Ciência
26/09/2014 às 06:19•5 min de leitura
Todos os dias nós temos que tomar decisões, sejam de pequeno ou de grande impacto. O que vestir? Será que devo comprar isso? Será que devo investir nesse apartamento? Qual curso escolher no vestibular? As decisões que tomamos são inúmeras e, muitas vezes, devemos conviver com suas consequências por bastante tempo – por exemplo, no caso de escolher qual será o seu ramo profissional ou se você deve ou não comprar um imóvel.
Além de tudo, é importante estar seguro de suas decisões para que, no futuro, dúvidas não brotem em você e originem sentimentos como frustração e arrependimento (que não são nem um pouco agradáveis de carregar por aí diariamente). Se antigamente as opções não eram tão claras ou não víamos as várias possibilidades e caminhos distintos que podem ser trilhados, hoje esse quadro já é muito diferente.
Fazer escolhas requer um equilíbrio bastante específico e de forças opostas: emoção e razão – além, é claro, de tentarmos prever o futuro próximo para saber se essas decisões serão as consideradas melhores. A tomada de decisão, independente do contexto em que nos encontramos, é algo que envolve os mais variados processos mentais. Se você é um ser indeciso por natureza, talvez as informações abaixo o ajudem a ficar mais seguro nas horas de enfrentar as escolhas – e não se arrepender depois:
Você é do tipo que faz as análises mais cuidadosas de tudo antes de escolher algo? Pois bem, às vezes isso não é tão bom assim – é melhor confiar mais nos seus instintos. Por exemplo, os pesquisadores Janine Willis e Alexander Todorv, da Universidade de Princenton, Estados Unidos, garantem que nós fazemos julgamentos sobre confiabilidade e agressividade das pessoas em menos de um segundo, tudo com base no nosso instinto pessoal – e essas rápidas primeiras impressões quase sempre se mostram verdadeiras.
Na Universidade de Amsterdã, pesquisas foram feitas com pessoas que deviam escolher quatro modelos hipotéticos de carro para comprar. Quando elas analisaram as especificações básicas deles, as escolhas ocorreram de modo rápido e seguro – de modo relativamente instintivo (no que eles acreditavam ser o melhor). Porém, quando listas com recursos mais complexos dos veículos foram apresentadas, os prós e os contras das análises fizeram com que as decisões se tornassem mais demoradas e racionais.
Se você comprar roupas de modo impulsivo e não analisar as outras opções, é provável que você fique muito mais feliz do que se fosse procurar por todas as opções calmamente – algo que pode favorecer a indecisão. Não é errado confiar nos seus instintos quando for tomar decisões, sejam simples ou complexas. O importante é não deixar que os seus sentimentos pessoais distorçam a realidade para favorecer as escolhas pessoais.
As opiniões dos outros influenciam nossas decisões, isso é fato. Para assuntos pessoais, isso pode não ser muito bom, porém em outros casos é melhor deixar que pessoas com mais conhecimento tomem decisões por você do que você tentar mostrar algo que não sabe. Por exemplo, se você não entende de vinhos, é melhor que outras pessoas escolham os vinhos que serão servidos em um jantar.
Outro exemplo mais drástico: não é você quem escolhe qual tratamento de saúde deve seguir, e sim o seu médico. Aplique esse raciocínio em outros contextos e tente ser mais humilde para aceitar as opiniões dos outros – todos nós somos leigos em algum assunto.
E se isso acontecer? E se aquilo se concretizar? Quando formos decidir algo, é importante não ficarmos neuróticos com o futuro – até porque ele é bastante incerto e mutável. Muitas vezes, nós superestimamos o impacto emocional de nossas escolhas. O psicólogo Daniel Kahneman, da Universidade de Princeton, diz que as consequências dos atos são menos intensas e mais breves do que imaginamos, porém que o sentimento de aversão à perda, que tem como base o medo, é o que pode nos barrar.
