Estilo de vida
24/09/2022 às 12:00•4 min de leitura
Em linhas gerais, globalização é um processo crescente de interdependência econômica, cultural e social entre as nações do mundo; provocada pelo comércio transfronteiriço de bens, serviços, tecnologia, fluxos de investimento, pessoas e informações. Para boa parte dos historiadores, esse processo teve início ainda em 1492, com a viagem de Cristóvão Colombo ao Novo Mundo, mas as pessoas já faziam esse intercambio desde I a.C., durante a famosa Rota da Seda.
O comércio da seda foi um exemplo dos processos que levaram a um mundo globalizado através da sucessão de transformações e trocas econômicas e de novas tecnologias. O movimento tornou possível o acesso a novas culturas, difusão de tecnologia e inovações; gerou baixos custos nos produtos; padrões de vida mais elevados; e acesso a novos mercados e talentos.
(Fonte: ThoughtCo./Reprodução)
Ainda é motivo de longo debate os malefícios da globalização, principalmente entre os especialistas. O aumento do processo é associado a diversos problemas ambientais, como desmatamento e perda de biodiversidade devido à especialização econômica e desenvolvimento de infraestrutura; emissão de gases de efeito estufa; e também na transmissão de doenças.
Atualmente, o mundo está atravessando novamente o processo de desglobalização, que deu as caras após o início da Primeira Guerra Mundial, até o começo da década de 1950.
Mas como o Brasil está sendo afetado pela desglobalização?
(Fonte: Systemic Alternatives/Reprodução)
A desglobalização é exatamente o que a palavra propõe: um movimento em direção a um mundo menos conectado entre certas unidades mundiais, tipicamente por estados-nações poderosos que fazem o controle de suas fronteiras e desenvolvem soluções locais, em vez do contrário.
O movimento é impulsionado pelo desequilíbrio comercial, pressão política, populismo, alta taxa de desempregos e tensões comerciais entre os países. Eventos recentes, como o Trumpismo, Brexit, declínio da última década em investimentos diretos estrangeiros, a pandemia do coronavírus e a invasão da Rússia à Ucrânia foram fatores que alimentaram a nova onda.
Contudo, alguns consideram precipitado dizer que o mundo já está em um período de desglobalização, visto que até mesmo a pandemia e as negociações sobre as mudanças climáticas demonstram a relevância da colaboração e interconectividade global. Mas na visão de alguns especialistas, como o cientista político Andrea Wirching, a globalização está para a economia como a democracia para a sociedade. Ou seja, ou corrige suas falhas ou corre riscos reais de extinção.
(Fonte: Mint/Reprodução)
Isso porque a premissa de um mundo sem barreiras, tanto econômica quanto social e politicamente, falhou em todo o planeta. “A desigualdade está crescendo e, no final das contas, há mais perdedores do que vencedores”, disse ele.
As consequências inflamatórias da desglobalização implicam em como a decisão de um país pode levar os demais a seguirem o exemplo, acabando por distorcer potencialmente os padrões globais de produção e comércio, piorando a situação de muitas nações. Em uma visão macroscópica, o movimento resulta no aumento da pobreza e desigualdade – não em todos os países –, instabilidade política média e um aumento substancial no risco de guerra interestatal.
(Fonte: Dicas e Dica/Reprodução)
No Brasil, a onda de desglobalização é interpretada através do processo de desindustrialização, ou seja, o retorno das multinacionais a seus países de origem – o mesmo acontece na América do Norte, Ásia e Europa.
Nos últimos 3 anos, a Ford fechou fábricas em Camaçari (Bahia) e São Bernardo do Campo (São Paulo) depois de 109 anos de sua chegada no país, enquanto a japonesa Sony abandou a Zona Franca de Manaus, e a rede de hipermercados Walmart vendeu a operação no país. Segundo o professor do Insper e sócio da consultoria empresarial KC&D, David Kallas, são essas incertezas que agravam a situação do Brasil, deixando o ambiente de negócios mais difícil para as empresas trabalharem.
Para ele, existe uma diferença muito grande entre manter uma empresa em um lugar que cresce 2% ao ano com estabilidade, e outra é estar em um país que cresce 7% e em seguida cai 4% em um ano. Isso é considerado muito danoso para as organizações.
(Fonte: Folha PE/Reprodução)
A pandemia e a guerra na Ucrânia inflamaram o movimento de desglobalização, porque muitos países passaram a repensar sua dependência externa de forma geral, indo de produtos hospitalares a petróleo.
“Há algum tempo, o desemprego gerado em alguns setores pela redistribuição da produção mundial vem gerando uma perigosa ascensão de políticos populistas, xenófobos e protecionistas ao redor do mundo. Tudo isso deve seguir trazendo turbulências ao comércio internacional por um período”, disse Eduardo Felipe Matias, escritor, empresário e doutor em direito internacional pela Universidade de São Paulo (USP), em matéria à IstoÉ Dinheiro.
(Fonte: O Globo/Reprodução)
Com os embargos do Ocidente ao governo de Putin, em razão à guerra deflagrada por ele, deve acelerar a nacionalização de produtos essenciais para outros países, como os fertilizantes para o agronegócio no Brasil.
Atualmente, os brasileiros têm uma minúscula participação no comércio global, apenas 1,26%, o que significa que podemos sofrer menos com os avanços da desglobalização. No que o Brasil tem se beneficiado é na exportação de commodity, visto que os alimentos e matérias-primas serão exportados seja qual for o destino – o que tem acontecido devido à guerra ucraniana.
No trigo, até julho deste ano, o Brasil já batia 2,51 milhões de toneladas exportadas, 1,29 milhão do que toda exportada no ano passado.
(Fonte: Investidor Sardinha/Reprodução)
De acordo com Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, como exportador líquido de commodities, o Brasil tem saldo positivo por ser líder na produção de várias delas e por estar entre os 5 maiores produtores no ranking mundial.
Pinheiro também ressalta que, para além de fornecer produtos não manufaturados, cujas cadeias foram impactados, o Brasil pode se beneficiar do processo de redistribuição da cadeia produtiva industrial. Faz sentido que o país se beneficie no processo de regionalização, visto que está em uma posição privilegiada, conseguindo atender tanto os EUA quanto a Europa.
Esses seriam um dos vieses onde o copo aparece cheio para o Brasil no contexto da desglobalização, enquanto o copo meio vazio é que, se o movimento se concretizar, o Brasil será um dos países que perderá muito com o empobrecimento coletivo, menor eficiência na produção global e protecionismo em território onde há indústrias essenciais.