Turco Mecânico: o robô que enganou a todos no xadrez

04/06/2023 às 06:002 min de leitura

Acredita-se que o xadrez tenha surgido em meados de 200 a.C., com intuito de representar uma batalha importante na história chinesa. Depois acabou sendo esquecido até que ressurgiu no século VII, com novas regras e sob a alcunha de Xiangqi, que significa "jogo do elefante" em chinês.

Sua disseminação pela Ásia e Europa o tornou o que conhecemos no século XVI, tendo o padre espanhol Ruy López como o primeiro mestre enxadrista da história moderna.

Apesar do comitê da Carnegie Mellon University ter proposto, em 1980, um prêmio milionário para qualquer um que conseguisse criar um computador capaz de vencer o melhor enxadrista do mundo, a tecnologia rudimentar já fazia isso, ou pelo menos fingia, muito antes disso. 

Em 1770, o Mechanical Turk foi o primeiro robô enxadrista, mas não passava de um truque.

A máquina impressionante

(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)(Fonte: Wikimedia Commons)

Tudo começou com a vontade do inventor húngaro Wolfgang von Kempelen de impressionar Maria Antonieta, imperatriz da Áustria. Para tanto, ele criou o Mechanical Turk, ou "turco mecânico", um autômato capaz de vencer as pessoas no xadrez.

A máquina por si só já tinha uma aparência que chamava atenção. Tratava-se de um grande gabinete onde em seu topo havia um tabuleiro de xadrez sobre o qual pairava uma das mãos do boneco de um homem de turbante acoplado à estrutura da mesa. Para quem fosse curioso o suficiente, o interior da máquina era um emaranhado impressionante de tubos de latão, engrenagens, turbinas e rodas.

Muito além da estrutura, o que mais impressionava os espectadores quando um convidado se sentava para jogar com o adversário mecânico era sua capacidade de movimentação. O boneco pegava a própria peça, balançava a cabeça três vezes se tivesse colocado a peça do oponente em xeque, e até alertava se seu oponente realizasse uma manobra ilegal. Todos ficavam assombrados com sua capacidade.

Wikimedia Commons(Fonte: Wikimedia Commons)

Através dos séculos, o xadrez acabou adquirindo um caráter quase sobrenatural na imaginação do público. Afinal, não era considerado tão humano aqueles que conseguiam se destacar de maneira excepcional, raciocinando de uma forma que muitos não achavam ser possível.

Todo o excesso de inteligência no século XVII foi acompanhado por um toque de divindade. Não é para menos que o Sétimo Selo de Ingmar Bergman mostra um cavaleiro jogando xadrez com a própria Morte, uma metáfora para a vida e a guerra.

Mas não havia nada de mágico no Turco além de um grande truque muito bem ensaiado. Dentro do gabinete ficava um exímio enxadrista que controlava o boneco por uma série de alavancas enquanto olhava todas as peças por baixo do tampo. A maquinaria foi projetada para permitir que cada seção fosse revelada por vez, com o jogador secreto movendo as partes da mesa conforme necessário.

Uma falácia bem escondida

(Fonte: Squarespace/Reprodução)(Fonte: Squarespace/Reprodução)

O Turco se tornou uma febre entre o público, ainda mais derrotando todos os membros da corte da rainha. No entanto, von Kempelen parou de exibi-lo de repente e passou a se dedicar a criar outros tipos de máquinas. Demorou quase 10 anos para que o autômato voltasse aos olhos do público em uma turnê pela Europa.

Milhares de pessoas pagaram uma boa quantia para tentar vencer a máquina, até mesmo Benjamin Franklin durante sua passagem por Paris. O grande truque não foi descoberto nem quando von Kempelen morreu, apesar de terem desconfiado em alguns momentos.

O Turco acabou em um museu, onde foi destruído durante um incêndio, após uma turnê desastrosa em Cuba.

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