Ciência
10/01/2024 às 11:17•5 min de leitura
Você já deve ter ouvido falar do veganismo. Nos últimos anos, o movimento tem crescido bastante em todo o mundo, e aqui no Brasil a história não é diferente. Uma grande quantidade de pessoas tem abolido a utilização de produtos de origem animal e se tornado veganas. Mas afinal de contas... O que é um vegano? Hoje, trouxemos a resposta para esta e várias outras perguntas que veganos ouvem com certa frequência.
E quem responde tudo isso é o redator Renan Hamann (que escreve para o TecMundo e para o Mega Curioso). Adepto do veganismo desde o começo de 2013, ele abandonou o consumo de carne no final de 2011 e desde então vem estudando bastante sobre os temas veganismo, vegetarianismo e libertação animal. Esperamos que todos gostem das informações reunidas aqui.
De uma forma bem direta: o vegano (ou vegan) é uma pessoa que pratica o veganismo em todas as suas ações, seja na alimentação ou não. Ele é vegetariano estrito em sua dieta e também não utiliza produtos de origem animal. Na definição da The Vegan Society, o vegano “busca excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração e de crueldade contra animais”.
Esta pergunta é básica e todos os adeptos do veganismo já tiveram que respondê-la algumas vezes — mas é impossível falar sobre o assunto sem mencioná-la. O veganismo é, em suma, um movimento que busca a libertação animal em todas as frentes possíveis, incluindo mercado, alimentação, trabalho forçado e entretenimento. Vale dizer que isso não envolve apenas os animais não humanos (que são chamados de “irracionais” pelo senso comum).
(Fonte: Getty Images)
Ou seja, a libertação dos seres humanos também é defendida. Isso significa que veganos buscam eliminar o consumo de produtos oriundos de empresas que exploram a mão de obra análoga à escravidão. Além disso, ainda há movimentos (como o Food for Life) que apoiam a adoção universal do veganismo como forma de democratizar o acesso à alimentação — pois cerca da metade dos grãos produzidos no mundo são usados para a engorda de “animais de corte”.
Há muitas pessoas que confundem os termos e acreditam que o “veganismo” é apenas uma dieta. Como já dissemos anteriormente, ele é um movimento de libertação animal. A dieta seguida pelos veganos é o “vegetarianismo estrito” — que também é seguida por outras pessoas que não são veganas. Pode parecer confuso no começo, mas na verdade é bem fácil entender. Confira a tabela abaixo:
(Fonte: Vista-se/Reprodução)
A tabela é do site Vista-se, que buscou no link anterior separar os tipos de vegetarianos que existem atualmente. Como você pode ver, os veganos — movimento vegano e dieta vegetariana — são aqueles que não consomem carnes, leite e derivados do leite, ovos e derivados do ovo, mel ou qualquer outro produto oriundo da exploração animal.
Por mais que a palavra “estrito” seja deixada de lado em muitos casos, ela é necessária para diferenciar os vegetarianos dos “ovolactovegetarianos”, “lactovegetarianos” ou “ovovegetarianos”. Esses três grupos não consomem carne, mas ainda assim consomem produtos que contribuem para a exploração dos animais — falaremos mais sobre isso em seguida.
Ressaltando o que dissemos anteriormente, todo vegano é vegetariano estrito. Porém, nem todo vegetariano estrito é vegano. Isso acontece porque há pessoas que não consomem nada de origem animal na alimentação, mas acabam consumindo couro, lã, seda ou vão a circo com animais e outros eventos com exploração (incluindo rodeios, zoológicos e parques).
(Fonte: Getty Images)
Se você é vegano ou vegetariano, certamente já ouviu a pergunta “Nem peixe?”. Se você não é, provavelmente já fez a pergunta para algum amigo. E a resposta é bem clara: a dieta vegetariana exclui a carne dos peixes e de outros frutos do mar de seu cardápio.
Porque todos os animais possuem sistema nervoso central e senciência — a capacidade de sofrer, sentir dor ou felicidade que somente os animais têm. Por mais que eles não emitam sons fora da água, eles sentem dor ao serem pescados ou cortados ainda vivos. Ao serem retirados da água, morrem em um doloroso processo de asfixia.
(Fonte: Getty Images)
Há quem diga que o leite e os ovos não são um problema, pois eles são criados sem a necessidade de matar um animal — o que claramente acontece com a carne. Porém, existe uma série de explorações que a grande maioria não leva em consideração quando fala sobre o tema. Abaixo você pode conferir alguns exemplos:
Como em toda espécie de mamífero, para que a “vaca leiteira” produza leite, é preciso que ela seja mãe. Na indústria, as vacas são emprenhadas com inseminação artificial e depois do parto têm seus filhotes levados embora — geralmente as fêmeas são encaminhadas para o mesmo processo, e os machos são abatidos ainda enquanto bezerros para abastecer o mercado de vitelos.
