Artes/cultura
20/12/2024 às 21:00•2 min de leituraAtualizado em 20/12/2024 às 21:00
Em 2013, um professor chamado John Ssentamu estava sentado em um ônibus em Kampala, a capital de Uganda, e viu um companheiro de viagem lendo uma página de um livro chamado Harry Potter e a Pedra Filosofal. Encantado com aquele mundo da fantasia, Ssentamu pediu o livro emprestado para o colega, que cedeu.
Mais tarde, ele ficaria fascinado pelo jogo de quadribol, um esporte fictício mostrado no livro e que é disputado em vassouras voadoras. Tudo isso mudaria em breve a sua vida e da sua comunidade.
Ao lado de sua esposa, John Ssentamu se mudou em 2013 para a cidade de Katwadde, onde tinha a missão de levar a educação para vilas rurais. Neste local, as crianças não iam à escola. Ssentamu decidiu intervir nessa realidade – e, para fazer isso, usaria o quadribol.
Para inspirar a comunidade local na sua escola, ele resolveu adaptar para a vida real o quadribol por meio de um jogo que fosse envolvente para meninos e meninas. O novo esporte adaptado se transformou em uma paixão para Ssentamu e uma experiência que transformou a escola.
Tudo isso foi registrado pelo documentarista e diretor de cinema Ben Garfield em um filme chamado The Ugandan Quidditch Movement. Em janeiro de 2023, ele e sua equipe passaram oito dias na vila de Katwadde, filmando a história de Ssentamu sobre a criação do primeiro time de quadribol de Uganda. O time cresceu tanto que foi selecionado para a Copa do Mundo Internacional de Quadribol. Infelizmente, eles acabaram não indo por conta dos custos e das restrições da pandemia de covid-19.
Embora o time ainda não tenha participado da Copa, John Ssentamu disse ao documentário que esse não é o seu objetivo principal. "Chegar à Copa do Mundo não é o objetivo final em si. Era para lançar luz sobre o trabalho que o quadribol estava fazendo por eles em casa, combatendo a pobreza, o analfabetismo e a discriminação de gênero em Uganda e, esperançosamente, na África em geral", afirmou Doug Baldinger, produtor do filme.
O curioso é que a maior parte das crianças nunca havia ouvido falar sobre Harry Potter, mas se envolveu com o esporte. "Uma das outras forças motrizes do quadribol não era apenas a diversidade de gênero, mas a capacidade de uma comunidade rural competir. Não há muita infraestrutura construída em torno do quadribol. Não há treinadores particulares de quadribol que você possa contratar, ou times de quadribol de escolas particulares chiques em operação, então todo mundo está meio que começando do zero", acrescentou Baldinger.
O time de Ssentamu utilizava pneus ocos como aros e gravetos como vassouras. O objetivo do esporte é a unificação dos jogadores de um time e dos entusiastas do quadribol ao redor do mundo. "Independentemente de onde alguém esteja, nós compartilhamos algumas coisas. O quadribol pode ser praticado em qualquer lugar. Pode ser amado em qualquer lugar", afirmou Ssentamu.
Ao longo de uma década, o jogo se tornou um ponto de orgulho para a vila e para Uganda. Os membros que começaram no time ainda crianças na escola se tornaram adultos e passaram a jogar em times regionais, espalhando o esporte e os valores por trás dele. Richard, uma das estrelas do time, abriu uma instituição de caridade com seu irmão, com foco em educar outras crianças órfãs.
O sonho de John Ssentamu ainda não chegou ao fim, e agora ele nutre esperanças de levar um time seu para uma Copa do Mundo. “Se eu conseguir fazer isso, mesmo que eu morra, morrerei um homem feliz”, conclui.