Saúde/bem-estar
17/10/2023 às 09:00•2 min de leitura
Distúrbio alimentar pouco conhecido, o mastigar e cuspir é um comportamento que envolve o ato de mastigar um alimento, geralmente delicioso e muito calórico, e cuspi-lo em seguida, em vez de engolir. A ideia parece ser apreciar ao máximo o sabor da comida sem ingerir as calorias.
Mais comum do que imaginamos (porque as pessoas com o transtorno normalmente não o revelam por vergonha), o comportamento mais se parece com uma compulsão alimentar, porque envolve porções de alimento maiores do que as desejadas, e geralmente de alto teor energético.
Porém, ao contrário da bulimia, o mastigar e cuspir não adota qualquer tipo de purgação posterior, como induzir vômitos, abusar de laxantes, pular refeições ou praticar exercícios físicos compulsivamente. Por isso, pode ser definido como um comportamento restritivo, uma vez que os alimentos não são realmente consumidos.
(Fonte: Getty Images)
Como o alimento não chega a ser digerido, o mastigar e cuspir era considerado uma espécie de purgação branda, e o comportamento incluído do rol de sintomas do transtorno alimentar não especificado (TANE), em uma versão antiga do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). No entanto, o atual DSM-5, lançado em 2013, não cita diretamente o distúrbio, incluindo-o em "outros transtornos alimentares/da alimentação".
Apesar de incluído em uma categoria com dados insuficientes para apoiar uma classificação própria no DSM, o mastigar e cuspir mostrou uma prevalência de 0,4% entre os adultos (com idade média de 39 anos) avaliados em uma pesquisa ampla realizada na Austrália em 2018. Outro estudo, publicado no ano seguinte, no Eating Disorders: The Journal of Treatment & Prevention descobriu que o comportamento ocorre em até 12% dos adolescentes.
A treinadora de recuperação de transtornos alimentares Heidi McLachlan, baseada em Saskatoon, no Canadá, afirmou, em entrevista ao site Vox, que a prática de mastigar e cuspir tem origem em uma preocupação exagerada com a imagem corporal combinada com um desejo de controle. Quando essa ansiedade se torna patológica, os pensamentos ficam desorientados e obsessivos, causando intenso sofrimento.
(Fonte: Getty Images)
Embora pareça inofensiva, as consequências desse transtorno alimentar podem se tornar graves, pois, uma vez que o processo de digestão inicia na boca, o estômago começa a produzir suco gástrico (com ácido clorídrico) para quebrar proteínas de um alimento que não chega. O desencontro pode resultar em úlceras e refluxo gastroesofágico.
Mas o efeito colateral mais impressionante é justamente o que esses indivíduos mais temem: o ganho de peso, pois a restrição radical de alimentos leva a uma fome terrível que faz com que, mais tarde, a pessoa ingira compulsivamente mais comida e calorias.
Como indivíduos que lutam com o hábito de mastigar e cuspir se sentem únicos, explica McLachlan, é preciso haver mais consciência de que outros também lutam com o transtorno, para que mais pessoas busquem ajuda especializada.