A expectativa de vida de uma vaca é de cerca de 20 anos, mas as vacas leiteiras são geralmente abatidas com menos de 8 anos. Isso acontece porque elas começam a apresentar problemas de reprodução após várias gestações forçadas, problemas de locomoção devido a infecções ou matistes e outras inflamações.
Galinhas botam seus ovos em um processo natural? Sim, mas isso não significa que elas não sejam exploradas. Assim que nascem, as galinhas são debicadas (têm os bicos arrancados) sem anestesia. Isso é feito para que elas não firam umas às outras ao serem submetidas a situações de muito stress — o que acontece bastante, visto que até oito animais dividem gaiolas com pouco mais de 0,2 m².
Vale lembrar que as galinhas poedeiras podem passar a vida inteira sem ver a luz do sol, sem caminhar de uma maneira digna nem viver do modo natural — livres e tendo respeitadas suas próprias vontades.
(Fonte: Getty Images)
Você já viu que veganos não comem carne de nenhum tipo, derivados de qualquer produto animal — incluindo corantes criados com o esmagamento de insetos — e também não usam couro, lã, seda ou qualquer outro tipo de pele. Abaixo, você confere uma lista com diversas outras atividades que são deixadas de lado por quem é adepto do veganismo:
Anteriormente, nós falamos sobre a dieta vegetariana. Geralmente, costuma-se pensar que isso envolva apenas saladas sem gosto e sem tempero, mas essa imagem é completamente errada. Veganos comem cereais, frutas, legumes e qualquer outro alimento que venha das plantas, além de algas e cogumelos.
E isso não quer dizer que as comidas sejam apenas cruas — muito pelo contrário. Com algumas receitas na mão, é possível fazer alimentos saborosos e totalmente saudáveis. Além disso, também há muito “Junkie Food” vegano, pois a variedade de hambúrgueres, doces e frituras que podem ser feitas é gigantesca. E mais... É possível comer tudo isso sem ingerir um único grama de soja se você não quiser.
(Fonte: Facebook/Reprodução)
Costuma-se pensar que carnes são a única fonte de proteína, mas isso não é verdade. O próprio Ministério da Saúde do Brasil já reconheceu o vegetarianismo como uma forma saudável e completa de se alimentar. Isso porque todos os aminoácidos essenciais para a produção de proteínas dentro do seu corpo podem ser obtidos por meio dos vegetais.
Existe apenas um nutriente que não podemos encontrar em abundância na dieta vegetariana: a vitamina B12. Ela é produzida por bactérias e cianobactérias, com as quais a humanidade tem pouco ou nenhum contato atualmente. Isso significa que uma boa parcela da população — vegetariana ou não — pode apresentar deficiência ou insuficiência de B12. Felizmente, existem diversas suplementações sintéticas da vitamina.
Não! Nem todo vegano é magro, hippie ou “natureba”. A dieta vegetariana é rica em nutrientes e pode ser seguida por qualquer pessoa. Por mais que algumas pessoas estranhem, isso inclui atletas de alto rendimento — como Tony Gonzales (NFL) ou Mac Danzig (UFC) —, e fisiculturistas — como o brasileiro Felipe Garcia do Carmo ou o alemão Patrik Baboumian.
É claro... Também existem veganos que adoram comer em altas quantidades e que não praticam muita atividade física — o que inclui o redator deste artigo. Logo, o veganismo é democrático e tem lugar para diferentes tipos de pessoas, faixas etárias, alturas, pesos e tipos sanguíneos.
Dica: o grupo "Musculação Vegana" no Facebook já conta com mais de 62 mil membros. Lá é possível encontrar dicas, sugestões, tirar dúvidas e acompanhar a rotina de quem faz exercícios sendo vegano.
(Fonte: Getty Images)
Outro mito que pode ser facilmente derrubado. Apesar de existirem muitos estabelecimentos veganos em que a alimentação é cara, a dieta vegetariana pode ser muito barata. Comprando apenas vegetais e preparando os próprios alimentos, torna-se bem acessível ser vegano — podendo até mesmo ser mais barato do que se alimentar comendo carne e derivados.
Se você se interessou e quer saber mais sobre o veganismo, essa lista de documentários pode te ajudar. Alguns são de fácil acesso e estão disponíveis na Netflix:
Essas são algumas das dúvidas mais frequentes que envolvem o tema veganismo. Você já sabia do que falamos no texto ou todas as informações foram úteis? Caso tenha alguma dúvida, você pode também aproveitar o espaço dos comentários para fazer perguntas. Tentaremos responder aos questionamentos por aqui mesmo.
*Publicado originalmente em 17/08/15 e editado em 10/01/24