Artes/cultura
29/11/2023 às 04:13•2 min de leitura
Para quem esteve vagando pela internet nos últimos anos, é possível que você já tenha lido por aí uma afirmação de que o sabor artificial da baunilha encontrado em biscoitos ou sorvetes vem de uma gosma secretada pelo traseiro dos castores. De tempos em tempos, uma publicação similar costuma viralizar por aí, alertando os consumidores sobre o castóreo — uma substância "disfarçada" de aromatizante natural na lista de ingredientes.
Mas até que ponto essa informação é verdadeira? Para a surpresa da grande maioria das pessoas, a afirmação não é totalmente falsa. Os castores realmente excretam o castóreo, de cheiro adocicado, de bolsas próximas ao ânus. Contudo, essa substância é dificilmente usada na indústria alimentar recentemente.
(Fonte: GettyImages)
Em entrevista à National Geographic, a química do Bryn Mawr College e pesquisadora da ciência dos alimentos, Jessica Taylor Price, afirmou que o castóreo é um produto incrivelmente caro, raro e "não tem como estar no seu sorvete". Essa substância marrom-amarelada localizada nos sacos mamonas dos castores, que se encontram entre a pélvis e a base da cauda, é usada pelos animais para marcar território.
Portanto, quando um castor constrói pilhas de lama, gravetos ou grama à beira d'água, eles costumam secretar castóreo por cima para mostrar aos outros que aquele espaço é seu. Esses montes exalam um aroma forte o suficiente para que até mesmo os humanos consigam detectá-los facilmente. "É um cheiro muito característico. É meio almiscarado, mas doce", descreveu Roisin Campbell-Palmer, chefe de restauração da Beaver Trust, uma organização de conservação de castores no Reino Unido, à Nat Geo.
Esse aroma poderoso da secreção vem das plantas da dieta dos castores. Surpreendentemente, os humanos usam o castóreo há mais de 2 mil anos, principalmente para curar doenças como dores de cabeça, dores de ouvido, dores de dente, febres e gota. Também é uma substância amplamente usada na perfumaria para adicionar um aroma de couro aos objetos.
(Fonte: GettyImages)
Um grande problema sobre o castóreo é que extraí-lo faz parte de um processo delicado e trabalhoso. Primeiro, os castores devem ser anestesiados e, em seguida, suas glândulas mamonas devem ser "ordenhadas". Então, o líquido é basicamente esguichado pelas criaturas em um procedimento um tanto quanto nojento. Essa substância também pode ser colhida de castores mortos se seus sacos de mamona forem removidos e deixados secar.
No início do século XX, o castóreo começou a aparecer em alguns alimentos como forma de adicionar um sabor de baunilha e framboesa. Porém, a sua utilização diminui consideravelmente a partir de 1987, quando os Estados Unidos cortaram seu uso na indústria.
Agora, a substância é encontrada principalmente em alimentos de nicho, como o licor sueco. Em vez disso, 99% dos aromatizantes de baunilha mundial provém de pontes sintéticas, o que representa uma alternativa mais barata e menos trabalhosa à colheita de grãos de baunilha ou de castóreo. Portanto, mesmo que essa substância seja segura de se ingerir, pode ficar tranquilo: você dificilmente estará colocando qualquer coisa vinda do bumbum dos castores em sua boca.