Estilo de vida
30/06/2016 às 11:35•3 min de leitura
Cientificamente falando, nós, humanos, assim como nossos ancestrais extintos, pertencemos a uma tribo de primatas chamada Hominini, da qual os chimpanzés também fazem parte — o que significa que homens e símios são parentes.
Na verdade, de acordo com Sarah Kaplan, do The Washington Post, humanos (Homo sapiens), neandertais, australopitecos (Australopithecus afarensis e africanus), “hobbits” (Homo floresiensis), orangotangos, gorilas, bonobos, entre outros, evoluíram a partir de um ancestral comum que viveu há 14 milhões de anos, e juntos nós compomos a família taxonômica dos Hominídeos — também conhecida como família dos grandes primatas.
Quem nunca viu essa "linha"? Só que a evolução não funciona de forma linear
Entretanto, se todos nós viemos a partir de um mesmo ancestral, você já se perguntou o motivo de os chimpanzés não estarem evoluindo e dando origem a espécies mais... humanas e mais parecidas conosco?
A resposta simples a essa pergunta é que todas as criaturas que nós classificamos como primatas são nossos “primos”, e não nossos ancestrais, o que significa que seria muito difícil que eles evoluíssem em uma criatura parecida com a gente. Em outras palavras, esperar que um chimpanzé dê origem a descendentes mais humanos seria o mesmo que esperar que um primo seu tenha filhos com a sua cara.
Eles seguiram outra linha evolutiva
Segundo Matt Tocheri, professor de antropologia da Universidade Lakehead, no Canadá, e pesquisador do Programa de Origens Humanas do Museu Nacional de História Natural, em Washington, esses animais se encontram em suas próprias linhagens há milhões de anos e, se eles tivessem a escolha de evoluir em criaturas parecidas com os humanos, eles provavelmente se recusariam.
Para compreender melhor essa questão, primeiro é preciso entender como a evolução funciona. Em vez de ela seguir uma linha reta, que faz com que as espécies progridam em criaturas gradativamente mais e mais complexas, a coisa não acontece bem assim e, muitas vezes, a evolução tende a favorecer características mais... práticas.
Várias espécies extintas
Pense, por exemplo, nos animais que habitam cavernas subterrâneas e que deixaram de contar com olhos e passaram a ter antenas e patinhas mais longas para “tatear” seu caminho. Pense também nas baleias, que são descendentes de antigos mamíferos terrestres e perderam praticamente todos os ossos das pernas — simplesmente porque a evolução privilegiou os animais que não precisavam mais desses órgãos para sobreviver em seu ambiente.
Na verdade, a evolução está associada com a sobrevivência das espécies — e muitas características surgem ou desaparecem por conta da adaptação dos seres vivos a condições particulares de seu ambiente. Assim, segundo Tocheri, a evolução tratou de favorecer os Australopithecus afarensis, por exemplo, que contavam com quadris que permitiam que eles caminhassem sobre duas pernas e, dessa forma, tivessem mais facilidade de coletar alimentos na savana e carregá-los.
Australopithecus afarensis
Outra espécie, a Paranthropus robustus, passou a contar com maxilares poderosos para poder mastigar os alimentos (fibrosos e duros) que existiam no ambiente árido que eles habitavam. Já os integrantes da espécie Homo habilis evoluíram para ter cérebros maiores que os ajudaram a criar ferramentas de pedra. Entendeu a ideia?
Reconstrução do crânio de um Homo habilis (Fonte: Wikimedia Commons)
Acontece que, com o tempo, o uso de ferramentas foi se tornando mais sofisticado, e o nicho ecológico dos hominídeos foi se expandindo. Com isso, algumas espécies deixaram de ter que usar tanto seus maxilares e dentes poderosos para triturar seus alimentos ou cortar a carne da caça — eles criaram utensílios para isso.
Então, os integrantes do gênero Homo — com seus cérebros maiores, dentes menores e dotados de utensílios mais complexos — foram se tornando mais eficientes, e a evolução acabou favorecendo esses grupos. Depois, veio o desenvolvimento da linguagem, que se somou ao conjunto de características que ajudaram os nossos ancestrais a viajar, caçar e prever e evitar riscos.
Neandertal
Quando finalmente os membros da espécie Homo sapiens surgiram — há cerca de 200 mil anos —, eles já contavam com as ferramentas necessárias para sobreviver em praticamente qualquer circunstância e ambiente. Os neandertais e os hobbits chegaram a coexistir com os humanos modernos por algum tempo, mas eles não estavam tão preparados como os nossos ancestrais para sobreviver às mudanças climáticas que levaram à extinção desses grupos.
Voltando aos nossos “primos”, os grandes primatas modernos habitam regiões com grande abundância de vegetação — onde a habilidade de subir em árvores, por exemplo, é mais importante para a sua sobrevivência do que poder caminhar sobre duas pernas.
Bonobos sendo fofos
Alguns deles, como é o caso dos chipanzés e dos bonobos, inclusive são capazes de criar ferramentas rudimentares e até mostrar comportamentos bem humanos. Contudo, eles estão completamente adaptados ao seu ambiente e conseguem viver muito bem sem ter que dar origem a criaturas mais parecidas com a gente.