Artes/cultura
20/08/2014 às 12:33•5 min de leitura
Muitos vírus e bacilos que causam infecções devastadoras e mortais estão pelo mundo ou confinados em laboratórios, sendo considerados armas biológicas perigosas para a humanidade. Algumas dessas doenças já foram utilizadas como armas para dizimar inimigos em algumas guerras da antiguidade.
A prática foi utilizada até 1925, quando o Protocolo de Genebra foi decretado, proibindo o uso de gases asfixiantes, tóxicos ou similares, além de estabelecer a proibição de armas químicas e bacteriológicas em conflitos armados internacionais. Apesar disso, o tratado foi desobedecido por alguns líderes, como Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial e Saddam Hussein, na guerra contra o Irã, que utilizaram agentes químicos, como o gás mostarda.
Porém, em se tratando de doenças causadas por vírus e bacilos letais, não estamos totalmente protegidos. Apesar de algumas delas estarem erradicadas, as suas cepas e amostras estão vivas em alguns laboratórios, correndo o risco de caírem nas mãos erradas a ponto de causar um apocalipse viral e bacteriológico. Confira abaixo algumas delas.
Antraz é uma doença aguda causada pela bactéria Bacillus anthracis. A maioria das formas da doença é letal, afetando seres humanos e animais. Como muitos outros membros do gênero Bacillus, o B. anthracis pode formar endósporos que dormentes são capazes de sobreviver em condições adversas ao longo de décadas ou mesmo séculos.
Em certas condições, eles podem “despertar” se inalados, ingeridos ou ao entrar em contato com uma lesão de pele, podendo se multiplicar rapidamente e matar. Em vista da resistência às mudanças ambientais e alta mortalidade, o antraz é classificado como uma arma biológica de classe A.
Um dos mais recentes casos da bactéria como uma arma invisível foi o terrorismo postal em 2001, que teve cartas enviadas com antraz a escritórios de alguns meios de comunicação e de senadores democratas nos Estados Unidos, infectando 22 pessoas e matando cinco.
Vacinas eficazes contra o antraz estão agora disponíveis, mas com diversos efeitos colaterais, e algumas formas da doença respondem bem ao tratamento com antibióticos se for realizado rapidamente.
A varíola foi uma das doenças mais devastadoras da História, matando quase 500 milhões de pessoas apenas no século XX. Felizmente, ela foi considerada erradicada pela Organização Mundial de Saúde OMS em 1980 graças à intensa campanha de vacinação no mundo inteiro. A vacina foi criada em 1796 por Edward Jenner.
A doença teria surgido na Índia, mas também foi descrita na Ásia e África antes mesmo da Era Cristã, podendo ser a epidemia mortal responsável por ter eliminado um terço da população, no ano de 430 a.C.
Só foi possível eliminar a doença porque só os seres humanos são hospedeiros, tendo só um serotipo (logo, a imunização é eficaz e protege contra 100% dos casos). No entanto, o vírus está guardado em dois centros governamentais, no Laboratório de Controle de Doenças (CDC) de Atlanta (EUA) e no Instituto Vector em Koltsovo, na Rússia.
Apesar de a OMS pedir que as amostras sejam destruídas, há resistência de alguns cientistas contra esta decisão. Com isso, mesmo que os órgãos que abrigam o vírus sejam bem protegidos, sempre há o risco de algo sair do controle.
A varíola é considerada uma arma biológica da classe A, e há dois tipos da doença: a varíola maior (ou apenas varíola) e a varíola menor ou alastrim, que causa os mesmos sintomas, mas muito mais moderados. O último caso de infecção natural com a varíola foi registrado em 1977.
Na Europa medieval, uma doença causada pela bactéria Yersinia pestis causou a morte de 25 milhões de pessoas. A praga é resistente a baixas temperaturas e armazenada na expectoração.
Os principais vetores são pulgas, roedores e outros animais infectados. Junto com outros tipos de peste, a bubônica é caracterizada por um elevado grau de contágio e mortalidade muito alta. Se o tratamento não é iniciado a tempo, durante as primeiras 24 horas, pode matar em 70% dos casos.
Os pacientes com doença infecciosa grave foram usados como uma arma contra inimigos desde a China antiga e Europa medieval. Cadáveres infectados eram colocados em fontes de água e em catapultas para serem atirados em fortalezas.
