Bomba de Hiroshima completa 75 anos e ameaça nuclear ainda assombra

06/08/2020 às 02:003 min de leitura

Esta quinta-feira, 5 de agosto, marca os 75 anos de um dos atos mais brutais da história da humanidade: a explosão da primeira bomba atômica do mundo, determinada pelo governo dos Estados Unidos sobre a cidade de Hiroshima, no Japão, seguida de outra detonação três dias depois de outra bomba em Nagasaki, vaporizando vidas, construções e um pouco da dignidade humana.

A cidade foi arrasada e cerca de 40% dos seus 350 mil habitantes morreram, metade deles incinerados instantaneamente. O ataque aconteceu às 8h15 do dia 6 de agosto de 1945, e marcou uma nova forma com a qual as guerras passariam a ser pensadas pelas grandes potências desde então.

Hiroshima, harmonia e beleza

Hiroshima antes da bomba (Fonte: U. S. National Archives/Reprodução)Hiroshima antes da bomba (Fonte: U. S. National Archives/Reprodução)

Nomeada a partir da confluência de duas palavras, hiroshi que significa "aquele que tem harmonia e beleza em torno de si" e shima, ilhas, Hiroshima talvez tenha recebido esse nome em virtude do Ota-gawa, rio que banha a cidade, dividi-la em pequenas "ilhas" formadas pelos seus seis canais.

Imagens de arquivo revelam uma Hiroshima pré-bomba como uma cidade bela, movimentada e próspera, com bicicletas, riquixás, homens de terno embarcando em bondes, mulheres em elegantes quimonos e crianças uniformizadas indo para escola rindo e brincando sob a sombra das cerejeiras. 

Após a queda da Little Boy (Garotinho), nome irônica ou perversamente atribuído à bomba, os escombros e o metal contorcido das construções se espalharam por uma paisagem desolada e sem vida. Postes sem fios e árvores sem folhas se juntaram a alguns edifícios sem janelas que teimosamente permaneceram de pé.

A celebração

Celebração do 74º aniversário do bombardeio (Fonte: Asahi Shimbun/Getty Images - Reprodução)Celebração do 74º aniversário do bombardeio (Fonte: Asahi Shimbun/Getty Images - Reprodução)

O governo do Japão já anunciou que irá celebrar o 75º aniversário do bombardeio das duas cidades de forma discreta neste ano devido à pandemia da covid-19, com uma quantidade menor de assentos e mensagens de autoridades transmitidas por vídeo.

No ano passado, o primeiro-ministro Shinzo Abe e os prefeitos das cidades participaram das celebrações anuais com homenagens aos mortos e promessas renovadas por um planeta livre de armas nucleares. Como acontece anualmente, os sinos tocaram e um minuto de silêncio foi observado no exato momento em que as bombas apagaram as duas cidades.

A comemoração é realizada debaixo da estrutura de um domo de ferro destruído de um antigo centro de exposições, hoje conhecido como Domo da Bomba Atômica. Em torno do local, ainda são visíveis os resquícios da destruição. Sobretudo, é impressionante reparar no rastro do horror atômico em contraste com a beleza reconstruída pela resiliência dos japoneses.

Filme Hiroshima de Kaneto Shindo (Fonte: Criterion/Divulgação)Filme Hiroshima de Kaneto Shindo (Fonte: Criterion/Divulgação)

Uma nova maneira de ver a guerra

Quando se analisam os mortos nos dois ataques a bomba no Japão, o que se percebe é que apenas 10% daquelas pessoas eram militares — quase todos de Hiroshima, onde funcionava uma fábrica de munições localizada fora da cidade.

Ao tentar "justificar" as bombas, o argumento normalmente usado é o de que uma eventual invasão ao arquipélago poderia causar a perda de 1 milhão de vidas de soldados americanos e talvez de até 10 milhões de japoneses. No entanto, essa contabilidade, embora possível, é pouco provável.   

A liberação de arquivos militares americanos da época da guerra mostra que a cidade de Hiroshima, até então poupada por bombardeios, foi escolhida para receber a primeira bomba nuclear da história apenas pelo tamanho da sua população, a segunda maior do Japão na época. 

Ao que parece, a intenção dos militares americanos, além do impacto psicológico, era poder mensurar o poder de destruição da nova arma lançada do avião "superfortaleza" Boeing B-29, batizado de Enola Gay, nome da mãe do piloto, o coronel Paul Tibbets. 

O mundo pós-bomba

 Desfile militar na Coreia do Norte (Fonte: Damir Sagolj/Reuters - Reprodução) Desfile militar na Coreia do Norte (Fonte: Damir Sagolj/Reuters - Reprodução)

No dia 1º de julho de 1968, foi assinado em Nova York o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) que, por ter vigorado a partir de 1970, completou em março passado 60 anos, contando com 191 signatários. Em 2017, outro tratado, mais radical, foi assinado por 81 países: o Tratado de Proibição de Armas Nucleares.

Esse último, para entrar em vigor, depende da ratificação dos parlamentos de 50 países, mas até agora apenas 14 o fizeram, e os demais, aí incluído o Brasil, ainda não se manifestaram. 

Com ou sem ratificações, ainda temos, ao celebrar o 75º aniversário da bomba de Hiroshima, 3.720 ogivas nucleares prontas para serem usadas no mundo, sendo 1.800 classificadas como alerta máximo, o que significa que poderiam ser disparadas instantaneamente.

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