Saúde/bem-estar
19/12/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 19/12/2024 às 18:00
Parcialmente (ou completamente) viciados em telas nos últimos anos da tecnologia digital, não temos noção de que esse é um dos motivos de a nossa capacidade de atenção estar reduzida. Um livro recente do neurologista americano Richard E. Cytowic tenta explicar esse fenômeno moderno através do nosso cérebro ancestral.
Em Seu cérebro da idade da pedra na era da tela: lidando com a distração digital e a sobrecarga sensorial, Cytowic argumenta que, como nosso cérebro não mudou significativamente desde a Idade da Pedra, estamos mal equipados para lidar com o fascínio das tecnologias modernas.
Para o autor, o estresse gerado por essa sobrecarga informacional afeta diretamente nossa homeostase, mecanismo interno de autorregulação face às mudanças do ambiente externo. O raciocínio é simples: o cérebro tem limites fixos de energia, sentir-se sobrecarregado leva ao estresse, que leva à distração que, por sua vez, leva ao erro. Há então duas soluções possíveis: parar o fluxo de informações ou aliviar o estresse acumulado.
Para Cytowic, a sobrecarga visual representa hoje um desafio maior do que a auditiva, pois as conexões olho-cérebro superam as conexões ouvido-cérebro em aproximadamente três vezes. Para isso, nossa percepção evoluiu para priorizar entradas simultâneas, ou seja, décimos de segundo entre a captação na retina e a compreensão no córtex visual primário.
Essa sobrecarga é amplificada pelos smartphones, que bombardeiam nossos sentidos com fluxos constantes de informação. Enquanto nossos ancestrais processavam somente estímulos naturais, temos que lidar com "um espectro eletromagnético massivo de dados e sinais", afirma o escritor.
Enquanto a capacidade de absorver e processar informações em nossos corpos continua a mesma, a capacidade de armazenamento digital disparou, de gigabytes a zettabytes. Essa disparidade entre capacidade tecnológica e biológica cria um descompasso que afeta diretamente a concentração e o processamento mental.
Estudos sobre nossa capacidade de atenção mostram, segundo Cytowic, que, em 2004, as pessoas mantinham foco por 150 segundos entre trocas de tela; em 2012, esse tempo caiu para apenas 47 segundos. A neurociência cria três classificações para explicar como o cérebro lida com demandas de concentração e foco: sustentada, seletiva e alternada.
A neurociência alerta para os custos energéticos dessa constante mudança de foco, que pode resultar em problemas de memória e concentração. Dispositivos inteligentes exigem respostas imediatas, condicionando-nos a um estado permanente de interrupção e realocação de recursos mentais.
Em termos do custo de energia consumida pela mudança repetida de atenção ao longo do dia, "temo que tenhamos atingido o limite da Idade da Pedra do cérebro", diz Cytowic. Ultrapassar esse limite pode resultar em pensamento nebuloso, foco reduzido, bloqueio de pensamento, lapso de memória ou falta de precisão mental, conclui o neurologista.