Ciência
24/10/2024 às 21:00•3 min de leituraAtualizado em 24/10/2024 às 21:00
Quando somos alfabetizados, ainda criança, aprendemos a escrever usando uma das mãos. Acontece que, com o tempo, a maior parte tende de nós a substituir a mão pela tecnologia, e passa a escrever prioritariamente usando dispositivos com computadores, tablets e até os nossos celulares.
Mas isso não é exatamente uma boa ideia. Pesquisadores afirmam que fazer anotações à moda antiga, ou seja, à mão, potencializa o nosso aprendizado.
A constatação é relativamente simples: escrever à mão parece ativar mais células cerebrais, o isso melhora nossa capacidade de aprender assuntos. “Quando medimos a atividade cerebral de pessoas que escrevem à mão, vemos que elas formam mais conexões no cérebro do que quando escrevem usando um computador”, diz a pesquisadora cerebral Audrey van der Meer, professora de neuropsicologia na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia.
Não por acaso, cada vez mais escolas estão voltando a exigir que os estudantes maiores escrevam à mão, ao invés de usar os aparatos tecnológicos. Isso se deve a estudos que mostram o que acontece no cérebro quando se escreve no papel em comparação ao que ocorre quando se usa um computador, por exemplo.
“Quando as pessoas escrevem à mão, vemos notavelmente mais atividade nervosa nas partes do cérebro que lidam com a memória e a interpretação de novas informações. Essa atividade desempenha um papel fundamental no processo de aprendizagem”, afirma van der Meer.
Um estudo feito em 2020 envolvendo pesquisadores de 19 países mostrou que crianças norueguesas de 9 a 16 anos são as que mais passavam tempo online, com uma média de quatro horas por dia. Os adolescentes noruegueses de 16 anos ficavam até seis horas online.
“Quando escrevemos à mão, usamos mais nossos sentidos do que quando usamos um teclado. Em um teclado, repetimos os mesmos movimentos simples dos dedos, independentemente de qual caractere queremos digitar”, explicou o professor Ruud van der Weel, que também participou do estudo.
Os pesquisadores também analisaram quais eram os efeitos quando os estudantes faziam anotações com uma caneta digital em um tablet. Por fim notaram que o efeito é o mesmo que teria se você usasse uma caneta ou lápis comum. Isso porque, no processo cerebral, a formação das letras é o mais importante.
A partir disso, a Diretoria Norueguesa de Saúde passou a desaconselhar o uso de qualquer tipo de tela para crianças menores de 2 anos. Já para crianças entre 2 e 5 anos, o tempo recomendado deve ser limitado a uma hora por dia. O argumento é que, como grande parte do aprendizado acontece quando se ainda é bem pequeno, as crianças podem correr riscos em seu desenvolvimento se ficarem muito tempo na frente destes dispositivos.
“Os bebês certamente podem aprender muito com uma tela, mas eles simplesmente não podem se dar ao luxo de gastar seu tempo valioso sentados em frente a uma tela, pois têm muito a aprender durante os primeiros dois a três anos de suas vidas. As crianças mais novas, com seus corpos pequenos e cérebros de 'plástico', precisam experimentar o mundo real”, diz van der Meer.
Os cientistas ainda que escrever usando teclado pode ser prejudicial aos pequenos. “Crianças que aprendem a escrever usando teclados geralmente têm dificuldade em distinguir entre letras que são imagens espelhadas uma da outra, como 'b' e 'd'. Elas não experimentaram fisicamente como é formar essas letras”, explica van der Weel.
Por isso, a dica é estimular que, desde cedo, as crianças sejam estimuladas a realizar atividades com as mãos. “Crianças em idade pré-escolar precisam realizar atividades que exijam habilidades motoras finas. Isso pode incluir escrever, desenhar, colorir, fazer contas ou fazer quebra-cabeças. Muitas crianças mal sabem segurar uma caneta ou lápis”, afirma o pesquisador.
Ou seja, se você tem filhos pequenos, atente-se a essa questão. Quando mais eles usarem as mãos para fazer atividades que requisitam um controle motor, melhores são os efeitos no seu crescimento e seu futuro. “As crianças devem primeiro aprender a escrever à mão, a partir do 1º ano de escola, para que possam formar as redes neurais que criam a melhor base possível para o aprendizado”, finaliza van der Meer.