infecções e hemorragias cerebrais, falta de oxigenação no cérebro ou traumas cranianos, por exemplo.
Essa condição pode ser temporária ou permanente e se caracteriza por um estado de inconsciência durante o qual o cérebro permanece em funcionamento, mas em um nível mínimo de alerta. Sendo assim, os doentes não conseguem responder a estímulos externos, mesmo quando esses estímulos são dolorosos.
Jan Grzebski, o milagre
Os comas não costumam durar mais do que alguns dias ou semanas, mas existem alguns exemplos mais raros de pacientes que permaneceram nesse estado durante vários anos. O caso que vamos contar a seguir ficou mundialmente famoso justamente por envolver um homem que teria despertado após ficar nada menos que 19 anos inconsciente — só que não. Pois é, caro leitor, se trata de uma história que, apesar de fantástica, enganou a todos. Vem com a gente!
Em 2007, um jornal chamado Gazeta Dzialdowska publicou a história de um polonês chamado Jan Grzebski, um ferroviário que, em 1988, depois de sofrer sérias lesões cerebrais durante um acidente de trabalho, entrou em coma profundo — e permaneceu inconsciente por longos 19 anos. Quando a notícia foi divulgada, Jan teria acabado de despertar de seu “sono” e se deparado com um mundo muito diferente daquele que ele conhecia.
Famoso do dia para a noite
Afinal, imagine! Segundo a publicação, quando Jan entrou em coma, a Polônia se encontrava sob o comando de Wojciech Jaruzelski, ditador comunista que permaneceu no poder ocupando diferentes cargos — primeiro-ministro, chefe do Conselho de Estado e presidente — de 1981 a 1990. Além disso, o mundo se encontrava envolto nas tensões da Guerra Fria.
Quando — supostamente — despertou, em 2007, a Polônia havia se transformado em uma democracia, se tornado membro da União Europeia e se encontrava em uma situação tremendamente diferente. Ademais, Jan, que era pai de quatro filhos, acordou como avô de 11 netos.
É claro que o extraordinário caso do polonês se espalhou pelo mundo rapidamente e foi replicado pelos grandes portais internacionais de notícia. Todos queriam saber mais sobre o choque de passar tanto tempo “desligado” e voltar à vida em um ambiente completamente novo, então, as histórias continuaram circulando.
De acordo com o que foi reportado na época, Jan teria ficado espantado com o quanto a tecnologia havia avançado enquanto esteve em coma e ainda não havia se acostumado a ver pessoas andando nas ruas com seus aparelhos celulares. Outra coisa que o teria surpreendido era a disponibilidade de produtos nas lojas e mercados — já que, quando “apagou”, muitos itens eram racionados, havia muitas filas para obter alguns produtos, e tudo o que a população podia encontrar facilmente era chá e vinagre.
Durante o tempo em que esteve em coma, quem cuidou de Jan foi sua esposa, Gertruda, que nunca desistiu de ver o marido bem. E ela também teria conversado com o pessoal da Gazeta Dzialdowska e revelado as dificuldades de ouvir dos médicos que o polonês dificilmente sobreviveria muito tempo nesse estado e de não ter certeza de que ele despertaria.
Gertruda com Jan
Só que o pessoal do The Guardian percebeu que havia alguns elementos na história de Jan que pareciam meio... esquisitos. Foi então que os repórteres decidiram investigar e descobriram que, na verdade, as coisas não tinham acontecido bem como estavam contando. O mais interessante é que um dos jornalistas do The Guardian foi conversar com o polonês e, para a sua surpresa, Jan abriu o jogo!
Ele revelou que não havia dito nada daquelas coisas que estavam publicando sobre ele, e que não tinha ficado em coma durante 19 anos coisa nenhuma — mas sim por apenas 4, o que, convenhamos, já é bastante tempo. Jan explicou que conversou com um único repórter da Gazeta Dzialdowska e que essa pessoa tinha sido a responsável por fabricar e espalhar as notícias.
E “como quem conta um conto aumenta um ponto”, cada vez que algum meio de comunicação divulgava o caso, algum elemento novo era incluído. Jan também disse que esse papo de choque ao despertar não passou de papo furado e confessou estar ciente de todas as balelas que estavam publicando sobre ele, mas que não tinha encontrado uma forma de lidar com a situação.
O jornalista do The Guardian chegou a confrontar o pessoal da Gazeta Dzialdowska, e a desculpa esfarrapada que ele ouviu foi que eles não haviam divulgado uma história falsa, uma vez que existem diferentes tipos de coma. E, eles alegaram também que, mesmo que Jan tenha permanecido nesse estado por apenas quatro anos, muitos aspectos haviam mudado na Polônia durante esse período, portanto, a coisa toda não era mentira por completo. Tá!
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