Estilo de vida
11/10/2020 às 06:00•3 min de leitura
Nefertiti, a renomada esposa do faraó Aquenáton, reinou ao lado de seu marido no Egito Antigo durante o que foi considerado um período de muita agitação cultural, ajudando a restaurar o foco político e religioso da nação. Mas no 12º ano de um governo que durou 17, a rainha simplesmente desapareceu sem deixar rastros, um mistério que confunde historiadores até hoje.
Pouco se sabe sobre suas origens, mas alguns estudiosos acreditam que ela pode ter nascido por volta de 1370 a.C. e tenha vivido inicialmente na cidade de Akhmin sob a tutela de um oficial chamado Ay, que era seu pai ou tio. O homem servia como um conselheiro importante até se tornar faraó quando o antecessor faleceu em 1323 a.C.
Outra crença popular é que a futura rainha era uma princesa nascida do Reino de Mittani, no norte da Síria e era devota do deus egípcio do Sol, Aton.
Mesmo com sua infância sendo pouco conhecida, sabe-se que Nefertiti se casou com Amenhotep IV quando ela tinha 15 anos. O príncipe era filho de Amenhotep III, o nono faraó da 18ª Dinastia que venerava principalmente Amon, divindade do Sol e do ar. Inclusive, os seguidores do deus eram tão poderosos e ricos que tinham até o poder de desafiar seu líder de Estado na época que o casal ascendeu ao trono.
Ao assumirem o governo do Egito Antigo em um período cerca de 1353 a.C., os dois passaram a realizar grandes modificações na sociedade através da interrupção de práticas religiosas populares na época, fechando templos e removendo o poder do culto de Amon para favorecer Aton.
Amenhotep IV chegou até mesmo a profanar o nome e imagens da divindade cultuada, além de construir uma série de templos para o deus favorito de sua esposa em Karnak, próximo de Luxor, logo no primeiro ano de reinado.
Segundo o egiptólogo James Allen, o faraó tentou até mudar a cultura politeísta para monoteísta, provavelmente como uma forma de centralizar o poder apenas entre ele e a esposa.
Então, no seu quinto ano governando, Amenhotep IV troca seu nome para Aquenáton, que significaria “espírito vivo de Aton”, enquanto a rainha passa a ser Neferneferuaten, que pode ser traduzido como “lindas são as belezas de Aton, uma bela mulher chegou”.
Além disso, o casal sai de Tebas, trocando o centro de poder da nação para Amarna, para ficarem mais perto do Sol.
Uma das suposições é que Nefertiti não tenha desaparecido, mas sim assumido a figura de Aquenáton em algum momento. Esta ideia é baseada no fato de que imagens de faraós anteriores foram eliminadas, e as representações do “espírito vivo” tinham quadris e características muito femininas, com as estátuas do casal progredindo lentamente até um ponto no qual se tornaram indistinguíveis.
As paredes dos templos e tumbas construídas durante o governo de Aquenáton apresentam a rainha com tanta frequência ao lado do marido que egiptólogos e historiadores creem que os dois governaram juntos, pois nenhuma outra esposa real egípcia foi tão retratada junto de seu companheiro quanto ela, aparecendo em cenas de batalha, liderando o culto a Aton e até usando a coroa de faraó em várias obras.
Mas após 12 anos liderando o Egito, Nefertiti desapareceu por completo de qualquer representação artística. Isso pode significar apenas que ela morreu, mas muitos pesquisadores acreditam que ela tenha enganado o público e passado a se vestir como o marido ao receber o status de corregente. Ou até mesmo governado sozinha, disfarçada como o sucessor Smenkhkare. Entretanto, não existem evidências que comprovem estas teorias.
Outras possibilidades incluem expulsão do país quando a adoração a Amon-Ra foi reintroduzida com o fim do governo de Aquenáton, ter sido banida pelo próprio cônjuge por ser incapaz de gerar um filho e até mesmo suicídio após Mekitaten, sua filha de 13 anos, ter morrido durante o parto. Mas novamente, não há provas para qualquer uma dessas ideias.
Em 2015, o egiptólogo Nicholas Reeves e o arqueólogo Mamdouh Eldamaty encontraram o que acreditam ser uma porta oculta dentro da tumba de Tutancâmon. A área apresentou anomalias estruturais que sugerem uma sala secreta que pode ser o local de descanso de Nefertiti.
E em fevereiro deste ano, um estudo publicado na revista Nature continha uma pesquisa promissora por radar de penetração no solo (GPR) em torno da construção, com as descobertas apoiando a teoria de Reeves de que existe uma câmara maior escondida ali.
O potencial de salas adicionais escondidas no palácio final de Tutancâmon já foi parte de muitos debates por décadas, com alguns estudiosos rejeitando esta noção completamente enquanto outros chegaram até a contratar empresas particulares para investigar. Entretanto, até o momento, a estrutura ainda não foi aberta e nada pode ser afirmado com certeza.
Mas a verdade é que o busto de Nefertiti é uma das obras mais copiadas do Egito Antigo, e seu legado de poder e beleza é inesquecível, perdurando sua fama milênios após seu desaparecimento misterioso.