Estilo de vida
10/02/2020 às 10:43•6 min de leitura
O Carnaval carioca é uma festa popular mundialmente famosa, atraindo todos anos uma multidão de turistas brasileiros e estrangeiros que desejam acompanhar os desfiles das escolas de sambas, participar dos blocos de ruas, bailes e das festas super badaladas que ocorrem na Cidade Maravilhosa. Mas vocês sabem como tudo isso começou?
Além das famosas origens do Carnaval, com inspirações em comemorações pagãs de diversas culturas que depois foram “cristianizadas” pela Igreja Católica, a celebração no Rio de Janeiro também foi muito influenciada pelos portugueses. No livro O Homem e a Guanabara, o autor Alberto Ribeiro Lamego escreveu acreditar que as origens da festa carioca vêm de costumes lusitanos que comemoravam também a Restauração de Portugal. Nelas, eram realizadas passeatas a caráter que contavam até com a presença do governador, seguidas de simulações de combates, corrida de touros e cavalhadas.
As Cavalhadas eram um tipo de festa que representava a luta entre mouros e cristãos pela reconquista da Península Ibérica. Cavaleiros com cavalos ornamentados, sendo 12 para os mouros e 12 representando cristãos, encenavam as batalhas travadas na Idade Média.
Lamego acreditava que a origem do Carnaval carioca vinha destas lembranças que homenageavam tempos heroicos antigos e mesmo não sendo mais tão comuns em muitos lugares, as Cavalhadas ainda acontecem em algumas cidades no interior do nosso país.
Outra celebração portuguesa que serviu de inspiração para a data foi o entrudo. Nele, foliões fantasiados dançam e jogam limões de cheiro, que eram bolas de cera cheias de água perfumada, além de farinha e água nos outros participantes (não lembra muito as famosas bexigas cheias de água e os sprays de espuma que as crianças costumam usar nessa época?).
A prática era tão popular que chegava a servir como renda extra para muitas famílias e até a realeza era adepta da brincadeira. Com o tempo, o entrudo passou a ser abolido por ser considerado muito violento.
Em 1840, enquanto o entrudo rolava nas ruas, a alta sociedade carioca começou a realizar os primeiros bailes de carnaval no Rio de Janeiro. Eles ocorreram primeiramente em hotéis e depois foram para os teatros existentes na época do Brasil Imperial. Sua inspiração vinha dos bailes da Europa, sendo regados com muita bebida e comida. As músicas apresentavam ritmos tipicamente europeus, como a valsa e a quadrilha. As máscaras e fantasias utilizadas nestas ocasiões também se baseavam nas utilizadas nas potências europeias, e foram introduzidas pelos portugueses.
Os europeus trouxeram para o Carnaval carioca os bailes de máscaras e fantasias. Mas também existe uma forte influência africana na celebração, provinda dos escravos que os portugueses trouxeram da África. Os negros escravizados tinham o costume de usar máscaras e fantasias feitas de penas, ossos, grama e outros elementos para invocarem seus deuses e afastarem maus espíritos. Com o tempo, isso se tornou parte da cultura local e podemos ver sua presença nos enfeites das fantasias atuais usadas nas comemorações no Rio de Janeiro e em outros locais brasileiros.
Hoje em dia, não se fala em Carnaval no Brasil sem se falar de samba. O ritmo nasceu no oeste africano e era uma forma de consolo para os escravos em momentos de muito sofrimento. Com a abolição da escravatura, muitos dos libertos se estabeleceram em lugares como a Cidade Nova e a Praça Onze, que se tornaram grandes centros desse estilo musical.
Com a popularização do samba, compositores, músicos e passistas passaram a se reunir com regularidade para exibir seus talentos, formando posteriormente clubes e associações que competiam uns contra os outros.
No final do século XIX, as manifestações do Carnaval foram ganhando novas formas e expressões, e com elas surgiram os primeiros cordões e os ranchos carnavalescos cariocas, que tinham como base muitos elementos da cultura negra. Essas duas formas de celebração serviram como base para os blocos de carnaval e as escolas de samba da cidade.
Os cordões recebiam este nome por seus participantes andarem em fila, cantando e dançando um atrás do outro. Os foliões se fantasiavam de palhaços, diabos, baianas, índios, morcegos e outros personagens e, ao que parece, alguns cordões escolhiam um tema para a fantasia de todo o grupo. Os participantes eram conduzidos por um mestre que usava um apito como comando. O som ficava por conta de um grupo que contava apenas com instrumentos de percussão.
Os cordões ficaram famosos a partir de 1902 e cerca de 200 foram licenciados pela polícia da capital do estado. A criatividade brasileira já estava presente desde aquela época, com alguns recebendo nomes como "Destemidos do Catete" e "Triunfo da Glória". Em 1906, o jornal Gazeta de Notícias organizou o primeiro concurso de cordões da cidade.
Em 1911, os cordões passaram a entrar em declínio, com os ranchos ganhando mais importância. Porém, em 1918, surgiu o famoso Cordão do Bola Preta, que mesmo não sendo considerado por muitos como um cordão de verdade, tinha como missão revigorar e reviver as tradições desse tipo de manifestação que estava desaparecendo. O Bola Preta existe até hoje, sendo o bloco mais antigo do Rio de Janeiro.
