Artes/cultura
10/01/2025 às 13:00•3 min de leituraAtualizado em 10/01/2025 às 13:00
A demonologia é o campo da teologia que se dedica ao estudo sistemático dos demônios a partir dos textos bíblicos. E foram os pesquisadores dessa linha que nos revelaram que muitos espíritos tradicionalmente não demoníacos acabaram sendo categorizados como "demônios", simplesmente porque não se encaixavam nos limites das crenças cristãs.
Ainda assim, a Bíblia deixa claro: os demônios seriam os anjos caídos e os espíritos malignos. Embora o livro fundante do cristianismo não dê tantos detalhes sobre eles, há uma série de coisas que podemos aprender sobre demônios a partir das escrituras sagradas.
De acordo com os estudos bíblicos, o mal nasceu em dois contextos: a tentação de Adão no Jardim do Éden, descrita no Gênesis, e a queda do homem descrita no Livro de Enoque, uma obra não contido na Bíblia e atribuída ao bisavô de Noé, Enoque.
Nesses textos, afirma-se que os demônios surgiram como os anjos caídos que se opuseram à vontade de Deus e queriam corromper a humanidade. O Livro de Enoque menciona alguns anjos especificamente pelo nome, como Satanael, Azazel e os arcanjos Miguel e Lúcifer, o último dos quais já foi um dos anjos favoritos de Deus. Lúcifer, junto com alguns outros "anjos caídos", teria se rebelado e travado uma guerra no céu contra os anjos leais de Deus, liderados por Miguel.
No final, os anjos rebeldes foram derrotados e expulsos do céu. Depois disso, alguns foram viver no inferno e outros foram presos. Esta queda é descrita no Apocalipse: "O grande dragão foi lançado para baixo — a antiga serpente chamada diabo, ou Satanás, que engana todo o mundo. Ele foi lançado para a terra, e seus anjos com ele".
Certos estudiosos ficaram tão obcecados pelo tópico dos demônios que se aprofundaram e estabeleceram categorizações. O próprio Livro de Enoque propõe a leitura de que os demônios eram os espíritos desencarnados dos Nefilim, uma prole formada por anjos caídos e mulheres humanas.
O texto os descreve assim: "E agora, os gigantes, que são produzidos a partir dos espíritos e da carne, serão chamados espíritos malignos sobre a terra, e na terra será sua morada. Espíritos malignos procederam de seus corpos; porque eles nasceram de homens e dos santos Vigilantes é seu começo e origem primordial; eles serão espíritos malignos sobre a terra, e espíritos malignos serão chamados".
Há também tentativas de descrições dos demônios na Bíblia. Em Coríntios, lê-se que “até Satanás se disfarça de anjo de luz”, trecho que sugere que os demônios poderiam aparecer aos humanos como anjos para enganá-los.
Já a imagem contida no Livro do Apocalipse é apavorante: "E vi subir do mar uma besta, com dez chifres e sete cabeças, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças nomes de blasfêmia… Então vi subir da terra outra besta; tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro, e falava como um dragão".
Mesmo que os demônios levantados pela demonologia possam parecer assustadores, é importante lembrar que esta área de estudo pode ser entendida como uma investigação teológica de textos cristãos de modo que os crentes possam entender melhor o tema, ao invés de simplesmente se afastarem do conhecimento por medo.
Por fim, um nome muito lembrado no estudo dos demônios é o de Heinrich Cornelius Agrippa, um intelectual polímata e escritor do esoterismo da Renascença. Ele sugeriu que o inferno teria uma hierarquia similar à hierarquia do céu, com demônios designados a papéis específicos.
Ele nomeia alguns demônios que depois se tornaram conhecidos, como Belzebu, também chamado de Senhor das Moscas; Belial, o Instrumento da Iniquidade e da Ira; Asmodeus, que governa os Vingadores da Maldade; e Satanás, o Imitador de Milagres.
Mas há alguns questionamentos em relação à sua categorização. Belzebu, por exemplo, é um nome derivado de um deus filisteu, e alguns outros demônios também foram tirados de religiões pagãs. Há quem afirme que o esforço feito por Agrippa acabou provocando uma confusão e gerando um pânico em relação a coisas consideradas "demoníacas", mas que não eram originalmente associadas ao Diabo pelo Cristianismo.