Por exemplo, Kahneman descobriu que grande parte das pessoas não é capaz de participar de apostas se não ganhar pelo menos o dobro do que pode perder. Porém, se perdermos, o psicólogo diz novamente que esse trauma não será tão doloroso como podemos pressupor. Portanto, se liberte mais de seus medos e arrisque mais.
No momento de escolher um bolo em uma confeitaria, é normal o compararmos com os outros com base no visual e nos seus ingredientes. O modo como as alternativas são apresentadas é o diferencial (se o bolo é mais barato, mais gostoso, livre de gorduras, entre outras características).
O importante é que você não seja diretamente influenciado pelas mensagens extras que esses produtos trazem, pois às vezes esses benefícios não passam de marketing para que um produto A seja mais vendido do que o B. Por isso, procure analisar os produtos, independente do que eles são, de acordo com suas características essenciais, e não com base nas informações que estão atreladas a eles – e assim suas decisões serão mais verdadeiras.
Eventualmente, nós tomamos decisões ruins, como um curso que pagamos e descobrimos posteriormente que não gostamos. Quanto mais gastamos nosso tempo e dinheiro com algo, mais nos envolvemos com esse algo – e logo podemos perceber, pelo menos instintivamente, se estamos felizes ou não com o rumo da decisão. Se você tem o sentimento de que algo não foi bem decidido, é melhor não perder tempo e deixar o orgulho de lado, mudar seus planos e recomeçar. Insistir em escolhas ruins só fará você perder mais tempo.
As emoções do ser humano evoluíram para que nós possamos sobreviver às mais variadas situações de um jeito rápido e inconsciente. O medo faz com que possamos lutar ou fugir; o nojo, a evitar algo que nos é repugnante. Contudo, o papel das emoções vai muito além, principalmente no que tange a tomada de decisões.
O neurobiólogo Antonio Damasio, da Universidade Sul da Califórnia, realizou estudos com pessoas que possuíam danos na área emocional do cérebro e descobriu fatos bem interessantes. Por exemplo, as pessoas com danos cerebrais tinham maior dificuldade de escolher coisas simples, como o que vestir ou o que comer. Portanto, as emoções são cruciais na tomada de qualquer decisão.
Outro exemplo: pessoas irritadas não analisam muito bem as opções e escolhem logo o que é oferecido ou que parece mais fácil. Sentimentos como o nervosismo fazem com que fiquemos mais imprudentes, egoístas e propensos a correr riscos exagerados. Todas as emoções nos afetam diretamente e assim também é com as pessoas mais deprimidas – porém, de um jeito inesperado.
Um estudo da Universidade da Virgínia revelou que pessoas deprimidas levam mais tempo para considerar suas decisões e, consequentemente, escolhem melhor depois de analisar as opções de um modo neutro. A questão é que existem muitos estudos que afirmam que as pessoas tristes possuem uma visão mais realista do mundo, sendo que, inclusive, há um termo para esse tipo de perfil psicológico: o realismo deprimido.
As pessoas ficam mais confortáveis se puderem escolher um chocolate entre 5 do que um entre 20 – esse é o chamado paradoxo da escolha. Esse conceito parte do pressuposto de que as opções são boas, porém menos possibilidades às vezes é melhor do que um leque muito extenso – claro, estamos falando de um número exagerado de opções quando é comparado com outro mais modesto.
Por exemplo, em vez de procurar todas as páginas da internet com dicas do melhor celular que você pode comprar, talvez se você conversar com um amigo já poderá ter noção das opções. Limitar o número de escolhas, nesses casos, faz com que você seja mais direto e fique, principalmente, mais seguro (as opiniões de conhecidos já são mais fortes do que de desconhecidos).
Se não fosse assim, as pessoas não escolheriam os seus pares românticos jamais, já que existem milhões de pessoas no mundo e várias possibilidades de se apaixonar e viver com alguém. A decisão firme reside em escolher algo e, quando certo disso, não pensar mais nas outras possibilidades que deixaram de existir depois que você já decidiu o que quer.