Ciência
28/08/2018 às 05:08•3 min de leitura
Maria Madalena é uma das personagens mais controversas da Bíblia. Ela é descrita no Novo Testamento como uma das discípulas mais dedicadas de Jesus Cristo e, ao contrário do que muitos acreditam e propagam, em nenhuma passagem do Livro ela é apontada como prostituta — é classificada apenas como pecadora.
Organizada pela Igreja Católica, a Bíblia foi escrita por pessoas que, segundo religiosos, registraram as mensagens de Deus, dentro de suas limitações e sob influência divina. Sendo assim, nem todos os textos foram incluídos nela, e atualmente diversos pesquisadores analisam os chamados Apócrifos do Novo Testamento — material não aprovado no Primeiro Concílio de Niceia, que buscou unificar a Igreja Católica.
Utilizando essas informações como base, a pesquisadora Jennifer Ristine escreveu um livro intitulado “María Magdalena: percepciones desde la antigua Magdala”, lançado em 22 de julho e sem tradução para o português. Nele, a autora busca desvendar o mistério da mulher que foi taxada por séculos pela Igreja como adúltera e prostituta.
Através da integração de referências bíblicas e históricas, com recentes descobertas arqueológicas, Ristine, que é diretora do Instituto Magdalena, conseguiu reconstruir parte do perfil dela. Escavações feitas em Magdala nos anos 1970 já forneciam informações importantes sobre a localidade, que, segundo dados apontam, foi onde Maria Madalena nasceu.
Segundo a pesquisadora, "durante a época de Maria Madalena, Magdala já era uma cidade próspera na indústria de peixes". Contudo, apenas em 2009 foi descoberta a parte norte da cidade, onde existia "uma sinagoga do primeiro século, uma representação do templo de Jerusalém em pedra (a pedra de Magdala), banhos rituais de purificação, casas domésticas e um porto", explicou Ristine.
Os achados arqueológicos de Magdala mostram que a cidade era rica, colaborando com a suposição de que Maria Madalena era uma mulher de posses. Por isso, Ristine acredita que houve muitos mal-entendidos na história dela, pois até mesmo utilizando a própria Bíblia é possível deduzir que ela era "uma mulher rica, de um grupo economicamente bem posicionado", e não necessariamente uma prostituta, segundo a autora.
Como exemplo, nos versos de Lucas VIII:1-3, a ideia é reafirmada: “E aconteceu, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e os doze iam com ele. E algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; E Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com seus bens”.
Reconhecida como Santa, Maria Madalena também foi nomeada em 2016 como apostola apostolurum, ou "o apóstolo dos apóstolos", por ter sido a primeira testemunha da ressurreição de Jesus Cristo. Mas, muito antes disso, no ano 591, o Papa Gregório Magno foi um dos indultores da “prostituta”, dizendo em sua homilia 33 que: "Aquele que o evangelista Lucas chama de mulher pecadora é a Maria dos quais os sete demônios são expulsos e o que esses sete demônios significam, senão todos os vícios".
Movimentos feministas sempre tentaram libertá-la do estigma de ser ou não uma prostituta, mas para Ristine ela foi, acima de tudo, “um modelo de liderança para as mulheres". Segundo a pesquisa que realizou e apresentou em seu livro, Ristine afirma que Maria Madalena foi revolucionária, pois ”era uma mulher influente econômica e socialmente; economicamente porque ela era uma mulher rica, e socialmente porque, apesar de crescer e viver em uma sociedade religiosa rigorosa, ela decide quebrar o molde e seguir Jesus".
Ainda existe muita informação soterrada, já que apenas 15% da cidade foi escavada e se tornou disponível para pesquisas como essa. Futuros achados arqueológicos podem revelar outros detalhes que esclareçam cada vez mais a posição de Maria Madalena na sociedade da época, elucidando fatos sobre uma das personagens mais importantes e misteriosas dos Evangelhos.
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