O Monge em Chamas: conheça a história por trás dessa terrível imagem

13/07/2017 às 05:593 min de leitura

A assustadora fotografia que você acabou de ver acima foi clicada em Saigon, no Vietnam do Sul, e mostra um ato de autoimolação cometido por um monge budista chamado Thích Quang Duc no dia 11 de junho de 1963. De acordo com o site Rare Historical Photos, o registro foi capturado pelo fotógrafo Malcolm Browne, que se encontrava na cidade a serviço da Associated Press e acabou recebendo um prêmio Pulitzer e um World Press Photo pelo retrato.

A dramática imagem rodou o mundo e até hoje causa espanto. Mas, e sobre o que teria levado o monge a atear fogo no próprio corpo e qual era o contexto político e histórico em que a ação se desenrolou, você sabe? A autoimolação aconteceu em protesto contra o regime pró-católico de Ngo Dinh Diem, primeiro presidente do Vietnam do Sul, e suas políticas discriminatórias com relação ao budismo.

Turbulência religiosa

Segundo o Rare Historical Photos, após assumir a presidência, Diem declarou o Vietnam do Sul como seguidor da Igreja Católica e de Jesus Cristo. Considerando que, na época, entre 70 e 90% da população local era budista, não é de se estranhar que as iniciativas do novo líder causassem um tremendo descontentamento.

undefinedVersão colorida da mesma imagem (Malcolm Browne)

O ato de Duc, na realidade, aconteceu em reposta à realização de uma cerimônia pública — durante a qual foram expostas incontáveis cruzes cristãs — em maio de 1963, que culminou com o banimento da bandeira budista dois dias depois do evento. A proibição resultou na organização de uma série de protestos e, na celebração do Vesak, uma festividade que comemora o aniversário de Buda, monges saíram às ruas com sua bandeira nas mãos.

Na ocasião, os manifestantes se dirigiram até a sede da emissora de rádio do governo — onde foram recebidos por tropas de Diem que abriram fogo contra a multidão e acabaram matando nove pessoas. Como você deve saber, o Vietnam se encontrava em guerra contra os EUA e outros países asiáticos, portanto, havia muitos correspondentes internacionais no país cobrindo o conflito.

Então, no dia 10 de junho, começaram a circular informações de que algo importante relacionado com a crise budista iria ocorrer no dia seguinte diante da embaixada do Camboja em Saigon. Poucos foram os repórteres que acreditaram nos rumores, mas Malcolm Browne estava entre eles e decidiu aparecer no local. David Halberstam, do The New York Times, também atendeu ao chamado — e posteriormente publicou um detalhado relato do que aconteceu.

Desenrolar de uma tragédia

Cerca de 350 monges aparecerem para protestar contra as políticas religiosas do governo de Diem e, entre eles, se encontrava Duc. Segundo as testemunhas, ele chegou até o local de carro acompanhado de outros dois monges, um que desembarcou com uma almofada nas mãos e a colocou no meio de um cruzamento, e outro que tirou um galão de gasolina do porta-malas do veículo.

undefined(Malcolm Browne)

Duc se sentou placidamente sobre a almofada e adotou a posição de lótus — usada para momentos de meditação — em meio à multidão. Em seguida, um dos monges despejou o conteúdo sobre a cabeça de Duc que, nesse momento apenas se pôs a manipular as contas de oração que tinha nas mãos e a recitar uma prece. Então, diante dos olhos de todos, ele riscou um palito de fósforos e começou a queimar.

De acordo com o relato de Halberstam, Duc não moveu um músculo sequer nem emitiu qualquer som. Ele permaneceu imóvel enquanto o fogo consumia seus robes de monge e seu corpo, e só saiu da posição de lótus depois de morrer e seu cadáver tombar para trás. Centenas de monges se prostraram diante de Duc e começaram a proferir orações, outros tantos podiam ser ouvidos chorando, mas a maioria dos presentes assistiu ao chocante ato em silêncio.

Galeria 1

A coisa toda durou cerca de 10 minutos e, após as chamas se apagarem, um grupo de monges se aproximou do corpo de Duc e o cobriu com robes amarelos, recolheu o cadáver e o levou a um templo budista no centro de Saigon. Duc foi — novamente — cremado durante seu funeral e seu ato motivou uma série de autoimolações no Vietnam.

Curiosamente, o coração do budista teria permanecido intacto apesar das chamas e se transformou em uma relíquia que hoje se encontra guardada no Templo Xa Loi. Por fim, os atos de autoimolação que seguiram o de Duc e a turbulência religiosa que se instalou no Vietnam levaram a um golpe de estado que acabou com a derrubada e morte de Diem em novembro de 1963.

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