Artes/cultura
03/05/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 03/05/2024 às 12:00
Cerca de 900 toneladas de munição são recuperadas por ano durante a “colheita de ferro” em antigos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial. Esses locais foram estão cheios de artefatos explosivos não-detonados, estilhaços, projéteis, gases e materiais químicos.
Após o conflito, o governo da França avaliou o estrago do evento bélico em seus 7% de seu território atingido pelas batalhas, separando em três áreas: as zonas verdes, com danos mínimos; as zonas amarelas, com danos pesados, mas limitado; e as zonas vermelhas, locais completamente destruídos e impossíveis de se recuperar.
Nestas “zonas rouges”, é estritamente proibido viver, cultivar, criar animais e realizar atividades recreativas, devido à contaminação do solo por produtos químicos tóxicos, como arsênico, chumbo e outros metais pesados. Além disso, são comuns encontrar munições não detonadas.
Para se ter uma ideia do tamanho do estrago da Primeira Guerra Mundial na França, quando forma definidas, em 1919, eram 1.800 quilômetros quadrados, uma área maior que o município de São Paulo, que tem 1.500 quilômetros quadrados. Quase uma década depois, a área foi reduzida para 490 quilômetros quadrados.
Hoje, esta área proibida está toda fragmentada e dividida, mas forma um arquipélago que perpassa do norte ao leste do território francês na fronteira com a Suíça, somando uma área de 100 quilômetros quadrados, do tamanho de Paris.
Na região aconteceu a Batalha de Verdun, em 1916, um dos mais longos combates da 1ª Guerra Mundial, que deixou mais de 1,2 milhão de mortos, feridos, desaparecidos ou capturados.
A França chegou até a instituir, em 1945, o “Department du déminage”, órgão do governo responsável por limpar e reconstruir as áreas atingidas pela guerra. Os franceses estimam que demorará 700 anos para acabar a limpeza e retirar os projéteis e granadas deixados pela 1ª Guerra Mundial.
No entanto, o impacto ambiental será muito mais duradouro. Serão necessários 10 mil anos para eliminar gases, ácidos e outros produtos químicos. Até os vinhos franceses são afetados pelo nível de chumbo transferido da madeira de barris de carvalhos antigos nestas zonas.
No contexto da 1ª Guerra Mundial, a frase A guerra para acabar com todas as guerras foi utilizada para descrever a crença de que o conflito global em larga escala que ocorreu entre 1914 e 1918 seria tão devastador e traumático que acabaria por impedir futuras guerras.
O conflito representou um grande avanço tecnológico, com experimentos e inovações mortais, como gases venenosos, tanques, aviação militar, técnicas de tratamento de feridos em guerra, telefones de campo e telégrafo sem fio. Mas deixou quase 20 milhões de mortes e outros 20 milhões de feridos.
Esta visão idealista sustentava que a terrível carnificina e destruição da Primeira Guerra Mundial serviriam como um alerta final para a humanidade, levando os países a buscar soluções pacíficas para resolver conflitos futuros e, assim, garantir a paz duradoura. No entanto, como sabemos agora, essa esperança foi, em grande parte, ilusória.