A cólera é uma infecção intestinal aguda causada pelo vibrião colérico (Vibrio cholerae), que é uma bactéria que se multiplica rapidamente, principalmente em áreas com péssimas condições sanitárias e climas com altas temperaturas. A infecção geralmente ocorre através do consumo de água ou alimentos contaminados por dejetos fecais.
Dentro de um curto período de tempo a contaminação acelerada pode se tornar uma epidemia, com uma mortalidade de 50% na ausência de tratamento, sendo ainda mais alta em adultos com mais de 40 anos de idade. Por essas razões, também pode ser considerada uma arma biológica.
Apesar disso, o tratamento é simples e altamente eficaz se feito a tempo, consistindo em hidratação com soro e uso de antibióticos. Durante a Segunda Guerra Mundial, bactérias da cólera e febre tifoide foram colocadas pelos japoneses em mais de 100 poços chineses, causando a morte de centenas de pessoas que viviam em condições precárias.
A tularemia é uma doença infecciosa provocada pela bactéria Francisella tularensis. É muito estável no ambiente e seus principais hospedeiros são lebres, ratos e esquilos. A transmissão ocorre através do contato com animais ou através de alimentos e água contaminados, sendo altamente contagiosa.
Apesar do fato de a taxa de mortalidade de tularemia ser apenas de 5%, considera-se como uma potencial arma biológica, devido à capacidade de causar uma infecção em massa rapidamente: algumas poucas amostras de bactérias da tularemia pulverizadas podem levar à infecção de milhares de pessoas.
A toxina botulínica é composta por um complexo proteico obtido a partir da bactéria Clostridium botulinum. A infecção humana ocorre pela ingestão de alimentos contaminados com a toxina no trato gastrointestinal. Apesar da baixa ocorrência da doença, ela tem alta letalidade, causando paralisia muscular, dificuldade motora e respiratória.
As toxinas botulínicas são referidas como uma das mais altamente tóxicas substâncias biológicas. Se houver a contaminação e o diagnóstico for rápido, é possível o tratamento com a anti-toxina (antídoto).
As henipaviroses são naturalmente abrigadas por morcegos frugíveros e algumas espécies de micromorcegos. A doença é capaz de causar a morte em animais domésticos e seres humanos. Em 2009, sequências de RNA de três novos vírus para henipaviruses foram detectadas no morcego Eidolon helvum, na África.
Algumas epidemias ocorreram também em cavalos na Austrália, que foram infectados por morcegos. Dessas, algumas pessoas foram infectadas por entrarem em contato com os equinos. Em novembro de 2012, uma vacina tornou-se disponível para cavalos, quebrando o ciclo de transmissão dos morcegos para os equinos e impedindo-os de passar para os seres humanos.
De acordo com os cientistas, uma vacina eficaz para humanos levará mais tempo para ser feita, mas já existem algumas experimentais. Uma curiosidade: o Nipah vírus, um dos causadores da Henipavirose, foi o que inspirou o filme Contágio (de 2011).
Durante a Guerra Fria, os soviéticos criaram um programa de armas biológicas de magnitude assustadora. De 1970 a 1992, 60 mil soviéticos estavam envolvidos na pesquisa e testes de armas biológicas.
Após a dissolução da União Soviética, as nações estrangeiras recrutaram os cientistas. Alguns, como Ken Alibek, juntaram-se às empresas privadas dos Estados Unidos e expuseram segredos sobre o programa.
Um dos projetos mais mortais dos soviéticos era uma tentativa de criar o vírus quimera: metade varíola e metade Ebola. Ele poderia se espalhar tão rapidamente quanto a varíola e matar com a força do Ebola.
É desconhecido se os cientistas desertores soviéticos venderam suas pesquisas para as nações que abrigam terroristas, mas, desde aquela época, os cientistas americanos e funcionários do governo se preparam para a possibilidade dessa quimera ser acionada.
Toxina de origem vegetal seis vezes mais venenosa que o cianeto, a ricina é obtida a partir de uma proteína de sementes de mamona. Mesmo em pequenas doses, a ricina pode matar uma pessoa quando em contato com os pulmões (inalada) ou corrente sanguínea (injetada). Não há contágio de pessoa para pessoa.
As agências militares de diferentes países a têm estudado como uma arma de destruição em massa. Traços de ricina e instruções para sua fabricação foram encontrados repetidamente durante a captura de terroristas em Cabul, Londres e Paris.