Artes/cultura
01/07/2015 às 11:50•3 min de leitura
A menstruação, um evento biológico extremamente comum e natural, ainda é vista como tabu, e, quando precisamos falar sobre ela, muitas vezes nem usamos a palavra certa e acabamos nos referindo ao ciclo menstrual como “aqueles dias” ou algo parecido.
Em muitos esportes o período menstrual é um fator que não apenas atrapalha o desempenho das esportistas como é também mantido em sigilo, como se se tratasse de algo vergonhoso.
O Telegraph, um dos maiores jornais do Reino Unido, publicou uma série de relatos sobre o assunto, vindos justamente das pessoas que mais têm propriedade para falar a respeito: mulheres esportistas. A campeã em tênis, Petra Kvitova, foi questionada em uma coletiva de imprensa a respeito de como os “assuntos de mulher” afetam as jogadoras femininas enquanto outros repórteres homens riam, encabulados.
Em sua resposta, Petra afirmou que muitas mulheres se sentem desconfortáveis com partidas e treinos que eventualmente ocorram enquanto estão menstruadas.
Petra Kvitova
Seis meses antes de Petra, Heather Watson, também tenista, falou a respeito do tal assunto proibido. Quando lhe perguntaram por que ela havia perdido o primeiro round em uma competição, Heather disse que estava se sentindo tonta, enjoada e tão sem energia que estava pensando em pedir ajuda médica naquele momento.
Na sequência, ela emendou: “Eu acho que foi apenas uma dessas coisas que eu tenho, essas coisas de mulher”. A declaração, ainda que tenha sido simples e não tenha mencionado a palavra “menstruação” de fato, foi um grande primeiro passo nessa quebra de tabu dentro do universo esportivo feminino.
Foi só Heather falar sobre o assunto que outras mulheres aproveitaram a deixa para, de fato, questionar a existência desse tabu. Annabel Croft, considerada a melhor tenista da Grã-Bretanha, também admitiu que a menstruação é e sempre foi um tabu: “Parece um daqueles assuntos que são varridos para baixo do tapete”, resumiu ela em entrevista à BBC.
Heather Watson
Alguns meses depois as declarações de Petra colocam o tema em foco novamente. Ainda que alguns meios se refiram à questão como “mimimi”, é preciso entender que a menstruação pode vir acompanhada de alguns problemas, que vão desde questões hormonais, endometriose e síndrome do ovário policístico até os fatores mais simples, como, no caso das jogadoras que devem participar do campeonato de Wimbledon, precisar usar roupa branca.
Não é novidade que o fluxo menstrual pode acabar transbordando os limites do absorvente e provocar constrangimento. No caso de roupas brancas, esse constrangimento é ainda maior, e, se considerarmos que partidas de tênis são longas e podem durar horas, a situação fica ainda mais complicada.
A tenista Tara Moore acredita que a menstruação pode, sim, afetar o desempenho de mulheres esportistas. Para Tara, a situação piora pelo assunto ser considerado tabu e, por isso, não discutido abertamente, com a normalidade que merece.
Annabel Croft
“Nós precisamos lidar com esse elemento sobre o qual ninguém fala nada”, resumiu ela, que confessou ficar sempre na torcida para não estar menstruada quando saem as datas de seus jogos. A torcida, no entanto, parece não adiantar, afinal Tara esteve menstruada nos últimos seis grandes campeonatos dos quais participou – detalhe: no último ano, uma das partidas das quais participou durou longas quatro horas.
Tara levantou outra questão dentro do tênis: será que não está na hora de haver uma alteração nas regras, para que as jogadoras mulheres possam, pelo menos, fazer mais intervalos para irem ao banheiro? Atualmente, as jogadoras têm direito a apenas um intervalo por set. “Isso seria o suficiente, na verdade, mas, se o set for longo, pode ser difícil”, explicou.
O medo de que a menstruação acabe passando para o uniforme branco é tanto que Tara já chegou a ter pesadelos com isso. Ela diz respeitar a tradição das regras, mas sugere que as pessoas comecem a pensar mais nessa questão.
Tara Moore
Outro problema levantado por Tara é o fato de que muitos remédios que diminuem as dores causadas pela menstruação são proibidos porque contêm substâncias que dão energia e, consequentemente, melhoram o desempenho das jogadoras.
A sugestão de Tara não é apenas a formulação de um medicamento que possa ser liberado, mas também de uma educação nesse sentido, para que as jogadoras sejam preparadas e saibam como agir quando ficarem menstruadas.
Essa questão não apenas pode ser abordada pelos próprios treinadores e treinadoras como há exemplos de que a discussão pode dar certo. No hockey, por exemplo, isso já acontece – pelo menos no time britânico. “Na verdade, nós temos o nosso ciclo menstrual monitorado por nosso treinador durante um ano antes das Olimpíadas”, revelou a jogadora Hannah Macleod.
“É um assunto sobre o qual nunca sentimos vergonha de falar”, emendou ela, que comentou também o fato de que praticar exercícios quando se está menstruada pode ser muito complicado por questões de humor, coordenação, disposição física e, inclusive, temperatura corporal.
No caso do monitoramento dos ciclos menstruais, as atletas mandam emails aos treinadores, com as datas de suas menstruações, de modo que os treinadores possam preparar treinos em dias específicos e entender, inclusive, as variações de peso pelas quais passam – sim, isso também pode ser afetado durante o ciclo menstrual.
E aí, será que o tabu da menstruação deve sair do hockey britânico e atingir outros esportes de todo o mundo? O que você pensa sobre o assunto? Conte para a gente nos comentários!
Via EmResumo.