De urina a mercúrio: como a acne era tratada na Antiguidade

29/07/2022 às 08:003 min de leitura

Hoje, para tratar a acne, a famosa erupção cutânea causada pelo entupimento e/ou inflamação das glândulas sebáceas da pele, são utilizados vários tipos de compostos químicos, como os alfa-hidroxiácidos ou beta-hidroxiácidos, muito famosos nos dermocosméticos que compõem a rotina de cuidados com a pele (skincare), revolucionada pela Coreia do Sul e absorvida pelo mundo inteiro.

A potência bem concentrada e cada vez mais orgânica e natural dos produtos permite que a acne seja controlada no corpo da pessoa, limpando a pele dos comedões com suas propriedades químicas esfoliantes, e também eliminando as manchas que acabam ficando para trás.

Se não tratada, a acne dificulta tanto a vida social de uma pessoa, quanto sua saúde ao evoluir para cistos e nódulos grandes e profundos, que podem ser altamente dolorosos, cravando cicatrizes removidas apenas a laser.

E apesar de parecer um problema moderno, a inflamação incomoda os seres humanos há séculos ao longo da História, ainda em épocas em que os remédios e formas de tratamentos eram perturbadores.

Tirando da pele

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Na Grécia Antiga, Aristóteles e Hipócrates já associavam a acne à puberdade devido ao início do crescimento da barba, quando os homens costumavam apresentar os primeiros sinais. Já no Papiro Ebers, um dos tratados médicos mais importantes do mundo, escrito por volta de 1550 a.C., os antigos egípcios se referiam à inflamação com o termo aku-t, que significa "furúnculos", "feridas", "pústulas" ou qualquer tipo de inchaço inflamado.

Na tentativa de curar o problema, os egípcios e mesopotâmios usaram misturas de enxofre como solução extrema, mas eficaz, visto que absorve o óleo da pele e restaura o equilíbrio do pH, abrindo os poros entupidos e eliminando as bactérias que causam os surtos de acne. Folhas de patchouli também foram usadas no tratamento, que dizia fortalecer a pele e reduzir a produção de óleo, bem como o leite azedo, que contém ácido lático, o mesmo usado em dermocosméticos AHAs atualmente, considerado um esfoliante leve que ajuda na diminuição de espinhas e nos sinais de envelhecimento.

A medicina tradicional chinesa, no entanto, viu a acne com um olhar mais técnico, acreditando que a inflamação estava relacionada ao calor que se acumulava no corpo devido à incapacidade de digerir alimentos ricos. Portanto, a acne foi tratada pelo do consumo de ervas e alimentos considerados refrescantes para o corpo, como folhas verdes escuras e equináceas. Mas os chineses também foram fantasiosos usando flores de pêssego por acreditarem que demônios causavam a inflamação.

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Por outro lado, os gregos antigos foram mais imaginativos, com o médico Theodosius escrevendo que limpar o rosto com um pano úmido no momento exato em que uma estrela cadente aparecesse no céu, sumiria com uma espinha. Só quando não havia estrelas que os gregos optaram por colher sal do Mar Morto para secar a acne.

Os romanos antigos usaram uma variedade de tratamentos, de alume, carne de crocodilo e óleo de Chipre, a banhos em queijo e esfregar folhas de alho-poró e canela no rosto. Demorou 200 anos para que a canela fosse associada ao fortalecimento da pele facial em tratamentos cosméticos.

Um pouco mais grosseiro

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Foi durante a Idade Média que as pessoas foram informadas que cobrir o rosto com uma máscara facial cujo ingrediente principal era mercúrio – um dos piores compostos da Terra –, levaria à diminuição da inflamação da acne, porém o efeito foi exatamente contrário. A substância tóxica não só aumentou a inflamação como trouxe outras consequências para a saúde geral das pessoas.

Então é de se esperar que o período tenha piorado notavelmente os cuidados com a pele e a maneira que as pessoas lidavam com a acne, visto que apostaram em métodos supersticiosos ou repletos de misticismo como tratamento.

Um deles foi a urinoterapia, que envolvia aplicar urina na pele visando reduzir as erupções cutâneas da acne. A urina é composta por 95% de água e 5% de ureia, um esfoliante totalmente natural, até hoje usado como componente em muitos produtos de skincare. No entanto, a concentração de ureia na urina é tão pequena que o efeito na pele ou na acne era insignificante.

Demorou até a década de 1950 para que os médicos concluíssem que antibióticos conseguiriam controlar ou combater a acne, embora tenha sido usado penicilina naquele tempo como método de tratamento – o que se provou ineficaz. Já nos anos 80 e 90, medicamentos efetivos, como aqueles contendo isotretinoína, substância derivada da Vitamina A, foram lançados para combater o problema de vez.

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