Ciência
05/02/2019 às 04:30•3 min de leitura
Mesmo quem não segue nenhuma religião especificamente – ou inclusive é ateu – sabe quem é Satanás, a figura bíblica que representa o mal. Mas, e sobre a origem desse personagem maligno, o que se sabe a respeito de como a sua história surgiu e se estabeleceu, e de como ele acabou se transformando nessa perversa entidade que todo mundo conhece e muitos temem?
De acordo com Laura Geggel, do site Live Science, não é de hoje que o embate entre o bem e o mal existe, e foi na Antiguidade que diferentes culturas começaram a criar antagonistas no intuito de explicar a presença dessas duas forças no mundo. Na realidade, a figura para representar a maldade aparentemente nasceu da ideia de que um Deus “bom” não poderia ser responsável pelas coisas ruins e negativas que aconteciam e, a partir daí, foram aparecendo os demais elementos dessa guerra entre rivais.
(Aleteia/Shutterstock)
Segundo Laura, o zoroastrismo, uma das mais antigas religiões do planeta, foi uma das crenças que primeiro introduziu figuras que representavam o conflito entre o bem e o mal. Eram eles Ahriman, um espírito destrutivo e caótico, e Spenta Mainyu, seu benevolente e harmônico gêmeo, ambos criados pela divindade suprema, Ormazd.
Já no judaísmo, com quem o cristianismo guarda uma forte relação e com quem compartilha o Velho Testamento, há alguns personagens malignos nas Sagradas Escrituras, mas, curiosamente, Satanás não é o mais sinistro deles, muito menos o mais popular. Contudo, algumas seitas judaicas começaram a incorporar a figura do Maligno em suas crenças, isso por volta do século 1, mas mantendo a noção de que Deus e o bem tinham mais poder do que Satanás e o mal.
Mais especificamente, os primeiros integrantes de uma fé judaico-cristã a estudar a figura de Satanás foram os seguidores do judaísmo hassídico, um movimento religioso que surgiu um pouco antes da época de Cristo e que provavelmente teve forte influência no cristianismo. Esse grupo era contrário à ocupação romana na Judeia na época, e se distanciou de outros movimentos judaicos por discordar de como a sua terra vinha sendo governada.
Os hassídicos, então, acabaram adotando uma posição de “filhos de Deus” contra os “filhos da escuridão”, e começaram a pregar sobre o fim dos tempos, quando Deus viria para castigar e destruir os maus – que, no caso, eram todos aqueles aos quais os integrantes do movimento eram contrários, ou seja, os romanos e os judeus que faziam alianças com eles.
De acordo com Laura, a personificação do mal aparece nas Sagradas Escrituras na forma de uma entidade que surge para tentar a Jesus, e a explicação para a sua presença está na ideia de que, se Deus criou tudo o que existe e tudo o que Ele cria deve ser bom, então, Satanás só pode ser algo que foi criado pelo Todo Poderoso como algo bom, mas que, por alguma razão, se desvirtuou e se desviou para o lado negro da força.
(Beliefnet/Shutterstock)
E mais: a interpretação proposta pelos teólogos é a de que, como já havia mal no mundo antes de Deus criar o homem – você se lembra da passagem de Adão, Eva e a Serpente, certo? –, isso significa que Satanás devia ser uma entidade livre e do bem que se tornou má, sendo assim, ele deve ter sido um anjo caído.
Todo mundo conhece aquela história de que Satanás teria “caído” do céu, né? Segundo a interpretação mais aceita, depois de criar o dia e a noite, Deus deu origem ao céu e aos seus mensageiros, os anjos – e, entre eles, Lúcifer se destacava por sua extraordinária beleza. Só que Lúcifer, acreditando ser igual ou até mais poderoso do que o Criador, decidiu organizar uma rebelião e chegou a convencer uma galera no paraíso a lutar ao seu lado.
(Wikimedia Commons/Corrado Giaquinto)
Acontece que a turminha de Lúcifer – que se converteu em um terrível dragão para a batalha – não conseguiu derrotar as forças de Deus. Assim, os anjos rebeldes foram condenados a arder no fogo por toda a eternidade e Lúcifer foi transformado em Satanás. Furioso, ele prometeu que se vingaria do Criador destruindo os humanos, se disfarçou de serpente, convenceu Eva a provar e dividir o fruto proibido com Adão, e ambos acabaram expulsos do paraíso.
Vale lembrar que, segundo pesquisadores, na verdade, a passagem que se refere a Lúcifer como um “anjo caído” apresenta um erro de tradução do termo “filho da manhã”, que se refere ao planeta Vênus e a sua movimentação no céu noturno. Quem teria “caído” nessa história toda foi o rei babilônio Nabucodonosor, e a passagem faria referência à sua morte.
(My Jewish Learning)
Além disso, em nenhum momento o livro do Gênesis se refere à serpente como sendo Satanás, e é só no livro de Paulo, no Novo Testamento, que essa relação entre as duas entidades é criada. Existem outras referências a Satanás na Bíblia, mas, dependendo da interpretação, mais do representar um personagem específico ou um anjo caído, essa figura do mal muitas vezes se refere a pessoas que desrespeitaram a Deus com suas atitudes e ações.
Nesse sentido, segundo Laura, estudiosos propõem que o conceito de Satanás parece surgir quando ocorrem desacordos sérios – como o que aconteceu entre os hassídicos e os demais judeus – e os grupos passam a se referir aos oponentes como aqueles que terão que enfrentara ira de Deus um dia, como Satanás. Em outras palavras, embora com o tempo a figura do mal tenha se transformado em um personagem assustador e de aparência horrenda, basicamente, Satanás nasceu como uma “ideia”, um conceito usado para representar o que quer que fosse muito ruim.