Estilo de vida
19/05/2018 às 04:00•3 min de leitura
Quando viajamos a países distantes — seja fisicamente, através de livros ou programas de TV — é bastante comum nos depararmos com tradições que, para nós, são superestranhas e parecem não fazer o menor sentido. No entanto, nem por isso esses costumes deixam de ser surpreendentes. Aliás, essas manifestações culturais ajudam a tornar o mundo mais interessante, você não acha?
Assim, caro leitor, convidamos você para embarcar nesta viagem conosco para conhecer um pouco mais a respeito de alguns costumes culturais pra lá de curiosos que existem — ou já existiram — pelo mundo. Preparado?
O Chánzú — que literalmente significa “pés atados” — foi um costume seguido por mulheres chinesas durante mais de mil anos. A prática consistia em enfaixar os pés para evitar que eles crescessem e, assim, pudessem caber em sapatinhos de pouco mais de 7,5 centímetros. E para conseguir o resultado esperado, as chinesas eram obrigadas a começar a prender os pés bem cedo, normalmente quando ainda tinham entre 4 e 6 anos de idade.
O procedimento envolvia deixar os pés de molho em água quente e, depois de algumas horas, bandagens umedecidas — que encolhiam depois de secas — eram atadas firmemente para segurar os dedos. Estes eram dobrados em direção à sola e, durante o processo, os ossos dos arcos dos pés eram fraturados. O ritual era repetido a cada dois dias e, basicamente, se resumia em ir quebrando os ossos conforme os pés iam crescendo.
Além de extremamente doloroso, muitas coisas podiam dar errado. Se as unhas não estivessem bem aparadas, elas poderiam ferir a pele e causar infecções. Outro problema era a gangrena, que podia se instalar caso as bandagens estivessem apertadas demais. Isso sem falar que as fraturas muitas vezes provocavam inchaços e inflamações graves. O Chánzú foi banido em 1949, mas ainda existem chinesas com pezinhos minúsculos da época em que o costume era popular.
Abolido pelo Império Britânico em 1829, já que a prática era considerada aterrorizante, hoje o Satí é considerado como um ato criminoso grave na Índia, embora o ritual ainda ocorra em raras ocasiões. A prática consiste no sacrifício voluntário de viúvas que se atiram nas piras funerárias nas quais seus maridos estão sendo cremados para queimar com eles. Em outras palavras, trata-se do suicídio cometido por mulheres que acabaram de perder seus esposos.
Segundo os relatos de testemunhas, o Satí era cometido de diversas formas, embora fosse prática comum que a viúva se deitasse junto ao defunto ou se sentasse ao lado do corpo antes de a pira ser acesa. No entanto, o problema é que o ato deveria ser espontâneo — e na maioria das vezes aparentemente era mesmo —, mas em algumas comunidades os rituais podem ter ocorrido devido à pressão social, levando as viúvas a se sentirem forçadas a realiza-los.
Praticada pelos monges budistas Sokushinbutsu, a automumificação consistia em um ritual no qual esses homens tiravam a própria vida através de um longo e doloroso processo que, ao mesmo tempo, provocava a mumificação de seus corpos. Assim, durante um período de mil dias — ou cerca de três anos — os monges se submetiam uma estrita dieta durante a qual apenas comiam sementes e frutos secos e seguiam uma dura rotina de exercícios físicos.
O objetivo era o de eliminar toda a gordura corporal possível e, depois dessa primeira etapa, os monges passavam outros mil dias consumindo um chá tóxico preparado a partir da seiva de uma árvore chamada Urushi. Esse preparado provocava o vômito e, portanto, resultava na perda de fluídos corporais. Além disso, o tal chá supostamente evitava que o corpo fosse corrompido por vermes depois da morte.
Por último, os monges adotavam a posição de lótus no interior de tumbas e esperavam pela morte. Essas sepulturas contavam apenas com uma passagem de ar e um sino, que era tocado diariamente para informar que o ocupante continuava vivo. Embora centenas de monges tenham tentado realizar o ritual, apenas um número entre 16 e 24 corpos automumificados foram encontrados até hoje.
Famadihana é o nome de uma tradição funerária que consiste em levar os mortos para dançar. Segundo a crença do povo malgaxe, os espíritos dos defuntos somente se reúnem com seus ancestrais depois que seus corpos finalmente se decompõem completamente. Então, a cada sete anos proximadamente, os familiares se dirigem ao cemitério, desenterram seus entes queridos e trocam os tecidos que envolvem os cadáveres.
Depois, os corpos exumados são levados para dançar ao redor das sepulturas pelos parentes, e a cerimônia é animada por uma alegre banda de música, como você pode ver no vídeo acima. Além disso, os familiares também fazem oferendas em dinheiro, bebidas alcoólicas e, inclusive tiram fotos com seus mortos antes de enterrá-los novamente. O ritual é repetido periodicamente até que os ossos finalmente se desintegrem.
Este estranho ritual ocorre anualmente há centenas de anos, e é realizado por pessoas que pertencem à casta dos dalits, também conhecidos como “intocáveis”. A cerimônia consiste em esses pobres discriminados rolarem sobre os restos de comida deixados pelos brahmins — ou seja, monges e integrantes de castas superiores — do lado de fora do templo Kukke Subramanya.
Com isso, os devotos acreditam que todos os seus males serão curados e problemas solucionados. Milhares de dalits participam do Made Snana todos os anos e, apesar de esta prática ser considerada humilhante e ter sido condenada por diversas organizações, os “intocáveis” se recusam a abandonar a prática por pura fé no ritual.
*Publicado originalmente em 22/05/2014.