Já os ranchos eram formas de cordões mais organizados e luxuosos. Eles utilizavam violões, cavaquinhos, flautas e clarinetas para embalar seus mestres-salas, como uma espécie de ala coreografada.
Em 1928, a primeira escola carioca de samba, a Deixa Falar, foi fundada no bairro de Estácio, no centro do Rio de Janeiro. Com o passar dos anos, novas escolas foram surgindo e a competição entre elas ocorria na Praça Onze.
Porém, elas só passaram a ser oficialmente reconhecidas em 1935, entrando de vez para a programação turística oficial da cidade e desfilando pela Avenida Rio Branco. O sucesso das escolas levou o Departamento de Turismo do Rio a construir arquibancadas e implementar a venda de ingressos em 1962, e 22 anos depois, o famoso Sambódromo carioca foi inaugurado.
O espaço foi um projeto do famoso arquiteto Oscar Niemeyer e possui 85 mil metros quadrados. Desde então, as competições do grupo especial e dos grupos de acesso das escolas de samba do Rio de Janeiro acontecem ali.
Como já mencionamos no começo da matéria, o Rio de Janeiro é uma das localidades mais badaladas para o feriado de Carnaval. O estado conta com várias formas de diversão, principalmente na capital, e a variedade de eventos promete agradar todos os públicos.
Lembrando sempre que existem vários acontecimentos pré-carnavalescos que rolam por toda a cidade do Rio antes da data oficial, então, se estiver por lá nesse período, não deixe de aproveitar a chance de curtir alguns deles!
Antes da festa oficial começar, uma boa ideia é curtir o Terreirão do Samba, um espaço ao ar livre que traz de volta a atmosfera de como tudo começou na Praça Onze. O local é considerado por alguns historiadores como o berço do ritmo no Rio de Janeiro e fica perto do Sambódromo.
Ele foi criado por Tia Ciata (uma figura muito importante na história da cidade, que possui fortes ligações com a cultura afro religiosa), seus seguidores, amigos e companheiros de religião. O local possui um ambiente descontraído e sua programação variada inclui atrações todas as noites.
Mas quando a festa oficialmente começar, no Sambódromo, estão programados quatro desfiles diferentes.
Na sexta-feira e sábado, 21 e 22 de fevereiro, é dia das escolas de samba do Grupo Série A mostrarem o que prepararam para este ano. O legal é que a vencedora entre as 14 concorrentes terá a chance de desfilar no Grupo Especial em 2021!
No domingo e na segunda-feira, dias 23 e 24 de fevereiro, as escolas de samba do Grupo Especial farão o seu desfile. Ele é um dos destaques do Carnaval na cidade, o que torna essas duas noites muito importantes.
O dia 25 de fevereiro, terça-feira de carnaval, é reservado para as escolas de samba mirins. É momento para ver as próximas gerações mostrando seu talento e aproveitando o espírito da folia. O legal é que, para participarem, todos os pequenos devem comprovar que estão matriculados na escola, pois é feito um trabalho social muito interessante dentro das comunidades ao longo do ano, com o combate à evasão escolar sendo um grande foco. Como prêmio pelo ano de estudos, os jovens sambistas podem desfilar pelas suas respectivas "escolinhas de samba".
No sábado seguinte, 29 de fevereiro, ocorre o Desfile das Campeãs, que são as seis primeiras colocadas do Grupo Especial, mostrando todo seu esplendor novamente, com direito a fogos de artifício e muita felicidade.
É óbvio que algumas tradições nunca morrem e a Cidade Maravilhosa não deixou de oferecer diversos bailes que acontecem antes e na época do carnaval. Normalmente, os preços dos ingressos são bem acessíveis e ocorrem em lugares fáceis de chegar. A exceção é o famoso evento no hotel Copacabana Palace, o mais luxuoso da cidade. Ele é voltado para aqueles que querem curtir a data sem abrir mão da sofisticação. Para participar, o traje obrigatório é black-tie ou fantasia de luxo. Entre os participantes, é possível encontrar personalidades famosas locais e internacionais.
Mas se quiser algo menos sofisticado e igualmente divertido, locais como o Clube dos Caiçaras e o Hard Rock Café também organizam bailes super animados para adultos e crianças.
Na maioria desses eventos, não é obrigatório usar fantasia e eles sempre pedem que as pessoas usem roupas confortáveis e adequadas ao calor que faz na cidade durante o Carnaval.
A Lapa, talvez por ser o bairro mais eclético da cidade, apresenta durante o feriado um verdadeiro festival de música experimental no qual o público pode conhecer novos ritmos e estilos, mas o samba também estará presente todos os dias. A melhor parte é que o evento, além de muito divertido, é gratuito. As celebrações vão rolar de sexta à terça, 21 a 25 de fevereiro, começando às 20h e terminando só quando o último folião for para casa!
Já as festas de rua começam como eventos pré-carnavalescos e duram até a terça-feira de Carnaval. São sempre muito alegres e espontâneas, sendo a maior e mais organizada a que ocorre na praça da Cinelândia. Bares e calçadas viram ponto de encontro entre amigos, e a descontração e diversão são garantidas até o último participante.