Artes/cultura
13/08/2023 às 09:00•3 min de leitura
Um novo movimento do mundo do trabalho está se popularizando nas redes sociais: depois da "demissão silenciosa", surgem os "lazy girl jobs" (em português, algo como "empregos de garotas preguiçosas"). Nos vídeos agregados pela hashtag #lazygirljobs, pessoas (principalmente mulheres) mostram seus trabalhos pouco estressantes, mas bem pagos e realizados quase sempre de forma remota.
A moda começou a pegar quando uma TikToker chamada Gabrielle Judge publicou um vídeo dizendo que havia vários empregos disponíveis no mercado e que era possível ganhar cerca de US$ 80 mil por ano sem trabalhar muito.
(Fonte: Getty Images)
A discussão em torno desses empregos se associa ao "movimento antitrabalho", que tem ganhado cada vez mais força na internet. Quem fala sobre isso critica a cultura do excesso de trabalho, que na maior parte das vezes traz muito mais lucros aos empregadores do que aos trabalhadores.
Um tema envolvido neste debate é a ideia de que os funcionários de uma empresa precisam estabelecer limites mais claros sobre o quanto eles vão se dedicar em suas rotinas. Não por acaso, em 2022 um movimento que se tornou bem popular foi o da "demissão silenciosa", que diz respeito a entregar apenas aquilo que foi acordado dentro do horário definido, sem ir além.
O que transparece por trás dos "lazy girl jobs" é uma sensação coletiva de esgotamento e de desânimo em relação ao funcionamento das jornadas trabalhistas, além da cobrança de que todos precisam ser constantemente produtivos – até mesmo quando não estão trabalhando.
Gabrielle Judge, tida como a criadora da expressão, diz que elaborou o termo de uma forma debochada para provar um ponto: que defender um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal costuma ser visto como algo preguiçoso.
(Fonte: Getty Images)
A popularização do conceito tem também se associado com as demandas expressas pela geração Z, que se sente constantemente inadequada aos padrões de sucesso pessoal e profissional que foram estabelecidos para ela. De acordo com Suzy Welch, professora da NYU Stern School of Business, a trend do TikTok fala muito sobre questões relativas a esses jovens, como o medo da ansiedade.
Em entrevista ao Squawk Box da CNBC, Welch declarou que a tendência viral não diz respeito à preguiça, mas sim sobre o "forte desejo da Geração Z de evitar a ansiedade a qualquer custo". De forma crítica, ela também credita este anseio à existência de pais superprotetores, que teriam criado "um bando de 20 e poucos anos que nunca teve que tomar decisões difíceis ou fazer coisas muito difíceis. Quando eles começam a sentir isso, eles ficam, tipo,'eu quero fugir!'".
Contudo, há muita gente vendo esse movimento de forma bem mais positiva. É o caso Danielle Roberts, que se autodenomina uma “coach anticarreira”. Segundo ela, essas tendências antitrabalho têm gerado uma espécie de revolução dos trabalhadores que não aceitam mais os modelos que existem, uma vez que eles não contemplam as suas necessidades.
(Fonte: Getty Images)
"As pessoas estão gastando muitas horas por dia fazendo algo que as esgota e não necessariamente melhora sua qualidade de vida. E, em vez de chamar as pessoas que estão se desfazendo desse sistema de preguiçosas e dizer a elas que elas só precisam trabalhar mais, precisamos falar sobre por que é uma tendência em primeiro lugar e ir um nível mais profundo", declarou Roberts.
Ela ainda complementa com um ponto interessante: o de que haveria um erro na defesa de um equilíbrio entre vida e trabalho, pois supõe que "viver demais" significaria ser um mau trabalhador. "Vimos que a semana de trabalho de 40 horas está ultrapassada. Podemos produzir a mesma quantidade de trabalho, se não mais, em uma fração do tempo. Portanto, querer nos manter presos em cadeiras, e não apenas por 40 horas, mas por mais de 40 horas, é apenas um meio de controle. Se você os contratou, deve confiar em seus funcionários para fazer seu trabalho e fazê-lo bem", opina.