Artes/cultura
24/02/2015 às 12:43•2 min de leitura
Como você sabe, é uma prática relativamente comum que pesquisadores submetam peças de museu a exames como radiografias e reflectografia de infravermelho — seja para atestar sua autenticidade ou para descobrir quais materiais e técnicas foram utilizadas na criação das obras. O mais interessante é que esses procedimentos às vezes revelam muito mais do que os cientistas esperavam descobrir.
Esse é o caso de uma equipe de pesquisadores do Museu Drents, localizado nos Países Baixos, que submeteu uma estátua chinesa de buda datada entre os séculos 11 e 12 a uma tomografia, descobrindo que a peça abriga um monge mumificado em seu interior. De acordo com Rossella Lorenzi do site Discovery News, os cientistas acreditam que o corpo pertence a Liu Quan, um mestre budista que viveu por volta do ano 1100.
Segundo Rossella, os cientistas ficaram completamente surpresos ao encontrar o monge sentado na posição de lótus no interior da estátua, e submeteram a peça a mais tomografias e a exames de endoscopia. Após uma análise mais minuciosa, a equipe descobriu que os órgãos internos de Quan foram removidos e substituídos por documentos cobertos por escrituras chinesas.
Os pesquisadores especulam que o monge pode ter realizado o ritual de automumificação. Conforme já explicamos em uma matéria aqui do Mega Curioso, essa prática era normalmente realizada no Japão por monges budistas Sokushinbutsu, e consistia em tirar a própria vida através de um longo e doloroso processo que, ao mesmo tempo, provocava a mumificação de seus corpos.
Assim, durante um período de mil dias os monges se submetiam uma estrita dieta durante a qual apenas consumiam sementes e frutos secos, e seguiam uma dura rotina de exercícios físicos. O objetivo era o de eliminar toda a gordura corporal possível e, depois dessa primeira etapa, os monges passavam outros mil dias consumindo raízes e cascas de árvore.
Após esse período, os monges começavam a consumir um chá tóxico preparado a partir da seiva de uma árvore chamada Urushi. Esse preparado provocava o vômito e, portanto, resultava na perda de fluídos corporais. Além disso, o tal chá supostamente evitava que o corpo fosse corrompido por insetos e vermes depois da morte.
Por último, os monges adotavam a posição de lótus no interior de pequenas tumbas e esperavam pela morte. Essas sepulturas contavam apenas com uma passagem de ar e um sino, que era tocado diariamente para informar que o ocupante continuava vivo. Quando o sino parava de tocar, a tumba era selada e, após outros mil dias, ela era novamente aberta para que o sucesso da automumificação pudesse ser comprovado.
Curiosamente, apesar de centenas de monges terem tentado concluir o ritual, apenas alguns poucos conseguiram alcançar automumificação — e os que conseguiram não são considerados como mortos, senão que são venerados como mestres que se encontram em eterna meditação.
Mas voltando ao corpo descoberto pela equipe do Museu Drents, de acordo com Christopher Jobson do portal Colossal, os pesquisadores não sabem dizer quando ou como os órgãos internos foram removidos e substituídos por escrituras. No entanto, para quem quiser conferir a estátua “recheada” de perto, ela ficará em exposição no Museu Nacional de História Natural em Budapeste, na Hungria, até maio.