Ciência
18/07/2018 às 04:00•4 min de leitura
Hoje, sabemos que o corpo humano é uma máquina complexa capaz de exercer as mais diversas funções. Mas logicamente todo o conhecimento que temos sobre a anatomia humana não veio junto com o surgimento da humanidade, levando milhares de anos para que realmente entendêssemos quais eram as reais funções de certas partes do corpo.
Porém, se você tivesse nascido há muitos anos atrás, estaria mais do que certo de que os testículos têm uma relação direta com a voz masculina, que o clitóris não existe e que o útero é um órgão capaz de sair do lugar e dar voltas pelo corpo. Duvida? Então confira abaixo os mitos sobre a sexualidade nos quais as pessoas acreditaram por muito tempo:
Fonte da imagem: Reprodução/Shutterstock
Se pararmos para pensar, um simples exame é capaz comprovar a existência do clitóris. Mas por mais incrível que pareça, a existência dessa pequena parte do corpo feminino foi motivo de debate entre a comunidade científica por centenas de anos. Os gregos, por exemplo, acreditavam que todo ato sexual requeria penetração. Esse pensamento os levou a supor que as lésbicas teriam clitóris gigantes, ou pelo menos grandes o suficiente para penetrar outra mulher.
Bem, logicamente os gregos estavam equivocados, mas eles não negavam a existência do clitóris. Diferentemente de Andreas Vesalius, um anatomista belga que declarou na década de 1500 que o órgão simplesmente não existia. Vale notar que Vesalius era médico e certamente já teria analisado um número suficiente de mulheres para se certificar de que o clitóris não era uma mera invenção.
De qualquer maneira, para justificar sua afirmação, o anatomista assumiu que todas as mulheres que tinham um clitóris eram, na verdade, hermafroditas dotadas de um pequeno pênis, já que as mulheres “normais e saudáveis” não apresentavam a mesma anatomia.
A verdade por trás de toda a campanha anticlitoriana levantada pelo profissional é que ele tinha uma teoria de que os genitais masculinos e femininos eram o oposto um do outro: o pênis seria o inverso da vagina e os testículos seriam o contrário dos ovários. O problema é que os homens não apresentavam nenhuma estrutura que pudesse se opor ao clitóris, então, em vez de admitir que havia um furo na teoria, Vesalius preferiu acreditar que todas as mulheres que tinham o órgão possuíam anomalias genéticas.
Fonte da imagem: Reprodução/Shutterstock
Desde cedo os gregos já haviam desvendado as funções dos testículos no corpo masculino. Mas não contentes em saber que esses órgãos tinham um papel fundamental na reprodução humana, eles resolveram achar mais uma função para essa parte do corpo.
Aristóteles acreditava que os testículos eram pesos que estavam diretamente conectados às cordas vocais através dos vasos sanguíneos. Sua teoria defendia que, com a chegada da puberdade e o início da produção de esperma, os testículos desceriam e isso causaria uma tensão nas cordas vocais, fazendo com que a voz do menino engrossasse.
Por sorte, os gregos ainda tinham uma maneira de comprovar a teoria do filósofo, afinal a castração era comum na cultura grega. Dessa maneira, eles perceberam que a voz de um garoto castrado se mantinha inalterada já que ele não teria os testículos agindo como peso nas cordas vocais. Esse fato comprovaria a teoria de Aristóteles, mas, para o bem da humanidade, essa ideia foi refutada posteriormente.
O ator Mark Wahlberg é conhecido por ter três mamilos. Fonte da imagem: Reprodução/Flecking Records
Hoje a ciência sabe que uma em cada 18 pessoas tem um terceiro mamilo, que pode ter o aspecto visual de uma pinta ou uma marca de nascença. Mas, se personalidades como a cantora Lily Allen e o ator Mark Wahlberg tivessem nascido em outra época, provavelmente eles não estariam vivos para saber que não há nada de errado em nascer com um mamilo a mais.
Acontece que, na Idade Média, as pessoas associavam os mamilos extras e outras marcas de nascença a coisas bem sinistras. Os homens daquele tempo acreditavam que as mulheres que vagavam durante a noite estavam esperando uma oportunidade para fazer um pacto com o diabo. Quando o suposto pacto era feito, o diabo deixava uma marca no corpo da mulher, que poderia ser uma mancha de nascença, uma pinta ou um terceiro mamilo.
Esqueça os caldeirões e as asas de morcego: se uma mulher fosse acusada de bruxaria, ela seria despida e qualquer uma dessas marcas seria considerada uma prova suficiente para que ela fosse condenada a morrer na fogueira.
Fonte da imagem: Reprodução/Shutterstock
Mais uma vez, o que está por trás desse mito é a curiosidade e a criatividade dos gregos. Afinal, eles sabiam que o útero era um órgão exclusivo do corpo feminino, o que os fez deduzir que ele fosse o responsável pela diferença do comportamento dos gêneros. Além disso, os gregos entendiam que o útero servia para abrigar o bebê durante a gravidez, mas ficavam se perguntando o que acontecia quando o órgão estava vazio.
Foi a partir daí que eles desenvolveram uma teoria de que o útero de uma mulher que não estava grávida podia sair do lugar e dar voltas por todo o corpo. Só que existe um lado negativo nessa ideia, que prega que o útero sairia causando danos aos outros órgãos e essa seria a explicação para as variações de humor das mulheres.
Os efeitos causados pelo útero vagante receberam o nome de “histeria” e essa teoria se manteve até o Renascimento. Qualquer doença que acometesse uma mulher – fosse cólica, depressão ou o que mais pudermos imaginar –, o diagnóstico seria sempre histeria. Mesmo depois dos médicos concluírem que nenhum órgão é capaz de sair do lugar, o conceito da histeria feminina se manteve e ainda no século 20 as mulheres ouviriam que o que estava por trás de seus “problemas femininos” era um útero desordenado.
Curiosamente, no final da década de 1800 a principal prescrição para as mulheres que supostamente sofriam de histeria era o orgasmo, que costumava a ser alcançado através de jatos de água, vibradores ou com a assistência dos médicos.
*Publicado originalmente em 13/11/2013.
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